A carta abaixo, de Miruna Genoíno, é um testemunho lindíssimo sobre solidariedade e sobre o bem que ela pode trazer ao mundo. É um documento de inocência ainda mais emocionante por vir de um espírito tão atormentado, de uma filha que vê o pai sendo massacrado por uma mídia e um Judiciário corrompidos pelos interesses baixos da política. Por um momento, todos fomos Miruna, porque – como no poema de John Donne – nenhum homem é uma ilha.
“Cada homem é uma partícula de um continente, uma parte da terra. Se um torrão desta terra é arrastado para o mar, o continente fica diminuído, como se fosse a casa de teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano”.
Por isso, Miruna, não precisa agradecer. Não pergunte por quem os sinam dobram. Eles não dobram apenas para seu pai, o nobre Genoíno, nem por todos os heróis que lutaram na ditadura e na democracia contra as arbitrariedades. Os sinos dobram por ti, Miruna. Os sinos dobram por todos nós. Esssa pequena vitória de sua família, é também nossa.
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A VIDA E SUAS ESCOLHAS
Será que eu teria tido coragem de lutar como eles lutaram?
Alcançamos o valor da multa em dez dias de campanha familiar. Essa é uma vitória que tem um significado enorme dentro de nossa incansável luta em busca de verdadeira justiça para José Genoino
por Miruna Kayano Genoino, especial para Rede Brasil Atual publicado 20/01/2014 01:16, última modificação 20/01/2014 01:38
Brasília – Quando eu tinha por volta de 13, 14 anos, comecei a ter consciência de tudo o que meu pai e minha mãe tinham feito na época da ditadura. Abriram mão de família, amigos, conforto, estabilidade e entraram em clandestinidade, fuga, medo, prisão e tortura porque não duvidaram um minuto sobre de que lado estavam: o de quem lutava pela liberdade para todos. Apesar de ser para mim claro o fato de que tinham lutado por algo sem dúvida muito importante, sempre me vinha à mente uma pergunta: será que se eu vivesse naquela época, teria tido coragem de fazer tudo isso? Será que eu teria tido essa força? Será?
Hoje percebo que em alguns momentos da vida não temos escolha quanto a tomar essa ou aquela decisão, quando tudo em que acreditamos está em risco, seja, como naquela época, a liberdade, seja, como agora, a justiça para uma pessoa honesta, como meu amado pai, José Genoino Neto. Ao longo de mais de oito anos de martírio e sofrimento, foram muitas as situações de desespero, de angústia e de muita, muita solidão.
E por isso, quando de repente percebemos pequenos espaços de luz e força que vão se abrindo e se construindo por meio de atitudes generosas de tantas pessoas, o alívio e a emoção são sentimentos que ocupam totalmente tudo aquilo que pensamos e vemos acontecer nessa trilha tão difícil que temos percorrido nos últimos tempos.
Gostaria de mencionar uma grande amiga que no dia 15 de novembro levou meus filhos para passear, dispondo de seu tempo para nos ajudar a lidar com toda a perseguição que estávamos sofrendo na casa sitiada pela mídia. Com seu pequeno gesto, poupou duas crianças de 7 e de 5 anos, de presenciar o momento em que o avô saiu de casa para ser preso injustamente.
Aquele gesto, de dar carinho e acolhimento para meus filhos, quando eu apenas podia ser filha, e não mãe, vai marcar sempre minha vida e meu coração, porque mostra que mesmo em meio a tanta desgraça, sempre existe o lado da humanidade pura, bondosa, generosa, e capaz de acolher, verdadeiramente.
Esse gesto pequeno, individual, pode ser comparado ao que estamos vivendo agora, com a multa imposta a meu pai em decorrência de sua condenação injusta. No primeiro momento de desespero, pelo valor solicitado, tão enormemente distante de nossas possibilidades, já surgia um primeiro site que se dispôs a unir muita gente e assim iniciar uma primeira arrecadação para meu pai. E ainda que aquele site não tenha seguido em frente por questões técnicas, acredito profundamente que foi uma ação que nos deu força para prepararmos o segundo site que possibilitou a arrecadação do valor total da multa.
Foram muitas doações, muitas. Pessoas que dedicaram parte de seu tempo para enviar a nós R$ 10, R$ 20, R$ 50, R$ 100 reais, às vezes mais, R$ 1.000, R$ 5.000… e mensagens, muitas mensagens, de carinho e solidariedade.
Aposentados, desempregados, professores, advogados, secretárias, jornalistas, dentistas, bordadeiras, gente, muita gente, que quis de alguma maneira, mostrar que estão conosco, que sabem que apenas assim poderíamos pagar esta enorme multa, porque José Genoino nunca acumulou riqueza material, nunca, ainda que alguns tenham tido coragem de condená-lo por corrupção. Sua riqueza é apenas de ideias, de sonhos, de esperança, de verdade e de justiça – que um dia, de alguma forma, acreditamos que chegará.
Essa campanha foi criada pela mulher e pelos filhos de José Genoino. Nós mesmos elaboramos e escrevemos cada uma das palavras que aparecem no site. Nós mesmos mandamos os e-mails a amigos e familiares contando sobre o início desse pedido de ajuda. Nós mesmos fomos em busca de tentar compreender e organizar toda a burocracia necessária para que tal arrecadação desse certo.
E com a ajuda de amigos queridos, que nunca deixaremos de agradecer, fomos lendo os e-mails um a um, cadastrando cada pessoa, respondendo cada mensagem, ainda que, pela forma familiar de ação, esteja acontecendo em uma velocidade nem sempre compreendida por um mundo sempre recheado de grandes grupos administrando eficazmente grandes gestões e situações. Nossa resposta não é automática, mas sim manual, e foi feita por outras tantas pessoas especiais que também dedicaram seu tempo e sua alma, para permitir que a campanha funcionasse.
Alcançamos o valor da multa em dez dias de campanha familiar. Essa é uma vitória que tem um significado enorme dentro de nossa incansável luta em busca de verdadeira justiça para José Genoino. Em nome dele, que está impedido de falar publicamente, precisamos agradecer com toda a intensidade possível a todas essas pessoas que tornaram esse momento de vitória possível.
A você, que contribuiu. A você que divulgou o site. A você que respondeu os emails. A você que nos informou. A você que escreveu honestamente sobre nós. A você que são tantos vocês, nosso agradecimento por não terem tido nenhuma dúvida de que sim, quando chega o momento de dificuldade, vocês são daquele grupo de pessoas que têm coragem de lutar por algo que é verdadeiro e no qual acreditam. De verdade.
Obrigado, sempre.
Miruna Genoino, em nome da família Genoino
Brasília, 19 de janeiro de 2014
(Observação: Em breve divulgaremos o total arrecadado e as resoluções práticas quanto a possíveis excedentes.)
Nota da Redação: Nos últimos dez dias, Miruna Kayano Genoino, junto com os irmãos Ronan e Mariana, a mãe Rioco Kayano e um grupo de apoiadores, mantiveram uma mobilização para arrecadar recursos e poder pagar dentro do prazo, que expira nesta segunda (20), a multa de R$ 667 mil determinada pelo Supremo Tribunal Federal, como parte da condenação na Ação Penal 470. A defesa do ex-deputado considerou o valor injustificável e passível de contestação. A família, com apoio de amigos e do Partido dos Trabalhadores, conseguiu alcançar no último sábado o valor necessário para cumprir a determinação. O feito tem forte significado político, ao demonstrar o representativo contingente de pessoas que contestam a forma e o conteúdo do julgamento STF. No ano passado, quase 22 mil pessoas haviam assinado a carta de solidariedade intitulada Estamos Aqui, com o mesmo objetivo. E na noite deste domingo Miruna enviou à RBA este artigo-agradecimento.
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A verdade vai prevalecer e os seu detratores serão punidos com o justiça do homem, ou se não a divina, que não falha.
Parabéns Miruna, você uma incansável guerreira, todo pai gostaria de ter uma filha como você.
É enriquecedor ler e participar da reflexão do Brito e das palavras de Miruna. Que é um fato político não há nenhuma sombra de dúvida. Marcado inclusive pelas palavras de Miruna "(...) para nos ajudar a lidar com toda a perseguição que estávamos sofrendo na casa sitiada pela mídia." A mesma que deu apoio e enriqueceu durante a ditadura militar, a mesma que recentemente confessou (mas nem tão convicta assim) o apoio dado e pediu desculpas à sociedade. Como a gente pode desculpar um reincidente no ato de perseguir pessoas, de destruir reputações e de tentar o golpe institucional contra o país para atender tão somente aos próprios interesses financeiros e de poder?
Diante de tanta iniqüidade praticada pelos PiG, ministros do stf e pgrs que tanto afetaram a vida de Geniono, e seus familiares, nossa contribuição teve o valor simbólico para demonstrar o apreço que temos por vocês e que conhecemos José Genoino como herói da luta contra a ditadura, de vida exemplar como parlamentar e chefe de família. Quisera ter sua disposição de luta que Genoino sempre nos mostrou. História não reserva aos seus algozes nenhuma memória a ser valorizada.
Desculpa. Corrigindo em tempo: da reflexão do Miguel do Rosário e das palavras de Miruna.
bravos miruna e miguel do rosário,
esse gesto de solidariedade ao genoíno, herói de nosso tempo, foi o gatilho que faltava para detonar a armação do stf.
quem viver, verá.
abçs
Saiu na capa da Folha (*):
“DOCUMENTO DA ALSTOM REVELA LISTA DE SUBORNOS – PROPINA POR CONTRATO DE R$ 52 MILHÕES INCLUI SECRETARIA E ESTATAL DA GESTÃO COVAS”
Reportagem de Mario Cesar Carvalho e Flavio Ferreira mostra que a Alstom da França pagou em 1998 uma propina à Secretaria de Energia para aprovar um aditivo de R$ 52 numa obra do metrô.
(E os paulistanos pensam que a culpa do engarrafamento no trânsito é do Haddad.)
A Secretaria de Energia recebeu 3% do contrato.
E quem era o Secretário de Energia em abril de 1998 ?
Andrea Matarazzo.
Matarazzo é o “Conde”, pág 404 do livro-bomba “Operação Banqueiro”, de Rubens Valente.
Ele aparece nos 1.800 e-mails do lobista de Daniel Dantas, Roberto Amaral, com o codinome “Conde”.
“TH” e “Pessoa” são o Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Catão de Higienópolis, e “Niger” e “candidato” são o Padim Pade Cerra.
(A preciosa carga de material apreendido de Roberto Amaral faz parte do tesouro da Operação Satiagraha que o Presidente Barbosa está por legitimar.)
O “Conde” surge no contexto de edificantes pressões de Dantas sobre o Governo para administrar os fundos de pensão para continuar a mandar na Brasil Telecom – sem por um tusta.
O “Conde” foi Ministro da Comunicação Social do Governo do Príncipe da Privataria, nos bons tempos em que a Globo nadava de braçada …
Era BV pra lá, BV pra cá …
(Como hoje ainda, amigo navegante ?)
O Príncipe da Privataria nomeou o “Conde” embaixador do Brasil na Itália.
O “Conde” foi candidato a prefeito para esquentar o lugar até que o Padim Pade Cerra embrulhasse o PSDB e saísse candidato (e perder para o “poste”, o Haddad).
O “Conde” é da mais alta aristocracia tucana de São Paulo.
“Conde” dá atualidade à denúncia da Folha: não se trata de um longínquo episódio da pré-história tucana de São Paulo.
O “Conde” está aí, hoje, na Câmara dos Vereadores, depois de enobrecedora gestão numa das sub-prefeituras do vice do Cerra, o Kassab.
Por falar nisso, o vice do Cerra também anda em com falta de ar – puro.
Assim como, no trensalão, a Siemens chega mais perto dos dias que correm, sob as suspeitas do Procurador Geral, Janot.
Roda, roda, roda e a bola bate na trave do Cerra.
Agora, a bola entra mesmo no gol do Cerra com a Privataria Tucana, do Amaury Ribeiro Jr.
Ali, o clã Cerra, o Príncipe de Privataria e o Banqueiro da Operação se banham nas águas plácidas da impunidade !
Por falar em impunidade, clique aqui (aqui e aqui também) para ir à TV Afiada e assistir a vídeos sobre as férias do Gilmar Dantas (**).
Paulo Henrique Amorim
Um pouco de justiça feita em meio a tantos desmandos e desenganos. Fiquei aliviada quando li a notícia. E orgulhosa da pequena contribuição que dei. A solidariedade é uma grande força que nos move!
Sangue, corpo e alma de Brasileiro. Como todos nos, vitima do odio dos espertalhoes. Grande vitoria, Jose Genoino. Mais uma!
Miruna!
Deixe-me pagar uma dívida para com o seu pai e para com o Brasil. Candidate-se à Deputada Federal ou a Senadora para que eu possa votar em você pelo seu feito em defesa de seu pai e por êle a quem, erroneamente, nunca dei meu voto.