Porque o “apagão” da seca é alardeado e o “secarrão” de São Paulo é compreendido?

Não, o Tijolaço não virou site de meteorologia, nem se associou ao famoso Cacique Cobra Coral.

Mas mostra o que jornal nenhum mostra, enquanto publicam as mais desastrosas previsões sobre a crise nos reservatórios de produção de eletricidade: que está chovendo a cântaros, desde ontem, nas principais represas do país.

E os jornais trazem manchetes só na base do agouro sobre o “apagão”

Qualquer um que more no Sudeste do Brasil sabe que tivemos um janeiro-fevereiro de seca como dificilmente alguém terá visto em sua vida.

E, é claro, nenhum governo – petista, peemedebista ou tucano – tem ingerência sobre o clima.

Exceto, claro, o fantástico Aécio Neves, que promete até chuva se for eleito.

Mas é inacreditável como se exime o Governo Alckmin dos problemas de abastecimento de água em São Paulo – e a irresponsabilidade como tem sido conduzido o manejo das águas – enquanto se tenta crucificar o Governo Federal pela baixa – muito menor – dos reservatórios de água para a geração ode eletricidade.

Como o castigo costuma vir a cavalo – pena que em cima da população também – um potencial colapso na geração de energia está muito, muito mais distante do que a concreta perspectiva de falta de água generalizada em São Paulo.

Coisa pela qual a gente torce contra acontecer e tem de ser justo, não é apenas culpa de Alckmin. Embora, sim, possa ser colocado na conta dos tucanos o problema dos reservatórios, porque embora isso seja obra demorada, 20 anos de PSDB poderiam ter feito mais na questão do abastecimento. E o próprio Alckmin poderia ter antecipado as mudanças no manejo da água e em medidas de racionalização do consumo.

Vamos lá, para que a gente entenda como é que se pode, sem ser adivinho, dizer isso.

No post anterior, a gente mostrou que o nível dos reservatórios de geração de energia parou de cair vertiginosamente, como vinha acontecendo até a primeira quinzena de fevereiro.

Situação em 14 de fevereiro de 2014

No dia 10 de fevereiro, este blog reproduziu a análise da meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo, de que a temporada de chuvas, atrasada deste o início do ano, finalmente tenderia a se normalizar.

Vou mostrar o que não tem sido dito nos jornais, mas está á disposição de todos no site do Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Os dois quadros aí mostram a acumulação de água nos reservatórios do Sul e do Sudeste e a variação de seus níveis, comparados à véspera e ao que havia 30 dias antes.  São as duas últimas linhas da tabela, mais importantes do que apenas olhar o nível, pois mostram a tendência.

Situação em 5 de março de 2014

É só olhar e ver que parou de cair.

E vai subir significativamente nos próximos dias, com chuva forte nas bacias dos principais reservatórios em situação mais crítica: Três Marias, Furnas e os demais das bacias do Rio Grande, do Paranaíba e do baixo Tietê.

E é por isso que a gente foi buscar o relato da mesma Josélia Pegorim,  que montou o mapa lá do alto, sobre o qual eu apliquei a posição das usinas hidrelétricas em pior situação no Sudeste e mais Três Marias, que apesar de ser em Minas, regula a vazão para o sistema Nordeste (Sobradinho, as várias unidades de Paulo Afonso, Xingó e Itaparica ) para dizer o que os jornais não dizem e não mostram.

Isso não vai resolver o problema, claro, mas vai fazer com que se reduza muito.

E porque essa chuvarada toda não vai ajudar São Paulo? Porque o curso do Rio Tietê, ao contrário do que acontece com a maioria dos rios brasileiros, não é para leste, mas para Oeste e São Paulo precisa de mais chuva na porção mais próximma ao litoral do Planalto Paulista.

E esta ainda foi pouca.

A contrário do que aconteceu com o sistema elétrico, a queda de nível do sistema Cantareira não parou.

Mesmo com a redução do uso da água em cerca de um terço (o valor em vermelho), o volume acumulado caiu quase 3% desde o início do período de chuvas.

Mas qual é a razão, então, de só agora começarem a sair matérias mais  extensas sobre o assunto, enquanto no setor elétrico estamos há dois meses com uma campanha do “vai apagar”?

Simples, caros leitores, é que o terror elétrico vale dinheiro, muito dinheiro, além de seus dividendos políticos.

O Governo está fazendo o que devia fazer, que é procurar preservar os recursos hídricos com o uso da geração térmica, mais cara.

E as empresas elétricas estão tentando forçar que o limite máximo de preço seja aumentado, evidente que às custas do Tesouro.

E a falta de qualidade, o partidarismo e o despreparo dos jornalistas que cobrem o tema ou o negligencia ou, simplesmente, esconde.

A história é essa, clara como a água que, enfim, começou a cair.

Portanto, perdoem-me se “larguei” a política e a economia para, com a ajuda do ótimo trabalho da meteorologista Josélia Pegorim, mostrar o que está acontecendo com algo que afeta profundamente a política e a economia.

E falar das únicas nuvens carregadas que há, de fato, sobre o Brasil, neste momento.

Ainda bem.

Fernando Brito:

View Comments (11)

  • Parabéns Fernando exelente e esclarecedora matéria. O Chuchu do Alckimim ta assando.

  • Alem da previsao do tempo, gostariamos tambem de horoscopo e palavra cruzada. To pagando.....

  • Quanto à Sabesp que deveria ter mitigado o desperdício , através das empreiteiras tucanalhas nestes 20 anos, segundo a carta capital, continua limpinho e cheiroso!

  • Parabéns pelo bom jornalismo. Coisa rara hoje em dia.
    Como o tema é muito complexo é importante cada vez mais que o mesmo seja abordado seriamente, com justificativas claras. Senão caímos na mão dos "interesses" do capital. Imaginem como estaríamos agora se não fosse a intervenção do estado em garantir a mínima regulamentação do setor depois da sacanagem que foi a privatização. Ainda hoje fazendo compras no supermercado me surpreendo com a capa do "maior" jornal do RS junto ao caixa: "FALTA DE AGUA AMEAÇA ATÉ PLANO B DA ENERGIA" Bem sem mais comentários…. estava esquecendo de dizer que o tal famoso jornal é filiado da GLOBO!!

  • O 'Picolé de Chuchu" está adiando ao máximo o racionamento de água em São Paulo porque sabe que isso vai ser um tema bem QUENTE em outubro. Isso vai ser o seu "batom na cueca" e não vai adiantar muito culpar São Pedro.

    Só que no meu entender, ele está colocando em grande RISCO toda população que depende exclusivamente do Sistema Cantareira, caso as chuvas não cheguem com grande intensidade nos meses vindouros.
    Não tenho elemento para avaliar as previsões, mas pelas informações disponíveis, a pior situação seria o esgotamento em agosto próximo.
    Mas e DEPOIS, como fica?
    O uso do tal do "volume morto" vai ser mesmo viável?
    Já estão tomando as devidas providencias?
    Será que vai ser "simples" usar esse recurso - uma "bombinha" aqui, um "caninho" ali?
    E se até o final do ano a "seca" continuar?
    Provavelmente a culpa recairá no PT, pós eleições, como sempre...

  • É importante ler esses 2 textos do DCM, o primeiro mais esclarecedor e de arrepiar. O princípio ativo é o mesmo do apagão de 2001: falta de investimento dos gestores tucanos excepcionais.

    Publicado em 1/fev/2014

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-a-falta-de-agua-em-sao-paulo-e-alarmante-e-a-culpa-nao-e-so-do-calor-recorde-e-da-seca/

    Publicado em 12/fev/2014
    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/seca-nordestina-em-sao-paulo-por-que-o-cenario-do-abastecimento-de-agua-e-dramatico/

  • Fernando, coisa estranha. Compartilhei essa nota no Facebook e a foto que sai é a de Dilma e Lula no cumprimento do Alvorada, ontem. Não é o mapa do Sudeste, não. Tenho tido a impressão que o Facebook está fazendo política no Brasil. Toda vez que compartilho algo com Aécio Neves não sai o comentário que faço ou saem duas letrinhas. Isso já várias vezes.

  • Caro Fernando,

    O que NINGUÉM da imprensa está dizendo é que as nascentes do Sistema Cantareira estão secando...e não é por falta de chuva durante 3 meses. Este tempo é muito pouco para secar o enorme Sistema Cantareira. Ocorre que há muito tempo o governo tucano de SP vem incentivando o plantio de EUCALIPTO (planta exótica que seca as nascentes próximas) em toda a cabeceira do sistema. Resultado: destruição do Sistema Cantareira...e não é de hoje. É só andar por Bragança Paulista, Piracaia, Joanópolis, Monte Verde e adjacências e ver que matas nativas foram derrubadas para dar lugar a plantios de eucalipto com o cínico nome de REFLORESTAMENTO...e tudo com o aval do governo tucano de SP....isso sim, é choque de "JESTÃO" !!!!

  • CARAMBA, FERNANDO ... o que o Waldir (6:44) está falando é pertinente. Vc não tem como ver isso com um especialista. Essa região que o Waldir fala é um verdadeiro "mar de eucaliptos" .. Tem sentido. Muito sentido. Alguém aqui do blog pode palpitar sobre isso?

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