O Bêbado e a Equilibrista, dos geniais Aldir Blanc e João Bosco, virou uma espécie de “hino da anistia”, no final da noite escura da ditadura implantada em 1964, que nasceu de ideias velhas e que morreria decrépita alguns anos depois.
Chora, a nossa Pátria mãe gentil, diz a letra, a certa altura, na inesquecível voz de Elis Regina, em seu lamento sem desânimo.
40 anos depois – uma vida inteira para muitos de nós – parece que, de novo, a tarde nos desaba como um viaduto, aquele onde passavam, como Carlitos, os nossos sonhos de sermos um país justo, desenvolvido, presente no mundo como podemos ser e, sobretudo, o país de um povo feliz.
Viramos, porém, uma jaula de ódios, nela, vamos rugindo e mostrando as garras – claro, os que as têm – sob o comando de domadores togados, que brandem a ordem do chicote e trancafia em jaulas para que obedeçam às suas vontades e “convicções”.
Nesta nova noite do Brasil, já não se tem irreverências mil, e os homens da muito escura viatura andam para lá e para cá, a procura do suspeito da vez, levando um, outro, mais outro, para que os chupem com os dentes que deixam manchas torturadas e os façam delatar, como paus-de-arara 2.0 que a mídia louva e aplaude.
Vivemos o que na juventude aprendemos a detestar naqueles tempos: as “verdades” que não se contestam, a pretensão da vigilância sobre todos, a mentalidade punitiva, aquela que diz que o castigo e a privação de liberdade são o remédio para uma vida de virtudes, que a lei não é ferramenta de direitos, mas o relho da autoridade, o chicote da punição.
Há os que dizem que isso é a moralidade, há os que dizem que isso é o novo, há os que dizem que isso é o caminho de uma nova ordem, admirável e limpa, embora dela só resulte uma nação em escombros.
O Brasil, a nossa pátria mãe gentil, arruinado e selvagem como, infelizmente, já esteve antes na história deste país.
Mas sei, sabemos todos ou só o sentimos, que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente.
E a esperança equilibrista, todo dia tão jovem, tão viçosa, segue na corda bamba, sempre pronta a se esborrachar, com esta turma a balança-la até que caia.
A nossa mãe gentil – a que é a de todos, a que não morre, a que iremos sempre honrar e respeitar, ainda que dela hoje façam gato e sapato – tem que continuar, meu Brasil.
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Mais um texto para se juntar ao que escreveu para sua filha sobre a caneta, àquele em que conta a noite no hospital com sua mãe, ao que fala do homem deitado em seu carrinho na última noite de verão. Na verdade são muitos, mas esses três, agora quatro, são os meus preferidos.
Clap, clap, clap.
De pé
Quantas pessoas choraram ao ouvir Elis cantar como só ela sabe essa música. Aldir Blanc era médico psiquiatra, essa canção em parceria com João Bosco era um libelo contra a ditadura que a Globo e os golpistas apoiavam. Em um de seus versos, "sonha com a volta do irmão do Henfil", faz-se referência ao cartunista Henrique de Sousa Filho, o qual na época tinha um irmão, o sociólogo Betinho, em exílio político no exterior, criador da política contra a fome cujo o instituto que tinha seu nome foi fechado agora pelo governo Temer.
Hoje temos Lula, e a pátria sonha com a volta do nosso eterno presidente. "Uma dor assim pungente, não ha de ser inutilmente, a esperança.... "
Esse é um verdadeiro patriota. Texto perfeito, em cima de uma música perfeita. Fantástico, mestre!
Bom dia,
não sei o nome que se dá, mas pátria sem sapatos, sem lei, equilibrista, dos esmole e assim se vai pode ser dá o nome que quiser. Mas temos que lembrar que o maior erro é o nosso quando acompanhamos pato e ai o que acontece: Galinha morre afogado, bate panela e assim por diante. Temos que mostra isso ao povo que rico no Brasil não trabalha e só rouba o que é nosso ( ex: conhece alguma empresa do Dória e que seja de tecnologia?), portanto temos que quebrar o umbigo do pobre em adorar rico no Brasil! Só assim vamos dar certo. Outro exemplo foi de Lula em achar que poderia igualar classe, não tem como no mundo e no capitalismo!...
Pois todos aqueles,que se iludem e se iludiram,antes e agora,enquanto persistirem as CASTAS,serviçais pontas de lanças,das sociedades de classe,onde a classe minoritária,mandou e manda desde tempos imemoiais,vão continuar os anseios daqueles que produzem belas parábolas,ao respeito de liberdades,liberdades vãs,pois nada se obtém com ela,senão quando as maiorias ,de fato,detenham o poder.E vamos continuar a assistir esses lamentos,belos e poéticos,mas que não passam de belas poesias,desprovidas que são,de traçar os caminhos das maiorias,que somente se levantarão quando ouvirem e praticarem também,poesias do tipo,Aprendi a dizer não,ver a morte sem chorar,a morte e o destino ,tudo,estava fora de lugar,e eu venho pra CONCERTAR!
Maravilhoso texto, Fernando Brito!
A pérola do dia do Temer. Em relação aos meus ministros investigados. "São pessoas da maior competência, prestam um serviço extraordinário". O que se ajusta perfeitamente a um governo em que o chefe é o Temer, um gatuno comprovado que recebia propina no palácio Jaburu, só que o Janot impede a investigação por isso se cercou com os seus iguais.
Muito emocionante FB :-) Vale chorar ? ...
Gleisi : Eleições Diretas em 2017 para nos tirar do inferno ! ...
http://www.brasil247.com/pt/247/parana247/295322/Gleisi-Hoffmann-ao-247-se-Temer-ficar-at%C3%A9-2018-vai-destruir-o-pa%C3%ADs.htm
Vale!
Bom dia, que artigo emocionante Brito, não vamos desistir, jamais!