Paulo Nogueira, em seu Diário do Centro do Mundo, traça um diagnóstico demolidor sobre o porquê de, com todo esforço da mídia a promovê-lo, o Ministro Joaquim Barbosa não se tornou um “herói do povo”. Ao que ele descreve, apenas uma coisa tenho a acrescentar: o menino pobre perdeu- se é que o teve tão forte – o amor pelas suas origens e atribuiu exclusivamente a si o sucesso que obteve.
Nenhum de nós tem esse poder. Somos todos frutos de circunstâncias, de oportunidades e, quando as minimizamos e passamos ver apenas em nossas pretensas virtudes a razão de nossa eventual ascensão, tornamo-nos mesquinhos e doentiamente vaidosos.
Joaquim Barbosa, por quem todos um dia nutrimos a simpatia natural em ver um de nossos irmãos negros ascender à mais alta Corte do país, embebeu-se do mesmo espírito excludente que impediu negros, pobres e nordestinos, tantas vezes, de terem a mesma oportunidade: o considerar-se superior aos demais, raiz e fonte do elitismo.
A generosidade é própria dos homens grandes, dos quais um dos maiores, gigante mesmo, agora está lutando contra a morte: Nelson Mandela. Um quarto de século enjaulado, uma sociedade racista pior, muito pior do que o racismo sobrevive hoje aqui, a morte brutal de amigos e companheiros, nada disso o tornou um homem transtornado pelo ódio.
Apenas humanidade, a força que o manteve vivo e ainda o mantém e, quando for a hora, ainda assim o manterá na memória histórica.
É por isso, essencialmente por isso, que Joaquim Barbosa derrotou a si mesmo.
Onde Joaquim Barbosa fracassou
Paulo Nogueira
E eis que o caso do Mensalão chega a seu clímax. De todos os personagens da trama, o mais extraordinário é, por razões óbvias, Joaquim Barbosa.
Com seu jeito bruto e tosco, com suas palavras duras e inclementes contra os réus, ele rapidamente se converteu num heroi do 1% — o diminuto grupo de privilegiados que tem sua voz nas grandes empresas de mídia.
O maior esforço das empresas de mídia, em relação a JB, foi tentar convencer as pessoas de que elas genuinamente admiravam o “menino pobre que mudou o Brasil”. Ou, numa expressão, o “homem justo”.
Não foram bem sucedidas nisso: a sensação que ficou, com o correr dos dias, é que aquela admiração é fingida. Joaquim Barbosa foi e é conveniente para o 1%, mas as informações que foram surgindo sobre ele tornam difícil qualquer tipo de admiração que não seja simulada.
Fora da fantasia do “homem justo”, não é fácil admirá-lo na vida real. JB não tem notório saber, não se expressa com charme e clareza, não escreveu livros ou artigos dignos de nota.
Também não é fácil admirar um alpinista profissional que é capaz de abordar – aborrecer, na verdade — alguém num aeroporto para tentar cavar uma promoção.
E nem parece digno de aplausos quem, numa entrevista, cita um episódio ocorrido há quase quarenta anos – a reprovação no Itamaraty — com a raiva desagradável que temos de alguma coisa ocorrida há dias.
O 1% triunfou no uso de Joaquim Barbosa para que defendesse seus interesses no julgamento do mensalão. Ele se revelou excepcionalmente suscetível à adulação da mídia. Ninguém parece ter acreditado tanto na admiração da mídia por JB quanto o próprio JB.
O fracasso do 1% foi na tentativa de fazer de JB um “heroi do povo”, alguém capaz de conquistar a presidência da república nas urnas e zelar pela manutenção de seus privilégios com o uniforme de “menino pobre”.
Este fracasso se deu, em grande parte, por força da internet. Nos sites independentes, as informações sobre o real Joaquim Barbosa permitiram compor um perfil bem diferente daquele difundido pelas companhias jornalísticas.
A relação promíscua com a mídia (notadamente com a Globo, que deu emprego a seu filho não por filantropia, naturalmente), o apartamento comprado em Miami com o uso de uma pequena trapaça para evitar impostos – coisas assim acabaram desconstruindo o perfil montado por jornais e revistas, ao se tornarem públicas pela internet.
Nas pesquisas presidenciais, seu nome aparece com números acachapantemente baixos e decepcionantes para quem tem sido tão promovido.
Se Joaquim Barbosa estivesse nos corações e nas mentes dos chamados 99%, ele estaria brilhando nas pesquisas. Seria um contendor poderoso para 2014, na pele do “homem que acabou com a corrupção”.
Mas não.
Por mais que a mídia tenha se esforçado para fazer de JB um “heroi do povo”, ele já é amplamente reconhecido como um representante daquele grupo predador que fez do Brasil um recordista mundial em desigualdade – o 1%.
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Perfeito. Porém muito generoso com o justiceiro.
Lamentável ! Única palavra que me vem a cabeça. Esse homem prestou um deserviço a democracia brasileira. Com a palavra o Frei Beto.
Como sempre, excelente o Paulo Moreira!
Não tenho ilusões quanto ao desfecho do julgamento no Supremo assim como também não tenho esperança de que este julgamento de exceção possa vir a ser revisto algum dia. O controle dos 1% é ainda poderoso!
Nogueira.
Um texto ideologicamente afetado e pobre em argumentos.
Como o relatório do JB no processo do chamado "mensalão".
Rico em argumentos é o seu comentário. Deve ser como o seu cérebro, se é que o tem.
Não tenho muita certeza. Quando o assunto é 'intenção de votos', o que mais pesa para a maioria das pessoas é aparência e charme. Em resumo, sedução. Joaquim Barbosa é um ser notoriamente sisudo, exatamente o que eu esperaria de um juiz da Suprema Corte, visto que é difícil abrigar imparcialidade, comedimento e jovialidade dentro de um só cidadão. Nossa mídia só está colocando JB em um 'teste vocacional', mas duvido que qualquer empresário midiático de direita acredite que dali saia algum coelho.
O respeito não é conquistado com sisudez e sim com competência. Trabalho com juízes e juízas que são competentes e, ao mesmo tempo, educados, joviais e justos. Bem diferente desse senhor que Lula teve a infelicidade de escolher para o STF. J. B. não aprendeu - ou faz que não sabe - que juiz não é parte no processo. A parte é o MP e a outra parte, o réu. Juiz só julga, e julga de acordo com as provas. Juiz não oculta nada e não desconsidera as teses da defesa como ele faz. Juiz aceita divergências, pois aquele que se acha injustiçado tem o DIREITO de RECORRER. Se ele acha que recorrer é uma afronta à superioridade de seus julgamentos, ele já pode subir ao céu e tomar o lugar de Deus, coisa que, ao que parece, ele pensa que é questão de tempo.
A falta de Educação Moral em todos os níveis da nossa sociedade, faz com que alguns se virem contra uns poucos, que mesmo c/ seus defeitos naturais de seres desse planeta, ainda tentam implantar nesse país um pouco de dignidade, decência e ética. Se houver algum resquício de dignidade em qualquer parte desse país, o correto seriam aplausos e não críticas que a nada somam. Abraços fraternos.
El Supremo é - mutatis mutandis - um Policarpo Quaresma às avessas pois, ao contrário do personagem do imenso Lima Barreto, prefere terminar seus dias em Miami. Triste fim.
não acredito em nada que venha desse senhor
Se o Lula, como presidente fez uma merda, esta foi a indicação deste sujeito chamado de Joaquim Barbosa.
Às vezes tenho vontade de esmirrar o Lula por causa disso.
Ele agiu como um capitão do mato e traiu, vergonhosamente, os 4 Ps: Os pobres, os pretos, as putas e o PT...