“A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”, frase atribuída ao médico e alquimista Paracelso deveria ser lembrada pela Presidente Dilma quando visse o que está produzindo a forma de fazer o “ajuste fiscal”.
Porque a forma “cavalar” com que se agiu ao colocar a ideia de que o país estava mergulhado numa crise e que seria necessário cortar e cortar despertou a oposição para arruinar o Governo justo no ponto que lhe é mais sensível: os direitos e vantagens trabalhistas.
Repete-se, hoje, o que ocorreu há dias com o fator previdenciário: o que não se deu, ponderadamente, quando havia condições políticas para fazer com prudência e escalonadamente, agora é atirado como fato consumado e, provavelmente, irreversível.
O reajuste dos aposentados nos mesmos moldes do salário mínimo – justo, como o fator 85/95 – vai ficar. E Dilma, de novo, vetará, para propor, talvez, uma fórmula “intermediária” que, se não for praticamente igual, será derrubada, como ainda se arrisca a ser derrubada a progressividade do fator.
O Governo está manietado por algo muito mais grave que a contabilidade pública: a política.
De um lado, pela estratégia de deixar que a inflação permaneça alta – e muito mais alta para o povão, pois ela é, basicamente, de tarifas de energia residencial e de gêneros alimentícios in natura, pois temos um Ministério para o Agronegócio e nenhum para o Abastecimento – e produzir uma elevação dos juros, como numa boa receita neoliberal e cortar despesas sociais e investimentos, coisa contra as quais, aliás, é Dilma a quase única barreira.
O efeito reverso é uma expectativa inflacionária maior e, com o grau de deterioração que a base parlamentar do Governo atingiu, fazer do Congresso um centro de “bondades” quem feitas da qualquer maneira, significam um comprometimento dos gastos grave, porque maior a cada dia, mês e ano.
O Governo Dilma, que não perdeu o rumo no longo prazo, precisa entender quem, sem o imediato, é o estratégico que fica comprometido.
Porque os nossos “bonzinhos” vão se aproveitando disso para enfiar nas votações situações que abalam o nosso futuro.
Serra vai “aliviar” a Petrobras, tadinha, do esforço de investir no pré-sal.
Os deputados patronais, tão generosos, aumentam as aposentadorias e reduzem-lhe o tempo.
Todo o discurso pela “austeridade” e pelo superávit – lembram desse termo da “moda”, que só reaparece para dizer que Levy não conseguirá alcançar? – se foi e a ordem é gastar, que Dilma paga.
Paga, inclusive, o preço do desgaste político.
Depois querem saber porque o Lula chia. Chia porque vê o Governo perder naquilo que, como relembrou o Ricardo Kotscho, ele disse ao assumir seu primeiro governo que era onde não se podia errar: na política.
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Falar é fácil. Fazer engenharia de obra feita também é.
O Governo tem dois anos para equilibrar a economia. Caso contrário, adeus 2018! Então, o ajuste é necessário, sim, senhor.
Quanto a errar na política, sempre se erra e se acerta. O próprio Lula, mesmo no melhor período, também cometeu erros. O maior deles foi não ter aproveitado o início do segundo mandato para encaminhar a reforma política e a regulação da mídia. Mas quem reclamou disso na época? Agora é fácil dizer.
Como é possível acertar na política com esse Congresso e com o Eduardo Cunha fazendo gato e sapato? Como é possível acertar na política com esse massacre dos meios de comunicação? Como é possível acertar na política com os poderes Legislativo e Judiciário condicionados pela mídia? Eu respondo: é impossível!
Queremos que o Governo resolva tudo, num momento em que o Governo pode muito pouco. A saída é, como já foi dito mil vezes, via movimentos sociais. Mas cadê? Essa mobilização já foi falada e prometida, mas, até agora, nada ou muito pouco.
Fora disso, só se o STF pegar o Cunha e, principalmente, se a economia encaixar, nesses tempos bicudos, em que um juiz do interior tem poderes para paralisar um país e em que as nossas riquezas (commodities) estão depreciadas.
Mas a economia vai encaixar. E o Lula vai, sim, vencer de novo, com uma Frente Ampla, apesar dos críticos e agourentos.
Leonel, ser crítico não é ser agourento. Ou não é este crítico - e outros mais - quem mais defende o Governo, enquanto muitos governistas gaguejam em questões essenciais?
Brito, você é o crítico; agourento é o Kotscho, quando diz:
“Lula já não esconde as causas do seu sofrimento e, melhor do que ninguém, sabe que estamos nos estertores de um ciclo político”.
Pow Leonel Inácio, vc falou tudo lhe apoio integralmente no seu comentário.
Todos os críticos tanto de Direita, como de Esquerda, logo depois das eleições no 1º turno, avaliaram as dificuldades de se governar, com esse Congresso Conservador, que tinha sido eleito. Agora só falam da incapacidade política da Dilma.
E por que em 2014, o índice de desemprego teve a taxa mais baixa, com toda Mídia massacrando, mas mesmo assim a #MídiaGolpista, continuava confundindo as cabeças das pessoas. E atualmente eu vejo os críticos ñ enxergando toda campanha de desestabilização do governo, através da Imprensa e dessa maldita Lava Jato, da oposição no Congresso. Quem quiser ajudar o governo, o Brasil, transfira os canhões para o PSDB, a Grande Mídia, o Juiz Moro e a boataria das redes sociais.
A Dilma tem uma grande dificuldade: ocupar o espaço político.
Dessa inação vem todo o resto.
Vai perdendo batalha após batalha pois a arena é ocupada só pela oposição. Assim o ajuste virou necessidade, os FHCs e Aócios prosperam livremente pois falam sozinhos, o moro se acha a reencarnação dos inquisidores a perseguir os bruxos dos 4P e o país parece estar à beira do precipício.
O governo federal não faz o contraditório e o discurso catastrofista da mídia em conluio com a oposição segue firme.
A liderança maior é a presidente. Dali é que tem de vir o exemplo.
Falar para platéias pequenas em inaugurações tem pouca relevância.
Tem é que ir para a TV e dar seu recado, dizer o que está sendo feito que é bem mais do que o cínico FHC fez.
O governo não está manietado pela política, mas pela incapacidade de fazê-la.
É isso aí.
Apenas um comentário: o governo manietou-se a si mesmo pois ninguem melhor do que ele tem condições e recursos para se fazer ouvir.
Falta apenas a VONTADE DE FAZÊ-LO.