Definitivamente – e apesar da Cúria Romana – o Papa Francisco entrou na disputa por corações e mentes da qual a Igreja Católica havia se afastado.
É obvio – a gente anda precisando dizer o obvio, do jeito que as coisas andam – que o papa não é comunista. E não é também de nenhuma “esquerda católica” militante.
Mas seu líder, hoje, além de humanidade, tem a percepção de que o catolicismo se enfraqueceu.
Primeiro, na Europa, e nos últimos 20 anos, também no Terceiro Mundo.
Vai enfrentar inúmeras dificuldades e resistências, mas sabe que, sem isso, continuará o afastamento das grandes massas populares da fé católica.
Sabe, também, que o espaço conservador, em grande parte, foi ocupada pelo protestantismo e suas fortes raízes – e canais de financiamento – norte-americanos.
Seu discurso, nos dias de hoje, provocaria tremores e esgares de ódio em qualquer reunião de madames, no Brasil.
É bem provável, mesmo, que o achassem comunista. Ou argentino, ou nordestino, ou “bovino”, como diz Diogo Mainardi.
Eu, apesar das minhas desavenças com Deus, estou achando é divino.
Leiam a reportagem da Agência Ecclesia, de Portugal.
“Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra,
nenhum trabalhador sem direitos”, apela o Papa
O Papa Francisco apelou hoje à defesa dos direitos dos trabalhadores e das suas famílias, durante um encontro com os participantes no primeiro encontro mundial de Movimentos Populares.
“Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá”, declarou, perante trabalhadores precários e da economia informal, migrantes, indígenas, sem-terra e pessoas que perderam a sua habitação.
O encontro é promovido até quarta-feira pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz (Santa Sé), em colaboração com a Academia Pontifícia das Ciências Sociais.
“Não existe pior pobreza material do que aquela que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho. O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são inevitáveis, são o resultado de opção social prévia, de um sistema económico que coloca os lucros acima do homem”, defendeu o Papa.
A intervenção alertou para o “escândalo da fome” e as consequências da “cultura do descartável”, condenando os “eufemismos” que se utilizam para falar do “mundo das injustiças”.
“Este sistema já não se consegue aguentar. Temos de mudá-lo, temos de voltar a levar a dignidade humana para o centro: que sobre esse pilar se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos”, explicou.
Francisco criticou o “império do dinheiro” que exige a “guerra”, o comércio de armamentos, para a sobrevivência de “sistemas económicos”.
O Papa agradeceu aos participantes pela sua presença no Vaticano para “debater tantos graves problemas sociais que afetam o mundo de hoje” desde a perspetiva de quem sofre a desigualdade e a exclusão “na sua própria carne”.
“Terra, teto e trabalho. É estranho, mas se falar disto, para alguns parece que o Papa é comunista”, começou por referir, antes de recordar que “o amor pelos pobres está no centro do Evangelho”.
“Terra, teto e trabalho, aquilo por que lutam, são direitos sagrados. Reclamar isso não é nada de estranho, é a Doutrina Social da Igreja”, assinalou.
O Papa pediu que se mantenha viva a vontade de construir um mundo melhor, “porque o mundo se esqueceu de Deus, que é Pai, ficou órfão porque deixou Deus de lado”.
Num discurso de cerca de meia hora, Francisco referiu que a presença dos Movimentos Populares é um “grande sinal”, porque estão no Vaticano para “pôr na presença de Deus, da Igreja, uma realidade muitas vezes silenciada”.
“Os pobres não só sofrem a injustiça mas também lutam contra ela”, precisou.
Jesus, acrescentou, chamaria “hipócritas” aos que abordam o “escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção” para procurar fazer dos pobres “seres domesticados e inofensivos”.
O discurso papal abordou ainda os temas da paz e da ecologia, para além das questões centrais do emprego e da habitação.
“São respostas a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos. Um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza que está cada vez mais longe da maioria”, sublinhou Francisco.
O Papa convidou os participantes a prosseguirem com a sua luta, “que faz bem a todos”, e deu-lhes como presente uns terços fabricados por artesãos, ‘cartoneros’ e trabalhadores da economia popular na América Latina.
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O Papa é pope! hehe
Sou católica e penso como ele. Sempre pensei.Afinal, Jesus veio para os doentes e não para os sãos, certo??
Um abraço a você, Brito!! Deu uma ajuda e tanto na vitória de Dilma!
Ei, Iskra!!!!!! Um abração! Tô bem devagar, mas, de vez em quando, dou uma visitadinha nos blogs sujinhos! hehe Bão dimais, uai!!
Tem muitos e muitos anos, talvez séculos, que não aparece um ser humano deste calibre, competência e valor espiritual. Existe um dito do povo que diz: "Deus não dorme"!
A Igreja Católica precisa se modernizar! Ao ir à Igreja Católica me deparo com isto: não tem estacionamento. O banco é duro e, por vezes, temos que nos ajoelhar(?) Na parede, um jesus na cruz, morto e ensanguentado!
A maioria das doutrinas Católicas pregam o conformismo. Ser pobre é ser humilde blá blá, a verdadeira riqueza tá no céu blá blá...
Igreja Evangélica: estacionamento. Bancos confortáveis. Algumas ilustrando Cristo sorrindo. Pregam a prosperidade e uma vida boa aqui na terra!
A Igreja não são os bancos ou o conforto de um estacionamento... a Igreja são as pessoas; enquanto o estacionamento ou os bancos foram mais importantes, então a Igreja estará em segundo plano... a Igreja não é bem-estar, não é zona conforto, a Igreja é crise, é crescimento, é desenvolvimento... físico, psicológico e espiritual, em comunidade, jamais isolado.
A teologia do sucesso pregada pelas pentecostais é uma armadilha, porque coloca o plano material acima do plano espiritual e tende a distorcer princípios e valores, fundamentos do que o ser humano pode ter de melhor ou de pior.
Pode ser pouco que tenhamos um Francisco a cada mil anos... mas o fato é que cada um de nós é um agente no mundo e tem o poder de deixar um legado, mais que uma herança, mas daí temos que nos importar em mais coisas que bancos ou vagas para nossos carros, é preciso de lugar para os nossos corações, para a nossa alma!
E pra isto cobram apenas 10% da sua renda. Isto quando não lhe vendem "amuletos" superfaturados.
Este Discurso do Papa Francisco ou melhor essa ORAÇÃO, tem que ser lida nas tribunas da Câmara e do Congresso Nacional e mostrar para o POVO, quais os representantes eleitos são dignos de estarem nestas "Casas".
De pleno acordo.
O império do dinheiro e' o império da ilusão,o dinheiro e' o deus do mundo, e' necessário, mas o dinheiro não pode ser represado por poucos ele tem de fluir, isso
ficou claro a "cesar o que e' de cesar" a deus o que e' de deus....ganancia para o mundo....coração para deus,porque ?
"Onde está teu tesouro,estará teu coração."
Depois dos anos sombrios de Wojtyla e Ratzinger, faz-se a luz no papado.
Viva Francisco o papa pop !
E os ditos cristãos de direita, o que pensam a respeito?
Agora vão dizer que o papa é petista.
Não sou católico, não tenho religião, mas não há como admitir a importância das posições assumidas pelo atual papa (que para a Ilze Scamparini é o Santo Padre), sobretudo nesta questão social. São muitos os exemplos na igreja católica, apesar da igreja católica, que tomaram atitudes progressistas, revolucionárias, a começar por Giordano Bruno à época da inquisição, seguindo pela teologia da libertção (Don Helder, Casaldáliga, Dom Balduíno...) Apenas acho que o atual papa deve se cuidar um pouco - sem deixar de ser duro e sem perder a ternura -, pois o caso do cardeal Albino Luchiano ainda é muito presente para nós.
Sou católico e afirmo: esse Papa me representa. Sou fã dele! Essa frase : “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra,
nenhum trabalhador sem direitos” já entrou para a História!
Já dizia o poeta popular: Mas o que a gente precisa é terra trabalho e pão/Vida aqui na terra e não no reino dos céus/
Fernando, em Terapia Comunitária sempre repetimos: "O que a gente menos vê é o obvio"