Por que na Europa se combate crise com menos arrocho e aqui se faz o contrário?

O Banco Central Europeu dobrou as resistências da Alemanha – a “China” da Europa – e resolveu injetar dinheiro na economia estagnada do continente, tal como fizeram os EUA no pós-crise.

Os mais apressados vão responder à pergunta do título dizendo que, por lá, a austeridade eliminou o déficit públicoe os Estados gastam menos do que arrecadam.

Não é verdade.

Os países da zona do euro reduziram, de fato,  em 2013 o seu déficit público a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), 0,7% menos que no ano anterior.

Mas é um déficit que aqui, daria “fuzilamento” nas páginas de jornal.

E aqui, como se sabe, temos superavit, não déficit.

Mas estariam os países da Europa menos endividados que nós?

Absolutamente, não.

Nem se fale dos países em que a dívida explodiu, como Grécia e Itália. As poderosas França e Alemanha nos superam fácil, na proporção dívida pública/PIB com bastante folga (a lista completa pode ser consultada aqui).

Verdade que, nos países em desenvolvimento, com mercados mais instáveis, as taxas de remuneração do capital querem ser maiores.

Mas nada justifica que precisemos aqui estar no mesmo patamar da Rússia pós-crise do petróleo.

O quadro abaixo é um escândalo, embora, para sermos justos, já tenha sido um escândalo maior ainda, em tempos tucanos:

E o mais curioso é que não se pode atribuir, apenas, a dificuldades momentâneas a taxa de juros altíssima da economia brasileira o que acontece no país.

Tirando breves momentos ela sempre andou pelas alturas, tivesse ou não o país problemas de caixa.

O Brasil é prisioneiro do rentismo, um país onde deliberou-se que o lucro com juros deve ser sempre e muito maior que o com produção.

Um refém devidamente guardado por um mercado e sua mídia que “patrulha” e faz fracassar qualquer coisa que se assemelhe ao um capitalismo de empreendimento e risco. E, claro, qualquer indução ao desenvolvimento que se faça – e aqui só se faz assim – com financiamentos públicos.

O pior, portanto, não é sermos reféns do capital financeiro.

O pior é termos aqui, aquela famosa “Sindrome de Estocolmo”.

Onde o sequestrado apaixona-se pelo sequestrador e só raciocina pelas razões de seu captor.

Uma mórbida paixão que se espalha até por quem se diz de esquerda.

Fernando Brito:

View Comments (31)

  • Genial a comparação com a síndrome de Estocolmo.
    E genial o comentário:
    "Uma mórbida paixão que se espalha até por quem se diz de esquerda".
    Como resolver esse problema?

  • Os EUA é um país austero, gasta menos como Estado? Quem financia as guerras? Ah, devem ser os grandes investidores qwue atuam nos países periféricos, com os lucros exorbitantes que promovem, para continuar enfraquecendo qualquer economia nacional. Principalmente, as economias ricas em petróleo, pois não?

  • Como os juros internos que pagamos não têm, rigorosamente, nenhuma grande utilidade se não dar mais e mais lucros aos grandes rentistas (os pequenos, quando podem, aplicam na Poupança), deveria haver severa punição para os que aprovam/determinam aumentos da taxa SELIC, que redunda, na prática, em desvio de recursos públicos para os caixas de bancos ou contas de grandes rentistas. O povão precisa acordar quanto a isso, já que de nada adiantará esperar pelos parlamentares e pela mídia, interessados nos respectivos lucros.

  • A sobrevivência do capital demanda - dentre outras condições - a existência de "portos rentáveis (bem) além da média mundial praticada".

    O porto - relativamente - seguro ainda são os Estados Unidos. Mas ele não é tão rentável assim.

    Situações "mistas" - portos relativamente seguros, mas significativamente mais rentáveis - tornam-se mais do que desejáveis: tornam-se essenciais.

    O Brasil é um desses portos. A soberania das nações é relativa. O capital, com todo o seu instrumental ou aparato, tenta modelar o mundo, os países do mundo, a maior parte deles, a seu feitio. Duvido que nossa presidente quisesse fazer o "ajuste" que ao que parece estaria por fazer. Em boa margem, é um "ajuste" decorrente da chantagem quase inexorável do capital "globalizado". O risco dela não se dobrar à parte da chantagem, sabe-se, é a queda da tentativa histórica mais bem afortunada de construção de uma nação.

    Fala-se muito de ditaduras-países. Mas pouco se fala da principal das ditaduras: a do capital.

  • Gostaria de ver confirmada a notícia de que a cada dia o PT perde mais de dez associados que pedem para cancelar sua filiação e que isto já estaria causando enorme preocupação no partido que começa a tomar algumas medidas. Para o bem do Brasil e até para o do PT, esta é uma notícia terrível mas inevitável. Ora, se uma doença só se cura com cirurgia, por mais terrível que seja a expectativa da mesa de operações, há que se enfrenta-la. O PT, a se confirmar a notícia, fez por merecer. Este esvaziamento atinge o cerne da agremiação: a falta de operacionalidade. Assim, o PT pode estar caminhando para o fim. Terrível, mas não podemos esquecer que quem é de esquerda ou atua neste campo político não vai deixar de ser e atuar só porque deixa um partido que, já há muito tempo, falseia a sua identidade ideológica. Será um momento muito promissor a arregimentação destas forças para a formação de uma frente ou um novo partido, agora sim de esquerda, autêntico, corajoso e não pusilânime como o PT.

  • O Brasil é escravo dos banqueiros e do deus mercado e nenhum presidente, foi assim com Lula e está sendo com Dilma tem a coragem de encarar os banqueiros e nomear realmente uma equipe economica de esquerda para fazer nosso país crescer e se transformar numa grande nação.
    Dilma está sendo uma decepção para nós de esquerda.
    Se bem que Dilma nunca foi e nunca será de esquerda.

  • É um absurdo essa taxa de juros no brasil. Engorda os bancos que descem a lenha na presidenta, p´q eles ainda acham pouco pq na época tucana era muito maior. Quem tem $ hj prefere investir em ações e deixa de investir no Brasil. A população inteira paga a conta com juros altíssimos e se endivida cada dia mais. Até hj não discordei de nada do que Dilma fez, exceto seu silêncio com a mídia e a $ de publicidade. Mas agora fiquei com o pé atrás coim essa alta de juros de financiamentos/empréstimos, ainda acho que ela deve segurar o BB e Cx Federal pra baixar mais ainda e forçar os privados a baixarem tb. Taxar grandes fortunas até agora nada ...

    • Infelizmente eu sinto na pele o que a maioria dos paulistas têm (síndrome de Estocolmo), os paulistas sofrem e "gostiam". Moro no interior paulista e vejo o atraso que as "jestões de xoque" do PSDB fizeram em São Paulo.

Related Post