A notícia de que um dos pastores – o teólogo Sergio Dusilek – que participou de um ato político em favor de Lula – e não de um culto, como faz Bolsonaro – está sendo levado a renunciar à sua condição de um dos representantes da Igreja Batista Brasileira é um dos piores espetáculos deste hipócrita festival de exploração política da religião, até pelo ato cheio de simbolismo de queimarem-se os livros religiosos que ele produziu.
Uma contradição chocante, porque um dos pilares da criação da Igreja Batista foi a separação entre Igreja e Estado, uma das primeiras confissões religiosas a defendê-la abertamente, por um de seus fundadores, Thomas Helwys, em 1612:
“A religião do homem está entre Deus e ele: o rei não tem que responder por ela e nem pode o rei ser juiz entre Deus e o homem. Que haja, pois, heréticos, turcos ou judeus, ou outros mais; não cabe ao poder terreno puni-los de maneira nenhuma.”
Posição que sempre foi respeitada pelos batistas, até mesmo se opondo, abertamente, contra o fechamento de mesquitas muçulmanas no Reino Unido, na esteira dos atentados atribuídos a fundamentalistas islâmicos. Só muito recentemente o vírus do trumpismo fez os batistas norte-americanos deixarem se contaminar por política eleitoral.
Todos somos testemunhas em quanto Lula relutou em promover encontros onde a questão religiosa fosse tema e só o fez diante da evidência de que pastores transformaram seus templos em uma máquina de propaganda de Jair Bolsonaro, invocando demônios e mentindo sobre uma suposta “perseguição religiosa” que, sob governos petistas, os evangélicos jamais sofreram.
Os pastores que se apressaram a condenar e a “passar pano” para gente que acha legítimo queimar livros religiosos jamais se manifestaram contra quem coloca Jair Bolsonaro como “ídolo de fundição”, um exemplo que o livro do Êxodo tão adequado ao que vivemos.