Ponderações anti-coxinhas

Algumas palavras sobre a manifestação ocorrida ontem em São Paulo e suas consequências. Antes, uma observação importante. Defendo manifestações democráticas. Não venham me chantagear com esse papo de “criminalizar” movimentos sociais.

Mas já aprendi uma coisa, de uns tempos para cá. Manifestações com presença de mascarados não são democráticas. Mascarados mancham indelevelmente qualquer manifestação, porque a gente sabe, antecipadamente, que apelarão para violências, e podem conter infiltrados cujo objetivo é justamente destruir ou desqualificar a manifestação.

Grandes armadilhas contra a nossa democracia estão sendo armadas. O movimento #naovaitercopa reúne inúmeros grupelhos de extrema-esquerda, mas conta com o apoio esquizofrênico de todos os grupos de extrema-direita, também interessados no caos e na derrubada do regime. Esses grupos financiam páginas na internet, memes e textos. Não, não é mais paranóia. Proliferam nas redes sociais um número alarmante de grupos e indivíduos que defendem um golpe de Estado, inclusive militar. Setores da direita, desesperados com a distância do poder, e farejando nova derrota este ano, perderam os escrúpulos democráticos que fingiam ter e estão demonstrando um perigoso descontrole emocional.

Falei em armadilhas porque é disso que se trata. Fazer a população se lançar voluntariamente no abismo, achando que está participando de uma revolução.

A maioria dos intelectuais brasileiros de esquerda pode ser facilmente manipulada por estratégias simples. Bota-se um punhado de jovens na rua pregando revolução, pedindo mais gastos em educação, reclamando da Globo, coisas simples e boas. Mas aí se acrescenta um elemento explosivo: algumas dezenas, ou centenas, de mascarados para assustar a polícia, quebrar bancos e incitar repressão.

Pronto. Temos o cenário perfeito. Alguns líderes de movimentos sociais, cansados de apanhar da polícia, rapidamente aderem aos protestos. Como ser contra?

Em pouco tempo, contudo, ninguém mais sabe porque está na rua, nem manifestantes nem policiais, repetindo-se a lógica irracional de uma guerra civil.

Sei que é difícil acreditar na imprensa hoje, mas todos os sites que eu li falavam de 2 manifestantes e cinco PMs feridos.

Isso é perigoso. As polícias militares têm imensas deficiências. Mas o culpado não é o policial, um trabalhador que ganha pouco e se arrisca muito. A partir do momento em que os manifestantes começarem a descontar sua testosterona em cima desses PMs, correremos enorme risco. O culpado pela violência policial é o sistema.

Nosso judiciário também tem culpa, por ser truculento e reacionário, evitando penas alternativas e prisão domiciliar inclusive para presidiários doentes que não oferecem nenhum perigo à sociedade. Por que a imprensa não fez violentos protestos quando descobriu que o Judiciário negava prisão domiciliar a um tetraplégico preso na Papuda por fumar maconha? Não protestou porque isso poderia beneficiar José Genoíno?

Por que os manifestantes só hostilizam as instituições democráticas e deixam o Judiciário e o Ministério Público em paz?

Entretanto, o mais surreal é que o movimento #naovaitercopa pede mais gastos em educação e saúde, mas o cancelamento da Copa provocaria um prejuízo enorme ao Estado, e portanto, forçaria cortes em educação e saúde.

Essa é a grande esquizofrenia coxinha, que se mistura ao marxismo enfumaçado de jovens universitários, que tem planos de saúde e estudam em universidades públicas.

Dinheiro para Saúde e Educação não cai do céu. É fruto dos impostos. A arrecadação fiscal per capita no Brasil ainda muito inferior a dos países desenvolvidos. Somos um país rico, mas um povo pobre. A única maneira de aumentar a arrecadação é aumentar a atividade econômica. E aí entra a importância da Copa. Se ela atrai turistas, se gera novos negócios, gerará também mais atividade econômica, que por sua vez gerará impostos, que poderão ser usados em Saúde e Educação.

A Copa é importante, portanto, para gerar mais gastos em Educação e Saúde.

Sobre os mascarados, já falei aqui. Sou contra a presença dele em manifestações. O Brasil deveria fazer uma legislação específica para coibir o uso de máscaras em manifestações, para proteção dos próprios manifestantes. A presença de mascarados facilita a infiltração de provocadores, que agem para destruir a própria manifestação.

Não podemos esquecer tão rápido a morte do repórter Santigo, até porque ainda não discutimos profundamente o que aconteceu. Um dos rapazes disse que o rojão era destinado à polícia. Esse é o grande perigo. Imagine se o rojão explodisse no rosto de um policial, ferindo-o. Seus colegas se descontrolariam emocionalmente e partiriam para cima dos manifestantes, e eis que ocorre uma morte de um manifestante, quiçá de um totalmente pacífico. Balas são traiçoeiras.

O que aconteceria? Haveria uma comoção nacional? O Brasil se ergueria em fúria? Contra o quê? Contra quem?

Pior, e se o rojão que feriu o policial tivesse sido disparado justamente com essa intenção?

Será possível que o Brasil tenha se tornado um país tão facilmente manipulável? Tão frágil? É tão fácil assim nos derrubar?

Pior que sim.

A nossa mídia é um caso perdido. Ela se vende a quem paga mais caro. E sabemos muito bem a quem ela presta continência em primeiro lugar. Esse é um problema importante em toda a América Latina. Suas mídias não são comprometidas, de fato, com a democracia, apesar de sempre usarem o vocabulário democrático para venderem suas teses. Foi assim em 1964. É assim hoje.

Qual a solução? A solução é lutar por uma reforma política e uma regulamentação democrática da mídia.

A nossa imprensa faz ataques ao Sarney, e a Henrique Alves, mas jamais informou ao Brasil de onde eles tiram seu poder eleitoral: suas famílias controlam as mídias regionais, sobretudo a distribuidora da Rede Globo.

A elite é muito esperta. Pode financiar, secretamente, manifestações lideradas por jovens de extrema esquerda que pregam o fim do capitalismo. O objetivo é fomentar o caos, constranger o governo e criar na população o desejo por uma liderança forte, austera, que reestabeleça a ordem.

Não é uma conspiração tão complicada assim, afinal. Nem moderna. Os romanos a praticavam há mais de mil anos. Fomentavam revoltas domésticas nos povos que desejavam dominar. Às vezes financiavam inclusive movimentos contra Roma, sempre com objetivo de dividir e conquistar.

Quem participa de manifestações que contam com a presença de mascarados, portanto, pode estar participando de um ataque à nossa democracia sem o saber. Afinal, como saber que não há, entre os mascarados, gente que defende o golpe militar ou mercenários pagos por organizações de extrema-direita?

O pior é que os setores mais perigosos da direita sabem que apenas a emergência de uma situação de caos poderia lhe dar esperanças de uma mudança no regime. O caos é criativo. Pode gerar mudanças também para melhor. É esta a melhor armadilha para a esquerda: uma isca. Ela vê a possibilidade de mudança e seus olhos brilham, e vai atrás, não vendo que caminha para o abismo.

Os que financiam essas iniciativas com certeza saberão minimizar os riscos de que esses protestos se voltem contra eles. Não à tôa, a mídia já tem feito, desde as jornadas de junho, um malicioso jogo duplo.

Primeiro, fingiu apoiar as manifestações, mesmo com a violência ultrapassando todos os limites do tolerável, a ponto de repórteres cobrirem os protestos do alto de helicópteros para não serem agredidos, seja por manifestantes, seja por policiais (principalmente, sabe-se lá porque). O que acho ridículo. Manifestações minimamente civilizadas jamais agridem jornalistas. Agora, a mídia finge ser contra os black blocs, mas lhes dão um espaço que jamais nenhum outro grupelho jamais teve. Suas mensagens são reproduzidas em seus portais imediatamente após serem publicadas.

Estamos diante de grandes perigos, complexas armadilhas. Por isso temos que ser firmes. A defesa da ordem não é monopólio da direita ou da ditadura. A democracia também precisa de ordem. Jovens cheios de testosterona e fumaça podem se esquecer disso. O povo, não. Se a democracia não oferecer ordem, segurança e estabilidade ao povo, ele escolherá a ditadura.

A democracia, por isso mesmo, tem de se defender. O Brasil precisa de paz, para terminar de construir as estradas, ferrovias, hidrelétricas, pontes, refinarias, portos e aeroportos de que necessita para crescer economicamente e dar continuidade ao processo de distribuição de renda e melhora dos serviços oferecidos à população.

Não tem nada de progressista achar que o país deva ficar refém de grupos violentos, sem qualquer tipo de repressão. Aliás, a PM de São Paulo que cercou a manifestação inaugurou uma tática louvável. Os Pms não portavam armas. O número de feridos caiu drasticamente.  Esse é o caminho. Repressão inteligente, estratégica, apenas na medida em que a necessidade exige.

Até porque não me surpreenderia se alguns estados fizessem uma repressão calculada, justamente para produzir comoção nacional e estimular mais protestos.

Temos alguns pactos tácitos na nossa sociedade. Movimentos de sem teto e sem terra, por exemplo, tem suas liberdades. Podem invadir fazendas improdutivas e edifícios abandonados, porque a democracia precisa de alguns empurrões para avançar. Mas não há sentido em entender a democracia como um regime em que todos podem tudo. Não tem sentido permitir que jovens mimados quebrem agências bancárias, provoquem caos no trânsito, revirem lixeiras, invadam e depredem repartições públicas. E tudo isso sem objetivo, sem liderança, sem qualquer estratégia.

Não é assim que faremos o país melhorar. O Brasil precisa de inteligência, não de truculência. Se houver necessidade de sermos violentos um dia, que seja para defendemos a democracia, não para sabotá-la.

Fernando Brito:

View Comments (19)

  • Muito bom o seu texto, Miguel do Rosário!!!

    Concordo que não há nada de democrático em promover a baderna.
    Mudando de assunto, mas apenas para aprofundar este...
    Não é preciso sair da cadeira para observar que todos os protestos no mundo estão seguindo o mesmo "Modus Operandi". Fica óbvio que há algo orquestrado. Observe também que há uma relação clara entre os interesses dos EUA e esses protestos. Impossível não relacionar essas observações.
    A guerra de informação, da velha mídia, transforma qualquer grupelho em "manifestações anti-copa". Como se isso fosse realizado por metade da população do Brasil.
    A comunicação do governo precisa trabalhar mais. É necessário retirar a expressão "manifestantes" e dá o verdadeiro nome a esses que vão às ruas: "mercenários do golpe". Em ano de eleição, não podemos ficar querendo falar diplomaticamente com quem quer destruir a democracia.

  • Seria parte do famoso projeto Camelot, iniciado por Kennedy? Chomsky já falou nisso, nosso Argemiro Ferreira tem um livro sobre isso. Foi aperfeiçoado com as novas tecnologias lá pelas bandas do MIT?

  • "Esquerda" e "direita" se tornaram há muito apenas rótulos que servem de instrumento de desinformação para a CIA e seus aliados, capitães do mato da corporatocracia. Durante toda o período da guerra fria, de 1947 a 1990, a CIA et al. financiou grupos radicais tanto da extrema direita (fascistas e nazistas) como da extrema esquerda (Baader-Meinhof, Brigadas Vermelhas, ETA, IRA, trotskistas, anarquistas, etc.). O que importava então, como agora, era promover o terror, pois isso cumpria o que a CIA et al. denominaram de "estratégia da tensão". Esses são fatos documentados que pertencem à História e são relatados até em outlets da corporatocracia como "History Channel" e similares. Qual o objetivo da "estratégia da tensão" e porque ela atende aos interesses da corporatocracia? O objetivo é acabar com a democracia, como já conseguiram nos EUA e na Europa, por exemplo. A democracia é o grande inimigo da corporatocracia porque com informação e transparência ela fica exposta, o povo acabará por saber quem são os verdadeiros grandes criminosos sobre a face da Terra, os verdadeiros donos das drogas, do terror belicista, e estelionatários fabricantes de dinheiro...

  • Quando se tem eleições, ninguém precisa disto basta votar e mudar. No caso, que não tiver satisfeito que não vote no petismo, mas em que Sarney, Maluf, Jader... apoiar. Até mesmo na dita dura, quem fosse contra podia votar no MDB, a única coisa que Golbery e turma não permitia, com toda razão, era que velhacos brizolistas se candidatasse,

  • [ #naovaitercopa reúne inúmeros grupelhos de extrema-esquerda] Não existe isso: ou se é petista ou direitista safado, anti povo, canalha, brizolista,...

  • [ A nossa mídia é um caso perdido. Ela se vende a quem paga mais caro. ] assim ofende os maiores jornalistas desse país, como Nassif, PHA, Azenha, que sem os quais o petismo continuaria sendo a b* eleitoral de antigamente

  • Engraçado é quando na planilha de gastos com "saúde", inclui-se os gastos de uma empresa, mascarando-se as contas.
    Ai quando o MP denuncia, demonstrando a artimanha, o chefe do MP não a subscreve, e prefere arquivar.
    Na esteira dos jornais vem notícias (pejorativas, claro) da Petrobrás e da Dilma e pronto, nada aconteceu.

    Fora quando a Lei diz que os gastos deverão ser tais a partir de 2011, mas o Tribunal de Contas do EStado dá um prazo até 2014, como se coubesse à ele mudar a Lei!!!!!!

    Contra isso, não há "manifestação" nem "protesto", muito menos "notícia"!

  • Não há nada demais nessas manifestações, todo mundo tem o direito de protestar. Do ponto de vista em que se analisam as condições de vida do cidadão e das famílias, inegavelmente a vida melhorou. Não se pode negar essa transformação, milhões de pessoas saíram da miséria absoluta e outras ascenderam socialmente.
    Com todo o terrorismo econômico feito diariamente, tentando tirar o animo da população, mesmo assim a realidade é muito mais palpável e o brasileiro mostra sua crença no presente e no futuro. Todos sabem e acreditam que a vida vai melhorar cada vez mais. Então, porquê essas manifestações ? O que querem aqueles que estão protestando ? Temos vários níveis de governo, cada um com a sua responsabilidade. O dever de cada governante é procurar os meios de evoluir as condições de existência das localidades e populações que estão a seu encargo.
    O que fizeram os governos locais para oferecer melhores condições aos moradores de sua jurisdição. Como explicar ao cidadão que sua condição melhorou e o local onde vive não acompanhou essa mudança ? Saúde, segurança pública, educação, transporte entre outros não apresentou as melhorias que entendem possíveis. Não é difícil imaginar porque estão tentando se aproveitar de alguns grupos para desviar a atenção das pessoas focando em outras direções.
    Estão querendo criar confusão para se eximir da responsabilidade do que deixaram de fazer, misturando interesses que não são conexos e ver se a população embarca nessa.

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