Os grandes jornais fazem uma ginástica vernacular para dizer que Jair Bolsonaro, em seu discurso na ONU, “distorceu”, “fantasiou” e “delirou”, para ficar no que escreveram Estadão, Folha e O Globo.
Foge-se do verbo óbvio: mentiu.
Ana Carolina Amaral, na Folha, em texto sóbrio feito sobre os dados do Inpe e do Cadastro Rural mostra como é mentira o que disse o presidente, diantede toda a comunicade internacional, ao dizer que “uma parte considerável das pessoas que desmatam e tocam fogo é indígena, caboclo”.
Assentamentos rurais e terras indígenastiveram, respectivamente, 11% e 12% dos focos de calor registrados pelos satélites no primeiro semestre de 2020 e nem isso que dizer que eles foram responsáveis por eles, porque em ambos, além de ocorrênias acidentais, é possível que desmatamentos feitos por invasores podem ter gerado queimadas.
Em comparação, 50% dos incêndios ocorreram em grandes e médias propriedades rurais na Amazônia Legal, que inclui mais áreas já ocupadas pelo agronegócio. Considerada apenas as quatro áreas mais atingidas da Floresta Amazônica, este índice sobe para 72%, quase três quartos do total.
No Pantanal, nove grandes fazendas foram responsáveis pela carbonização de 1.417,73 km², uma área maior que a de todo o município do Rio de Janeiro.
Não é, em hipótese alguma, a prática tradicional da coivara, técnica ancestral da agricultura de subsistência, que tem séculos e jamais provocou desastres semelhantes.
Mas “índigenas e caboclo” serevem de cortina de fumaça para algo que devora a terra com mais força que as labraredas: o dinheiro.