É inacreditável que os mais altos oficiais das brasileiros tenham de ouvir, em sua própria casa, um “pito” como o que nos passou o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, ao dizer que forças armadas devem estar “sob firme controle civil” e ter “profundo respeito pelos direitos humanos, o compromisso com o Estado de Direito e a devoção à democracia.”
Com um recado destes, soou como um gaguejo de menino travesso a declaração do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, explicando que os militares brasileiros aderem aos acordos firmados entre militares do continente americano comprometendo-se com a democracia.
Sobretudo, porque rigorosamente ninguém, menos ainda o Alto Comando das FFAA, sabia que o discurso perigolpista que o ministro vem exercitando com estardalhaço nas últimas semanas fadava os militares brasileiros a ficarem em total isolamento não só interno, mas externo, diante de seus pares em todo mundo e, mais ainda, entre os que estamos sob a esfera de influência de Washington e muito mais agora, sem Donald Trump por lá.
Um movimento que se completa com a oficialização de Walter Braga Neto como candidato a vice-presidente, um general reformado apenas pró-forma, ainda detentor, senão do comando de fato das Forças Armadas – foi quem escolheu todos os seus comandantes – pelo menos de forte voz de comando sobre suas estruturas.
Agora, vivemos uma situação esdrúxula: o Exército quer – ou perlo menos sugere querer – abandonar a posição indefensável de armada de uma ofensiva golpista, mas comprometeu-se demais, pela ação de seu comandante egresso para o Ministério da Defesa (mais uma razão para que este seja exercido por um civil, para que não se confunda seu viés político com a hierarquia da Força).
Mas como fazê-lo se ainda quer a permanência de Bolsonaro no poder, ainda que tal vontade seja, por si, suicida, tantas as razões para isso o ex-capitão já demonstrou?
E por que bocas manifestar o necessário compromisso de que irão respeitar o resultados da urnas, tais como o TSE os proclamar se o seu porta-voz, o Ministro da Defesa, destruiu sua própria credibilidade inapelável e imprudentemente?
A resposta é clara: pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, que têm o direito e o dever de manifestar nada além do que fez o Secretário da Defesa do EUA, também ele um general reformado: afirmar o que deveria ser um pleonasmo: que as Forças Armadas têm compromisso com a democracia, com a Constituição brasileira e com o rito eleitoral que lá está gravado.
Não é insubordinação, ao contrário, é subordinação aos compromissos legais que, para envergarem suas estrelas, assumiram com o país.
Entregar suas tropas à promiscuidade com as hordas – “hunos”, chamou-os o ministro aposentado Celso de Mello – com que Bolsonaro espera encher a Esplanada dos Ministérios é que seria violar os deveres de respeito aos princípios de manter as Forças Armadas fora das disputas política e, sobretudo, dos atentados à ordem constitucional.