Por que não tem 2013 em 2015? A pergunta intrigante de Schymura

Retiro, do JB, um resumo da entrevista dada  ao Valor (restrita a assinantes) pelo economista Luiz Schymura, que não é, absolutamente, um “petista militante”, tanto que foi nomeado por Fernando Henrique Cardoso para a presidência da Anatel, em 2002, e antes atuara como consultor do governo, elaborando programas para a Agência Nacional de Petróleo e também o modelo de privatização de Furnas Centrais Elétricas.

Com a honestidade intelectual que deve marcar um estudioso da economia, ele diz, com todas as letras, que os problemas da economia brasileira e do gasto público não são  “culpa da presidente Dilma Rousseff”porque a forte desaceleração da economia brasileira não foi provocada pela “nova matriz macroeconômica” adotada pelo governo. “Segundo ele, é resultado do processo de democratização do país e das reivindicações da sociedade por melhores serviços públicos. Para o diretor do Ibre, o gasto público é crescente porque existe uma demanda da sociedade por mais democracia e melhores serviços públicos”.

Depois vi que a entrevista, excelente, foi reproduzida da íntegra pelo Nassif, no GGN e recomendo fortemente sua leitura. É direta, honesta e, muito interessante, é modesta, ao reconhecer que a mera aplicação de “regras” econômicas não considera o papel de sensibilidade e de justiça que se espera de um governante.

Mas há um trecho que me deixou intrigado e deixará assim também quem está há tempos com um elefante atrás da orelha sobre o significado das “jornadas de junho” de 2013, saudadas e bajuladas por muita gente boa.

Valor: Desde junho de 2013, com a eclosão dos protestos de rua, não ficou clara também uma demanda por melhores serviços públicos? 
Schymura: Já li e conversei muito sobre isso, mas ainda não vi uma resposta para o fato de que tivemos em 2013 o início daqueles movimentos de rua num contexto de queda do desemprego, aumento do salário médio real, inflação domesticada. A explicação que eu tenho é: as pessoas querem mais e querem serviços públicos decentes. Hoje, temos uma economia vivendo uma situação traumática, com contração do PIB de 2,2% [projeção do Ibre para 2015], inflação que subiu de 6% para quase 10%. Tenho dificuldade em entender como é que não há mais manifestações. 

Eu também, Dr. Schymura, eu também…

Fernando Brito:

View Comments (11)

  • JUMENTOS JUNINOS DE 2013
    by Ramiro Conceição

    1.
    Ah,
    quantos intelecas e suas cascatas;
    quantos édipos, lacaios e jocastas;
    quantos jumentos transatlânticos;
    quanta atriz-modelo-vila-madalênica;
    quantos mascarados de passeatas,
    mas filhinhos de papai e de mamãe;
    quanto jornaleco embrulho de peixe;
    quanto jornalista metido a besta;
    quanto publicitário com cabresto;
    quanto big-brother-globetrotter de bola de gude;
    quanta celebridade com a altura de um bueiro;
    quanta fashion week;
    quanta frescura no chiqueiro.

    Mas por quê? Ora, num tempo de SMARTS
    por toda parte, o entretenimento é o extasy
    da mediocridade pra nada.

    2.
    TODAMODAÉBOSTA
    BOSTATODAMODAÉ
    ÉMODATODABOSTA
    MODATODABOSTAÉ
    TODABOSTAÉMODA
    TODAMODABOSTAÉ
    ÉMODABOSTATODA
    TODABOSTAMODAÉ
    ÉTODABOSTAMODA
    BOSTAMODATODAÉ
    ÉBOSTATODAMODA
    MODABOSTATODAÉ

    PALAVRAS
    by Ramiro Conceição

    A mãe da “Inocência” foi uma castanha palavra latina conhecida por “Innocentia”. O engraçado é que etimologicamente o vestido da inocência é um morfema, um prefixo, “in”, com sentido negativo; sim, inocência quer dizer o contrário de “Nocens” que advém de “Nocere”, isto é, gerar ou permitir o mal. Logo, a inocência não causou, não causa e nunca causará danos civilizatórios.

    Por outro lado, “Ingenuidade” advém de “Ingenuus” que quer dizer “nascido livre” e consequentemente, na cultura romana, alguém oriundo da elite… Portanto, lá, um escravo jamais seria considerado ingênuo. A não ser, é claro, se houvesse naquele Império uma mídia à brasileira (um rebotalho de duplas sertanejas denominadas Roberto&Carlos, dublês de quinta da norte-americana Bob&Carl associada ao Pinóquio…) que se autodefinisse “independente”, mas via lavagem cerebral gerasse ? de médios energúmenos ? uma manada a crer que efetivamente pertencesse à classe dos ingênuos: os donos da boiada e da bolada.

    Ah… Como é bovina(!) a ingenuidade dessa classe média cuja face é hospedeira de um rancor colossal… Ah… como é hegemônica e espertalhona a ingenuidade dos dominantes sobre tais subseres cujo destino é a engorda ? e o abate!

    Neste instante, inventei uma parábola: se Corradini com sua “Modéstia” deu transparência à pedra fria, então é possível da ingenuidade, com ousadia, dar transparência ainda que tardia à inocência citadina.

    BUCANEIROS
    by Ramiro Conceição

    Eram de Road Town: sim, bucaneiros das Ilhas Virgens Britânicas… Naquele tempo, falaram muito em liberdade de expressão, mas pouquíssimas vezes se viu tão poucos enlamearem tanto a liberdade de imprensa; pouquíssimas vezes, tanto ódio brotou às escondidas para manter o status quo à manipulação política; pouquíssimas vezes se viu tão poucos dublês de jornalistas, no Brasil, a esconder tantos privilégios; sim, pouquíssimas vezes, tão poucos pistoleiros e pistoleiras tentaram tanto manter tantos em condições subanimalescas.

    PÁ DE CAL
    by Ramiro Conceição

    A rua, a casa, o casal,
    tudo acorda,
    até o Sol acorda depois
    do entregador de jornal.

    Mas
    o que de motocicleta
    o entregador entrega?
    Notícias?
    Certamente, não
    (tudo já foi mastigado).
    Análises?
    Claramente, não
    (tudo já foi deturpado).
    Educação?
    Obviamente, não!

    Afinal
    o que de motocicleta
    o entregador carrega?
    Não é um hábito, mas um vício!
    Então é preciso voltar ao início
    e, com alívio,
    jogar uma pá de cal.

    A rua, a casa, o casal,
    tudo acorda,
    até o Sol acorda sem
    o entregador de jornal.

    CAPIM
    by Ramiro Conceição

    Quando é verde o capim,
    irrelevantes são as flores,
    como come e declara
    milhões de capivaras.

    REPÚBLICA DAS CAPIVARAS
    by Ramiro Conceição

    Se Eric Arthur Blair reencarnasse; se nessa nova adolescência plantasse bananeira para ver, de novo, o mundo de ponta cabeça, e assim escrever poesia…; se não levasse muito a sério a formação acadêmica; se visitasse as favelas; se falasse português; se fosse brasileiro…; se um viajante fosse, a conhecer todos os bueiros latino-americanos…; se enfim constatasse ser um escritor e virasse, antes, um jornalista, não aquele costumeiro capacho do status quo, mas aquele outro que desenvolvesse mais uma vez, acima de tudo, um senso de justiça diante da miséria; se concluísse repetidamente que uma parte consideravel da classe média não passasse de um volúvel aglomerado disforme de violentos, fascistas e ignorantes; se voltasse a lutar, não contra Franco, Mussolini ou Hitler (já vencidos!), mas contra os donos da caverna brasileira – , de fato, escreveria o que estamos a contemplar: “O GOLPE DAS CAPIVARAS”.

    • Por questão de formatação do Blog, às vezes onde aparece "?" é um simples travessão "-".

  • Quando das manifestações de junho de 2013 comentei com várias pessoas "é o início de uma longa jornada de trajetória de declínio político e econômico".
    Questionado sobre o motivo de minha afirmação fui claro em demonstrar que aquele era um movimento de classe média como uma série de manifestações públicas ocorridas entre 19 de março e 8 de junho de 1964. O movimento classe mediano foi inspirado em outros movimentos mundo afora que ocorriam naquele momento e significavam a voz reprimida da classe média frente ao silencio desta com o Governo de Lula (o pão de fermento que quanto mais se bate mais cresce). Não se pode também deixar de esquecer de uma pequena parte da extrema esquerda insatisfeita.
    A mídia combativa de direita tanto fez que o movimento seria impossível de não ocorrer, e ocorreu.
    O resultado veio degradação econômica e política que estão bem claros no dia de hoje e acredito ter acertado na época.

  • Deixa eu chutar: classe média rentista, aí incluída boa parte do empresariado. Um ano antes Arno Augustin equacionara o problema da correção da caderneta de poupança que tinha seu 'rendimento mínimo anual' previsto na Constituição. Com a criação da "poupança-nova" permitiu-se baixar os juros da Selic para menos de 6% a.a.. O que inicialmente foi feito, ou tentado fazer melhor dizendo. Daí vieram as manifestações, os juros subindo, ano eleitoral, Joaquim Levy...
    Mas o "sequestro" das manifestações pela direita teve início aí, vai por mim.

  • Só lunáticos não compreenderam do que se tratava tudo aquilo que estava acontecendo em 2013 e quais eram os verdadeiros objetivos por trás de tudo. Outro dia lia que a merda do MPL estaria até mesmo se dissolvendo, é verdade?

  • José Horácio, ótima observação a sua, são vários fatos como também a regulamentação dos serviços domésticos.

  • O governo Dilma começou a ruir apos ela abaixar a Selic para 7,25 ( ou 7,50% nao me recordo exatamente). Ela mexeu com o lucro dos banqueiros e dos rentistas ( a classe media e rica que foram as ruas em junho de 2013). Como os juros ja voltaram acima dos 14% eles ja se acalmaram e assistem alegremente a crise do governo.

    • BINGO.
      Os rentistas existem desde que a Lei Áurea foi instituída. Os negreiros, donos de grandes fortunas, passaram a financiar o governo de D. Pedro II, que saiu construindo qualquer coisa para atender a demanda dos seus financiadores. Daí prá cá essa turma sempre briga por juros altos e receberam novo nome: Rentistas. É a turma do atraso, e em 2013 armaram todo aquele movimento porque a Dilma reduziu gradativamente a taxa Selic para 7,5%.

  • Li um texto de Jorge Furtado muito bom sobre a corrupção (no GGN). Um comentarista postou um vídeo do You tube "As pessoas felizes no Brasil", título de uma palestra do Leandro Karnal. Muuuuuuito bom. Vale a pena ver. Começo a acreditar que a vida inteligente está retomando com força. A gente é que não divulga.Ainda bem que não teremos 2013 de novo. Nunca consegui acreditar no MPL.

  • O tom do Valor nessa entrevista é, pra variar, nojento. Tenta caracterizar aumento de salário mínimo como um grande vilão e, inacreditável, quer fazer crer que a "grande obra" de Fernando Salieri Cardoso foi destruída por Lula e Dilma. Faça-me o favor! Salieri quebrou o país três vezes e todos os números dos anos PT são melhores que os seus.

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