Para a burrice e a subserviência imperarem em um país, é necessário que a seu povo impeçam de produzir e disseminar Cultura. E não só a sua, mas conhecer e digerir a que vem do mundo, como sempre foi muito antes da globalização, porque cultura é também absorver, processar e sintetizar, como o que é: um alimento.
Criado em 1985 – 26 anos depois do primeiro Ministério da Cultura do mundo, na França – o nosso MinC passou por vários governos, mas foi no primeiro mandato do presidente Lula, sob a batuta de Gilberto Gil, que a cultura começou a ser vista pela importância de sua diversidade e pluralidade.
Esses últimos 14 anos mudaram a cena brasileira resgatando aspectos culturais que são a nossa referência como cidadãos brasileiros. O Brasil que não se conhecia começou a se enxergar nos palcos, nas salas de cinema, nos livros, na música.
Pois foi esse o Ministério desta Cultura onde a gente se vê e se transforma o primeiro assassínio político do Governo da Usurpação.
Por economia? Não, mesmo.
Para se ter uma ideia, do ponto de vista orçamentário, o Minc representa 0,5% do Orçamento Geral da União. São 2.500 funcionários trabalhando e pensando a cultura do país, que representa 1,5% do PIB.
E com capacidade de gerar muito mais, inclusive porque não há um lugar onde a cultura brasileira, em todas as artes, não encante o mundo.
É porque cultura é, para esta gente, mercadoria comum, destas que se compra e vende: quem pode, vai à Brodway, quem não pode vê na Globo; O que ela quiser, aliás: seja das coisas boas que produz, seja do lixo que despeja a viciar seus espectadores.
A extinção do Minc vai gerar, em efeito dominó, demissões e desestruturação da atividade cultural no país. Isso terá impacto direto na vida das pessoas do interior e das periferias. Pois o que acontecerá é a volta ao passado, quando atividades de qualidade ocorriam somente nos centros das grandes cidades.
O Sistema Nacional de Cultura corre risco de se desarticular e o Plano Nacional de Cultura será paralisado, não há o que esperar.
O programa Cultura Viva pode, na mais otimista das previsões, sofrer cortes orçamentários, mas, na prática, acabará sendo deixado de lado. A extinção do programa é uma questão de tempo, pouco tempo, aliás.
O Vale Cultura, para ser operacionalizado, precisa de muitos funcionários e estrutura e já está sendo desmontada. Políticas de Promoção da Diversidade? Vai acabar tudo!
O IPHAN, que é um dos órgãos mais importantes do MinC, pois autoriza obras e tem poder de fiscalização e polícia, com o seu provável desmonte, servirá aos interesses da especulação imobiliária.
O caso mais emblemático será o Estelita. Poderão derrubar tudo e construir as torres gigantes no centro de Recife com uma simples canetada do Presidente do IPHAN.
A fusão da Cultura com a Educação é um engodo. Trata-se de um desmonte da cultura do Brasil.
Assim define Pedro Vasconcellos que, até ontem, era o Diretor de Políticas Culturais Estudos e Monitoramento do Minc:
Queremos um casamento da Cultura com a Educação, onde duas políticas andem juntas lado a lado, preservando suas identidades, onde a cultura contribua para a qualificação da educação e a educação contribua par ao desenvolvimento cultural. Isso que eles fizeram ontem é o casamento forçado do Coronel com a filha do outro Coronel que vende o dote, representa uma visão de mundo atrasada e reacionária.
Artistas brasileiros escreveram Carta Aberta em defesa do MinC e várias organizações, artistas e intelectuais do mundo todo deverão se manifestar. Com a extinção do MinC, o Brasil vai virar um pária internacional na área da cultura.
Para o ex-ministro Juca Ferreira:
O Brasil construiu um Ministério da Cultura contemporâneo, preparado para lidar com os problemas que remanescentes do século XIX, todos os do século XX que continuam ai, e já enfrenta os novos do século XXI. Portanto conseguimos produzir uma grande capacidade de enfrentar essa complexidade que é o Brasil, com essa fusão retrocedemos mais de 30 anos de esforços do estado brasileiro com a política cultural
Em seu facebook, o ex-ministro postou a Despedida de “Todos juntos” do MinC.
A luta contra o retrocesso proposto por um governo golpista não poderá parar, nem um minuto sequer.
(Reflexões sobre o fim do MinC)
Quem não tem compromisso com a cultura brasileira não tem compromisso com o povo brasileiro.
Ou tem um: o de não permitir que ele tenha identidade e, tendo identidade, pense seu país.
View Comments (20)
Não podemos esquecer a Magrit, ex quase cunhada de fegacê. Sumiu. Desapareceu na Costa Rica?
COLONIALISMO E BANCA
A palavra cultura enseja enorme variedade de significados. Abraham Moles (Sociodinâmica da Cultura) afirma existirem mais de 250 definições. Aqui a tomaremos no sentido de um conjunto de práticas, ideias, valores e costumes que caracterize um grupo social. Quanto mais específico este conjunto, mais restrito o grupo. No entanto, podemos desde já afirmar que o idioma será básico para qualquer identidade cultural.
Observando a expansão europeia dos séculos XV e XVI, verificamos a progressiva transformação de populações africanas até pela simples necessidade de comunicação com os invasores europeus, sem que qualifiquemos estas invasões por qualquer escala de valor. Mas é indiscutível que todas as populações subsaarinas, exceto a Tanzânia, tem como língua oficial de seus países a dos invasores.
Outro fator transformador é a crença espiritual, religiosa. Para Portugal, esta condição de propagador da fé era primordial. Vemo-la nos Lusíadas e no Regimento de Dom Manuel a seus representantes junto ao “Rey d’Angola”:
“confiamo-vos essa missão com a finalidade principal de averiguar se o rei de Angola deseja realmente ser cristianizado ........ fomos informados que ..... poderão ser encontradas algumas minas de prata ......... Deus antes e acima de tudo, mas tenhais em mente também o ouro.”
O aspecto mais marcante para todos nós, de países colonizados, sempre foi a transferência de nossas riquezas naturais e do resultado de nosso trabalho para o colonizador. E efetivamente ocorreu assim nas Américas, na África e na Ásia, até o século XX. Esta é apenas uma das questões sobre o colonialismo, a apropriação das economias. Com as independências políticas, principalmente no século XX, não mais a fé e o idioma, já devidamente implantados, mas novos padrões culturais iriam dar continuidade ao modelo colonial.
Um desses padrões veio com a institucionalização do sistema de poder. O historiador, político e diplomata indiano K.M. Panikkar, em palestras proferidas na École des Hautes Études de Paris, 1959, publicadas sob o título “Problemas dos Novos Estados”, chama atenção para o sistema democrático parlamentar imposto para substituir “estruturas tradicionais, afastadas durante o período colonial”. Este sistema estava fadado ao insucesso, exatamente por não guardar identidade com as relações sociais mantidas pelas populações, ainda que sob o domínio colonial. E, por toda África e Ásia, vimos surgir “ditaduras” após a “independência”, como previu o Embaixador da Índia na França.
Evidente que para os colonizadores, e assim exploraram em jornais, revistas e até teses acadêmicas, o que estaria ocorrendo não seria a continuidade do absoluto desrespeito das potências coloniais às culturas de todos os povos do mundo, mas a inferioridade sociocultural daqueles “bugres”, “incultos”, “moralmente atrasados”.
Entramos, então num novo campo, absolutamente elitista, desumano e discriminador. Uma dualidade formulada e difundida com todo dinheiro que uma potência econômica poderia dispor: a da dimensão cognitiva e moral, base dos trabalhos de Talcott Parsons, o mais divulgado sociólogo norteamericano do século XX. Um dos seguidores de Parsons, Fred W. Riggs, elaborou o “modelo prismático” para análise socioadministrativa dos países. Países atrasados, doutorava Riggs, estabeleciam relações estritamente pessoais e os avançados as tinham impessoais. Entre estes extremos, classificava os que mais se aproximavam e os que se distanciavam do padrão “made in USA”.
Esta dualidade, por exemplo, que nos ensina sermos orientais. Surpreso, prezado leitor? O Ocidente está apenas no Atlântico Norte: Canadá, Estados Unidos da América (EUA) e Europa Ocidental. Nada dos balcânicos, dos eslavos e muito menos dos latinoamericanos e africanos. Somos todos, por complemento geográfico, orientais. Mas, apesar disso, somos convocados a defender os “valores ocidentais” (!). Amarga ironia.
Esta situação neocolonial, até então identificada pelos impérios ou potências coloniais, tomou novo rumo com a “globalização”, que nada mais é que a “licença para matar” do 007. Ou seja, invadir todo o mundo, ignorando leis e culturas, para estabelecer a supremacia absoluta do capital financeiro internacional – a banca.
Se eu fosse tomado pelo cinismo, diria que a banca é a apoteose da tese marxista do capital espoliador sem pátria.
Efetivamente não podemos tratar de Governos Ocidentais. São todos iguais, têm o mesmo discurso, os mesmos projetos, os mesmos métodos, em suma, a mesma sujeição à banca. Poderia discorrer sobre as reações que já surgem, naquele Ocidente, como propostas de emancipação regionais, projetos nacionalistas da saída do euro e até a exclusão da Comunidade Europeia.
A banca atropela tudo, até a si mesma, no processo de permanente concentração de renda e poder. Observe que a banca é distinta dos bancos, embora atue por meio deles. A banca é a detentora do poder decisório em países e em empresas tão distintas quanto uma petrolífera e uma produtora agrícola. Ela também, pela própria formação do capital, é corrupta e corruptora. Utiliza as mais modernas tecnologias da informação para espionagem, grampos e provocar falências empresariais e empobrecimento e desemprego nacionais. Ela atinge o âmago da individualidade e da cultura dos povos.
Se sob o domínio da dualidade parsonsniana, tínhamos o complexo de viralatas, sob o império da banca nem ouviremos latidos pelas ruas. Seremos zumbis, mortos vivos caminhando ao léu, sem sonhos, sem ideais, sem alma.
O golpe que agora atinge o Brasil é fruto da banca, planejado desde 2003, que teve em sua preparação a atuação decisiva do Judiciário e da mídia oligopolista, intenso treinamento de agentes nos EUA e, como é óbvio, muito dinheiro para subornar, corromper, chantagear e conseguir, para humilhação dos nacionalistas, um governo neoliberal, alienando tudo que for brasileiro.
Nenhum pudor há em seus protagonistas. Afinal quem é a banca senão os narcotraficantes, os ditadores corruptos, os ociosos magnatas capazes, sem qualquer rubor, de “sortear” o ministro militante do PSDB para julgar, por crimes, o presidente do PSDB? Assistiremos apenas traição e luta pelo butim. Mas a História é a marcha da humanidade pela liberdade. Mais dia, menos dias, estes vitoriosos de hoje encararão os postes de malhação de Judas em sábados de aleluia, como nos ensinaram durante a Inquisição.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
Texto brilhante! Conciso e conclusivo. Sr. Pedro, apesar de assinar embaixo de suas análises, sem nenhuma crítica, se me permite acrescentar, o quadro analisado em seu texto é tão surreal, tão distópico, que carrego a mais pura convicção de que o mesmo nada mais é que o canto do cisne dentro do ovo. Impossível que se concretize, nem em parte, nem integralmente. Isto porque o mesmo se baseia em tamanha arrogância e desvario que se afasta por completo da realidade humana em seus princípios mais elementares. Seria preciso que fôssemos outra espécie para que tal plano pudesse dar certo. Comparo o projeto de poder "da banca" (vou começar a utilizar esta terminologia, com sua licença) com a possibilidade de auto-suficiência humana na lua. É quase uma questão biológica. Ser humano é, por definição, ser social. Há necessidades profundas sob forte pressão, como beber água (não é uma metáfora!), e que vão além de qualquer possibilidade de sublimação, manipulação, ou negligência pessoal que possam adiá-las por muito tempo. E como tal projeto não se concretiza se não for integralmente, quebra-se na primeira rachadura. Tenho plena certeza de que o projeto dos donos do poder globalizado não passará da página um. Mas, esta certeza não se concretiza como otimismo, infelizmente. Não deixarão ao mundo mais do que destruição. E, na melhor das hipóteses, muito aprendizado. Meus respeitos!
Nada melhor do que um ignorante imbecilizado do quilate desse mendoncinha para ministro da educação e da cultural. Vão acabar com o Brasil. A qualidade desse ministério é abaixo da crítica. A cultura já foi destruída e a educação vai ser destroçada com esse mula quadrúpede.
O ministério do usurpador.golpista,corrupto,canalha,espião dos USA,conspirador, traidor e boi sonso é uma desgraça foge de toda ética é imoral e marginal, deviam estar todos trancafiados em um presídio de segurança máxima.Isso é um acinte a Nação. Seria ridículo se não fossem um bando de assaltantes do sonho de um País próspero e Soberano.
Não existe nem uma instituição a nos defender da vergonha pela qual estes canalhas expõem o Brasil diante do mundo.
Somos piada como País e como POVO.temos que derrubar essa ditadura de merda!
Para dominar um país é necessário destruir sua cultura, seu orgulho e sua identidade nacional. O futebol, importantíssimo para nós, fator de orgulho nacional e patriotismo do povão, já foi por eles sistematicamente destruído e precisa de um renascimento. O Brasil precisa resistir.
Até a FIFA dá o exemplo elege-pela-primeira-vez-uma-mulher-para-ser-secretaria-geral.
O que podemos esperar de um informante do governo estadunidense?
O cara atua contra o proprio pais! Temer é um calhorda, um traidor.
Pra que curtura. Nois semo tudo incurto memo. Teno pão, água, e furtibol nois já veve bem. Bamo tocano o barco cumpadi. O que tá pio pode inda piora.
Por favor, cuidado com as simbologias. Se tua fala foi inculta, inculto também foi Adoniram e tantos outros neste país. Não confunda as coisas.
O que eu quis dizer, acho que não me fiz entender, e que sem um forte incentivo a cultura este país vai de mal a pior.
E aquela mulherada que gritava fora Dilma, vendo a sua espécie sendo banida do Ministério como se lixo fosse. Sendo tratadas como pilotas de fogão e estorvo administrativo. O que não estarão pensando? Apoato que logo, logo vão gritar em coro: Volta Dilma e Fora Temer.
Pois é Rui, essas mulheres sem noção estão agora satisfeitas? Como estão se sentindo de ver nosso país retroceder e se tornar um estado totalitario ? Porque não estão desfilando na Paulista com seus cartazes para saudar o Conde Dracula e sua turma vinda diretamente da Transilvânia? E aí coxinhada, aguardamos seus relatos dos sucesso retumbantes do teu vampiro preferido. Aproveitem para dar uma espiada no Clipping dos jornais estrangeiros no Carta Maior e verão o que o mundo inteiro está vendo. Continuem atentas/os coxinhadas para usufruírem de tudo que plantaram com tanto ódio e incivilidade. Aproveitem para curtir o mundo dantesco que vocês construíram com tanto esmero.
É que o machismo ainda é um patrimônio cultural neste país. Cada elite preserva o que lhe serve.
Burrice é achar que precisa de um ministério pra cultura espaço, Muitos países não têm e a cultura vai bem obrigado .
É
a gente quer viver pleno direito
a gente quer e ter todo respeito
a gente quer viver uma nação
a gente quer e ser um cidadão
É
a gente não tem cara de panaca
a gente não tem jeito de babaca
Isto também é cultura companheiro.
Só é preciso considerar em que contexto se deu a extinção deste ministério, colega. Não foi por boa fé, nem a crença capitalista de que cultura também esteja sujeita às leis de mercado. Seria ruim se fosse, mas é pior. A ideia é distanciar o Governo de qualquer setor da sociedade que se encontre minimamente organizado para reivindicar ou questionar ações "administrativas", além, claro, do que já foi dito quanto a cultura ser um setor estratégico para a sociedade. Não havendo administração de recursos para cultura, não é preciso receber nenhum artista de renome (e o Brasil tem muitos) pra receber críticas ou erguer o pires. quem vive de cultura, seja de esquerda ou de direita, tem a mesma como sacerdócio, algo pelo qual sua vida faça sentido. Isto paira sobre qualquer questão. Um mínimo de consciência social é prerrogativa de quem é artista de verdade. Não qualquer zé-ruela que apela pra tudo como meio de vida e chama a isto de arte. Artista não é BBB.