PEC: o jogo para valer começou agora

Começou para valer o jogo político necessário à formação do novo governo de um país destruído econômica e institucionalmente e não há como pensar que ele terá sucesso sem que o mais importante não chame para si a responsabilidade sobre como seu time irá jogar, por mais que Geraldo Alckmin tenha, ao longo deste quase um mês de “aquecimento”, atuado como um paciente coordenador de ambições e vaidades no início do processo de transição.

É o que Lula começou a fazer e engana-se quem achar que ele esteja apenas cabalando votos para a aprovação da PEC do Bolsa-Família. Não está, e muito menos oferecendo cargos para cooptar parlamentares e, especificamente, o próprio presidente da Câmara, Arthur Lira, muito embora isso vá acontecer naturalmente e mais adiante.

O que Lula está dizendo é que dele terão o que não tiveram no governo Bolsonaro: diálogo político, não os “namoros” e “casamentos” de Bolsonaro.

Fora da conversa ficará apenas a porção irreversivelmente extremista: a parcela bolsonarista do PL que tenderá a se comportar como um quisto de radicalismo, tanto menor quanto venha a minguar, como está minguando – a loucura golpista de alucinados, fanáticos religiosos e generais da reserva.

É evidente que Lula vai usar habilidade para se mover na negociação em torno da PEC, até porque ela será atacada pela mídia e pelo mercado com artilharia pesada. Nada vai ser posto na base da “ponta de faca” e haverá concessões, tanto no valor quanto no prazo, mas provavelmente não na adoção de uma regra fiscal formulada às pressas, que possa vir a engessar a ação de governo.

Mas o presidente eleito está absolutamente alerta para o fato de que era precisa tomar a iniciativa e apresentar logo uma proposta que sirva para balizar a disposição dos parlamentares e dos partidos diante de uma proposta concreta – ainda que negociável – que permita marcar quem quer conversar e quem não quer.

Amanhã à tarde, provavelmente, a PEC terá as 27 assinaturas para que comece a tramitar. E para que comece a ficar claro quem deseja que a escolha dos eleitores valha mais que a dos “operadores de mercado”.

Fernando Brito:
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