Embora a gente saiba que está acontecendo, é chocante e inacreditável que estejam se formando exércitos zumbis, completamente alucinados, na extrema-direita, como os movimentos “QAnom” retratatados hoje pelo Estadão, em reportagem de Vinícius Valfré.
Vejam o nível de delírio:
Em síntese, os adeptos do QAnon acreditam que o presidente Donald Trump foi escolhido por um exército secreto para uma batalha contra governantes ocultos do mundo. É um herói patriota que aceitou enfrentar uma rede de tráfico humano e pedofilia que envolve desde políticos da esquerda e atores de Hollywood até o Vaticano e o bilionário húngaro George Soros.
A origem do movimento é obscura. Os adeptos seguem um anônimo que se identifica como “Q” para lançar mensagens cifradas em um fórum da deep web – parte da internet escondida de ferramentas de busca para preservação do anonimato.
A fonte primária da teoria jamais fez qualquer menção a Bolsonaro, mas apoiadores do presidente trataram de incluir o brasileiro entre os líderes mundiais escolhidos pelo “Q” para “salvar o mundo”.
Em abril deste ano, por exemplo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, postou nas redes uma foto ao lado do pai e dos irmãos comendo milho. Para adeptos do movimento QAnon, mais do que uma mera reunião de família, a imagem era uma prova de que Bolsonaro é o escolhido. Dias antes, o “Q” havia publicado a cena de uma plantação de milho. “Junte as peças do quebra-cabeça”, dizia a mensagem postada pelo perfil “Revelação Total”.
Loucura? Pois lembre que existem grupos defendendo a ideia de que a Terra é plana e está no centro do Universo – quase 600 anos depois de Copérnico – e até de que as pistolas de termômetro causam câncer, cegueira e danos cererbrais. São as versões pós-eleitorais do kit gay de Bolsonaro que, em escala global, têm Donald Trump como uma espécie de Jaspion que vem salvar a civilização ocidental de uma conspiração sino-gay-marxista e, talvez, extraterrestre.
É coisa de deixar Jim Jones no chinelo mas, afinal, isso a deputada Flordelis já fez.
Porque, afinal, os fanatismos se mistura e partem das convicções (ou das fés, como queiram) para chegar ao delírio e ao absurdo.
Não são apenas fake news, noticias falsas que se espalham pelas redes. É a incapacidade de raciocinar, de relacionar os fatos, de discernir o que é ilógico do que faz sentido.
Bolsonaro, com sua arminha, fez o que seus fanáticos dizem que faz a pistola-termômetro: causou graves danos cerebrais à sociedade.
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A dimensão que a movimentação política negra dá ao nome de Zumbi dos Palmares está diretamente relacionada à luta para inverter a condição semi-escravocrata que subsistiu à abolição. Esta luta centenária aconteceu paralela à luta operária no país que se tornou republicano, com a peculiaridade de que a classe operária foi importada da Europa, relegando a negritude para a periferia do sistema capitalista, o lumpesinato. Muniz Sodré cita Jacques Berquò, que disse que a expansão européia era uma "vitória semântica". Daí que a luta semiótica negra brasileira junta seus símbolos à revelia da esquerda descuidada, distraída etc.