Passe telegrafado

Desculpem os leitores se uso uma expressão meio anacrônica de  futebol para definir a onda sobre os “rolezinhos”.

Mas a manchete da Folha, hoje, transformando em crise nacional o que não merece nem menção nos demais jornais mostra, claramente, que a direita “cheirosa” aposta no “fenômeno”.

O que, de outra forma, seria apenas uma “onda de verão”, sem maiores consequências, precisa ser transformado em grande questão nacional.

Embora as raízes do rolé, como qualquer outra que mostre um pedaço normalmente escondido da sociedade, sejam reais, sobre eles se faz uma construção política e ideológica que, francamente, só um tolo não vê que é voltada contra os próprios protagonistas do “rolé” (no Rio sempre dissemos rolé e em São Paulo parece que virou “rolê”).

E – sei que vou apanhar por isso – parte da esquerda embarca nessa história, como um impulso – aliás generoso – de se contrapor à repressão estúpida e desmedida que a eles se faz.

Por acaso é tão difícil perceber que a mídia joga jogo duplo nesta história?

Esqueceram que os jabores da vida, antes de gritarem contra os “vândalos” em junho, os saudaram como “grande esperança nacional”?

E que o foco que se dá acontecimentos localizados tem um nítido cunho de generalizá-los, de criar uma “moda” que tem evidentes intenções político-eleitorais.

É o que faz, hoje, a Folha.

Dizer que o Planalto monta uma “operação de guerra” contra os rolés e que os shoppings preparam esquadrões antipobre para agir em seus corredores é provocação barata.

A discussão sobre “legalidade” ou “democracia” é conversa que só interessa aos que querem transformar uma “onda” em um golpe eleitoral.

Ou, de outro lado, pretender tutelar como “revolucionário” o que é apenas “onda”.

Os velhos, como eu, lembram bem do “verão da lata“.

Explico aos mais jovens. Em 87, um navio que transportava latas com maconha descarregou sua carga no mar, no litoral do Rio de Janeiro, para escapar de uma batida da Polícia Federal.

Virou moda e muita gente ficou de atalaia nas praias à espera das latas que boiavam.

Havia, de fato, latas, não era irreal.

Mas era irrelevante.

Virou lenda urbana, folclore da juventude, gíria que atravessou anos.

Mas virou fumaça, com e sem trocadilho.

Que a elite dominante reprime tudo o que a pobreza e a juventude criam para se expressar é tão antigo quanto a polícia reprimindo o samba no início do século passado.

E que o poder as vai absorvendo e transformando em ferramenta de seus interesses é mais desbotado que a primeira calça jeans de um homem de meia idade.

 

Fernando Brito:

View Comments (4)

  • Está mais do que claro! A direita vai aproveitar qualquer coisa para virar bagunça, protesto, anarquia, pra depois colocar na conta do governo. E o governo...... nada! " O controle remoto resolve ". Lamentável. O Sr. Joaquim Barbosa também faz o que quer neste país e o governo e o PT e as " forças " democráticas.... nada! Vamos esperar pelo resultado.

  • A demora do governo em se manifestar mostra o quanto o PT se transformou em um tipo de PMDB de 1987: um bando de velhos corrompidos pelo whiskey e lagosta, da mesma licitação da dona Roseana Sarney.
    O PT está destruíndo a viabilidade da esquerda na américa latina por muitas décadas.

  • Vamos pautar os "rolezinhos"!
    Vamos criar um "roteiro turístico" para a "galera" visitar.
    1. sorveteria da filha de José Serra;
    2. instalações da Folha, Veja, Globo e Estadão;
    3. Instituto Milenium;

    Não falta é lugar para ir...

  • Então ficamos assim,qualquer opinião ou texto que não tenha como conclusão a frase "Por isso precisamos reeleger a Dilma" é coisa da Direita Fascista do PIG.
    E estamos conversados.

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