Petrobras sair de campos terrestres e pequenos não tem nada de novo

A Folha, hoje, noticia que “a  Petrobras decidiu mudar seu portfólio de exploração de petróleo. Em busca de projetos com maior rentabilidade, a estatal vai sair gradualmente dos poços situados em terra e em águas rasas e passar a se concentrar na extração de óleo e gás em águas ultraprofundas, o que inclui o pré-sal”.

Noticia é, neste caso, um verbo impróprio para algo que não seja ironia.

Primeiro, porque uma empresa que há 40 anos começou a mudar o perfil exploratório do petróleo brasileiro de terrestre para marítimo, que há pelo menos 30 anos trabalha em águas profundas (300  a 1.500 metros de lâmina d’água) e há 18 em água ultraprofundas (acima de 1.500 m), não se pode dizer que tenha decidido “mudar seu portfólio”, muito menos quando há pouco mais de oito anos achou uma jazida imensa no pré-sal que, mal arranhada em seu potencial produtivo, já responde por um terço de todo o petróleo e gás no país.

Como assim “decidiu mudar”, então?

A Petrobras, há décadas, investe essencialmente em ampliar sua produção no mar e, especialmente, em águas profundas.

Seus programas de desinvestimento, faz muito tempo, contemplam a transferência de poços terrestres de baixa produção para a iniciativa privada, em geral pequenas e médias empresas para as quais isso pode ser rentável, enquanto para quem é gigante seria impensável operar poços ou campos de baixa produção, seja porque já drenados ao longo de décadas, seja porque originalmente de produção em baixa escala.

De todo o petróleo produzido no Brasil, 94% vêm do mar. Ao contrário, dos  8.985 poços de petróleo, 91% estão em terra.

A supremacia da exploração marítima é evidente e histórica. E, nela, a das águas profundas e ultra profundas, inclusive o pré-sal é quase tão gritante quanto. Quatro quintos de todo o petróleo produzido pela Petrobras vieram de 11 campos de águas ultraprofundas. Se somarmos os demais campos ultraprofundos e os de águas profundas, isso passa fácil, fácil, dos 90%.

O Brasil tem hoje 15 empresas que produzem entre 1 e 500 barris de petróleo por dia, volumes que só em condições excepcionalíssimas poderiam interessar a uma empresa como a Petrobras, empenhada em  concluir poços de onde jorram mais de 30 mil barris diários.

O desinvestimento nas áreas de baixa produção é o único dos “desinvestimentos” da Petrobras que – feito com avaliação correta – está longe de ser um risco para a empresa. E é, ao mesmo tempo, área onde ela pode vender sua expertise de exploração para pequenos capitais.

Quando se defende o controle do petróleo brasileiro pela Petrobras, é obvio que não se pode comparar a entrega de grandes jazidas às multinacionais com, por exemplo, a devolução de poços como o da foz do Vaza-Barris, em Sergipe, feita em 2005 pela Petrobras. O poço, hoje explorado por uma pequena empresa, a Guto & Cacal, produz um (hum) barril por dia.

A Petrobras não mudou em nada a direção do que vinha fazendo em matéria de portfólio de exploração. Isso é conversinha de quem quer aparecer com outro tipo de “novidade”.

Até porque o futuro do petróleo no Brasil é o pré-sal, e é neste que querem meter a mão.

 

PS. O Senado não votou ontem o PLS 131, de José Serra, que tira da Petrobras os 30% mínimos e a condição de operadora exclusiva do pré-sal. Mas eles não desistiram, podem ter certeza.

Fernando Brito:

View Comments (6)

  • Fico imaginando o tamanho da cobrança diária das grandes petrolíferas e de seus respectivos governos sobre a nossa mídia nativa e os líderes(?) oposicionistas do nosso país, visando a ainda incalulável riqueza do nosso petróleo.
    Não deve ser fácil levar "boas novas" para seus Ambiciosos financiadores parasitas.

  • Bom dia,

    demorou!! E como uma pessoa tenha duas empresa que trabalham com o mesmo produto, e uma delas da grana mas não vai para frente, você sabe que será sempre assim. A outra tem potencial, mas você gasta a grana que tem com a primeira e não investe na outra, ou seja, por medo ou o que?

  • O que está acontecendo no Brasil é revoltante. Fora esta mídia porca, mentirosa e golpista, agora temos funcionários do estado, cujos salários são pagos pela população, dedicando-se em tempo integral à perseguição de Lula, petistas e seus filhos, enquanto grandes sonegadores e corruptos são acobertados. O Brasil PRECISA ser passado a limpo. Não é possível que não exista uma maneira de promover uma faxina nas instituições para que o país se livre do aparelho que a direita deixou em funcionamento. O Brasil está vivendo sob um regime de exceção comandado pelo judiciário e mídia. Políticos da oposição fazem o mesmo papel que a UDN fez antes do golpe e que a ARENA passou a fazer durante a ditadura. Não é possível que ninguém possa fazer nada.

  • A notícia tem endereço certo: Comunidades litorâneas do Ceará e Rio Grande do Norte, cuja economia gira em torno da exploração em terra, nos quintais de casas, de petróleo em pouca quantidade. Com este terrorismo estas comunidades devem estar de cabelos em pé.

  • A Petrobrás e a maior empresa brasileira, fantastica em tecnoligia, cobiçada pela direita, e desleixada pela esquerda,mais resumindo não devemos entregar esta engrenagem para os abutres.

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