Quando o Globo deixa seus repórteres trabalharem em paz, e esquece por um momento as suas paranoias vintage de guerra fria, surgem boas matérias. Neste domingo, o jornal traz uma matéria excelente sobre o potencial econômico do pré-sal.
Segundo a matéria, o pré-sal irá movimentar R$ 3,7 trilhões nos próximos 30 anos e gerar 87 milhões de empregos.
Considerando que o Brasil, à diferença de outros países produtores, não depende da venda de petróleo para viver (temos muitas outras fontes de renda), e como aprovou leis destinando a totalidade dos royalties do pré-sal para saúde e educação, esses R$ 4 trilhões podem transformar rapidamente a economia nacional.
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Pré-sal criará 87 milhões de vagas em 30 anos, estima FGV. Leilão de Libra, amanhã, será crucial
DANIELLE NOGUEIRA e BRUNO ROSA, NO GLOBO
19/10/13 – 22h05
Marcado para amanhã, o leilão da área de Libra, o primeiro do pré-sal sob o regime de partilha, dará mais fôlego à economia brasileira. Estima-se que os investimentos no pré-sal para os próximos 30 anos movimentem US$ 1,7 trilhão (cerca de R$ 3,7 trilhões) no país — considerando efeitos diretos na cadeia produtiva de petróleo e gás, impactos indiretos em outros segmentos da economia e aqueles induzidos pelo aumento da renda dos trabalhadores. Para se ter uma ideia do que representa esse montante, o PIB (conjunto de bens e serviços produzidos) do país em 2012 atingiu R$ 4,4 trilhões. No mesmo horizonte de 30 anos, estima-se a criação de 87 milhões de empregos, também com impactos diretos, indiretos e efeitos da esperada alta de renda. Libra será fundamental nesse futuro.
O cálculo considera as previsões de investimentos para o pré-sal do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e seus impactos macroeconômicos apurados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O IBP estima que o pré-sal receberá diretamente US$ 700 bilhões em recursos que serão aplicados na fase de exploração e desenvolvimento da produção (o chamado capex). A maior parte desses recursos está concentrada nos primeiros sete anos de atividade. Outros US$ 700 bilhões serão consumidos ao longo da produção do campo (o chamado opex).
A conta trilionária se baseia em uma reserva do pré-sal estimada de 50 bilhões a 60 bilhões de barris de petróleo, incluindo as áreas onde já houve descobertas e as que ainda serão descobertas. O volume projetado para o pré-sal na área em que já houve descobertas soma 15,4 bilhões de barris. Há ainda Libra, na Bacia de Santos, com reservas estimadas entre oito e 12 bilhões de barris. Para se ter uma ideia do tamanho da potencial riqueza que existe sob o sal, a reserva provada brasileira, que considera basicamente o petróleo encontrado no pós-sal, soma hoje 15,7 bilhões de barris.
Segundo João Carlos de Luca, presidente do IBP, dos US$ 700 bilhões previstos para o desenvolvimento de plataformas e atividades de perfuração de poços, US$ 100 bilhões irão para Libra e outros US$ 100 bilhões estão sendo direcionados para as áreas que já iniciaram a produção, como Lula (Bacia de Santos), Baleia Azul e Jubarte (ambas na Bacia do Espírito Santo). O restante, diz, é o investimento mínimo para as áreas que já foram mapeadas, mas ainda não licitadas:
— Se pensarmos nos custos de manutenção dessas unidades, que ocorrem ao longo de 30 anos, podemos pensar em mais US$ 700 bilhões como efeito na cadeia de serviços. Por isso, os efeitos serão permeados em toda a indústria naval e de equipamentos submarinos. Depois, quando já estiverem produzindo, é a vez de segmentos como o de helicópteros, barcos de apoio, alimentação e hotel.
Foi sobre esse efeito dominó na economia que se debruçou o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Ibre/FGV. Partindo de premissas como custo operacional e cotação do barril de petróleo, ele concluiu que, para cada R$ 1 bilhão investido no capex, há uma injeção na economia de cerca de R$ 2,45 bilhões. Aplicando essa relação aos US$ 700 bilhões estimados pelo IBP para a fase exploratória e de desenvolvimento do campo, chega-se ao US$ 1,7 trilhão de impacto na economia nacional. No cálculo de criação de empregos, o economista incluiu na conta ainda os gastos operacionais.
— Sem dúvida, o setor de petróleo vai crescer em importância. Mas a economia do Brasil não é só petróleo. Os números impressionam, mas esses efeitos são diluídos ao longo do tempo. Mesmo em relação à criação de vagas, temos que lembrar que a indústria petrolífera é intensiva em capital, não em mão de obra — pondera Holanda Barbosa Filho.
A corrida para explorar o pré-sal já começou, com encomendas de 29 sondas de perfuração e 28 plataformas de produção. Entre 2013 e 2017, a Petrobras e os seus parceiros vão investir em Exploração & Produção no pré-sal US$ 105 bilhões. Um dos principais projetos são as sondas. Segundo a Sete Brasil, empresa contratada pela estatal, serão investidos US$ 25 bilhões, dos quais US$ 15 bilhões aplicados na indústria brasileira até 2020. O projeto envolve ainda cinco estaleiros nacionais, dos quais dois em construção, como o Jurong, no Espírito Santo, e o Paraguaçu, na Bahia.
— As sondas serão entregues de forma escalonada. A primeira será em 2015. A Petrobras vai usar em qualquer uma das áreas. Pode ser Libra ou outra. Os efeitos serão sentidos em toda a cadeia. Esse investimento já começou, com a construção dos estaleiros e a criação de fábricas. Dos US$ 15 bilhões, cerca de US$ 10 bilhões vão para a cadeia de fornecedores, como a de redes e cabos elétricos e tintas — detalha João Carlos Ferraz, presidente da Sete Brasil.
O projeto das 29 sondas — 28 serão afretadas para a Petrobras e uma será usada pela Sete Brasil no mercado livre — envolve a criação de 39.200 empregos diretos e 117.600 indiretos. Somente para operar as sondas, a Sete estima a criação de outras 8,4 mil vagas, além das 25,2 mil indiretas.
Setor de aço é beneficiado
De olho em toda essa oportunidade, as empresas correm com os investimentos. Um exemplo é a Brasco, empresa de apoio logístico da Wilson,Sons. Segundo Renata Pereira, diretora-executiva da Brasco, a companhia, que já opera uma base na Baía de Guanabara, em Niterói, comprou uma segunda unidade, no Caju, por R$ 121,9 milhões. Agora, investe R$ 100 milhões em obras de infraestrutura no local.
— O objetivo é estar preparado para as oportunidades do pré-sal — afirma Renata, lembrando que o estaleiro do grupo passa por ampliação.
Além de aquisições, a estratégia inclui a modernização das fábricas e a aposta em pesquisa. É o caso da Tenaris, que acabou de destinar US$ 180 milhões à compra de prensas de tubos de aço em sua fábrica em São Paulo. Mario Marques, vice-presidente de P&D, diz que o pré-sal precisa de tubos mais resistentes, aptos a resistir ao processo de corrosão devido à grande presença de gás carbônico nos reservatórios. Além disso, investe mais US$ 39 milhões em um novo centro de pesquisa, no Parque Tecnológico da UFRJ, na Ilha do Governador
— O pré-sal demanda muita tecnologia — diz Marques.
O setor de aço é um dos mais beneficiados. Segundo José Adolfo Siqueira, diretor-executivo da Associação Brasileira, da Indústria de Tubos e Acessórios de Metal (Abitam), o pré-sal pode fazer com que o petróleo, que hoje responde por entre 15% e 20% dos 2,5 milhões de toneladas de tubos de aço produzidos no país, chegue a 35% em dez anos.
— Mas isso só será alcançado se o governo conseguir manter a rotina dos leilões. Não pode ter soluço— afirmou.
Bruno Musso, superintendente da Onip, diz que o pré-sal assegura a sustentabilidade das encomendas, criando ambiente propício ao investimento.
— Para o empresário, o complicado é trabalhar em um ambiente de incerteza. O pré-sal dá a garantia de um ciclo permanente de oportunidade. Mas ainda há desafios, como inovação e mão de obra.
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Essa matéria não deve ter sido vista pelos donos do Globo! É bem verdade que ela é bastante factual, não extrapola para o campo da política, não faz qualquer elogio ao novo modelo de exploração do petróleo. Talvez isto já tenha sido considerado suficiente já que esconder o tesouro do pré-sal e os seus impactos na economia do Brasil ficará cada dia mais difícil. Vamos torcer pelo leilão e que os resultados comecem a aparecer, para desespero da oposição!
A matéria é animadora . Só fiquei com pé atrás com esta frase no final "— Mas isso só será alcançado se o governo conseguir manter a rotina dos leilões. Não pode ter soluço— ", ou seja o que virá pela frente, qual a capacidade da Petrobras entrar como majoritária nos próximos leilões. De repente o Globo fica otimista trazendo uma matéria como esta na véspera do leilão. Epa!
Concordo com teu ponto de vista, Fernando, mas confesso que fico preocupado com os próximos leilões. As grandes irmãs estão de olho grande. Se retiraram taticamente nesse, mas virão quentes nos próximos, e aí a Petrobras vai ter que ter bala para encarar eles.
A matéria é muito esclarecedora. Não vislumbrei possíveis vieses. Obrigado ao Miguel do Rosário. Jamais iria, de moto próprio, beber nessa fonte pigosa.
O BRASIL PODE MAIS............MAIS JUROS.............MAIS MENOS GOVERNO......MAIS MENOS NACIONALISMO. O POVÄO CLAMA POR MAIS MEDICOS ,MAIS DENTISTAS, MAIS EMPREGOS ,MAIS CASAS,MAIS TRANSPORTES,MAIS PROFESSORES ,MAIS ESCOLAS.............O PSDB E O fhc DEVEM UMA EXPLICAÇÄO PARA A SOCIEDADE:NOS OITO ANOS DE DESGOVERNO DO PRINCIPE DA PRIVATARIA,ONDE ESTAVA O DINHEIRO DO BOLSA FAMILIA ,DO MINHA CASA MINHA VIDA,DO FIES,DO PAC 1 e 2.......ETC... ETC.A TURMA DO LADO DE LÁ NUNCA FOI CHEGADA EM CIMENTO AREIA E BRITA.
FHC não teve competência nem de achar o pré-sal... Claro, só estava preocupado em sucatear a Petrobras para vendê-la baratinho aos amigos...
PSBD é um MAL para o país. Um MAL com todas as letras em maiúsculo.
Cadê a xiita Bláblárina-Tucarina com seu tripé de sustentabilidade "disruptural" bancária para comentar esse assunto? Deve estar passando o final de semana pensando num jeito de bater no governo com o assunto pré-sal sem correr o risco enraivecer todas as empresas envolvidas? Como até os bancos vão se beneficiar com os desdobramentos dos investimentos no pré-sal...
Mesma coisa para o Aético Never!, com sua infâmia escanteada até pelo PiG aliado.
E o Dudu Campriles? Vai falar o quê?
São os financiadores privados do PiG que mandaram seus jornais controlados produzirem essas notícias com o real viés, o positivo, porque dessa montanha de dinheiro e investimentos eles também vão se beneficiar.
Resumindo: O pré-sal, no governo Dilma, traz os financiadores do PiG para a salutar participação da sua cadeia produtiva e imobiliza a militância opositora do PiG. É o PiG provando do seu próprio veneno!
Ah, as próximas pesquisas...
Espanto! A uma semana atrás poderia jurar que nunca veria isto publicado no globo. Com certeza não teve o apoio de Adriano Pires. De Luca é do ramo e é sério
Até o maior representante do PIG (Partido da Imprensa Golpista) tem que admitir. O modelo de exploração aprovado no governo Lula é o melhor e por isso é atacado tanto pela esquerda fossilizada quanto pela direita neoliberal. Éum modelo coerente e equilibrado, um exemplo de como a iniciativa privada e o Estado podem aliar-se em prol dos bons negócios para uns e das boas políticas para outros. Viva o Brasil, daqui a trinta anos estarei morto, ou quase, mas fica a herança para nossos filhos e netos. Tenho orgulho de ser PT!!!!
Melhor que isso, só se for verdade!!!
Qdo. penso no que poderia ter acontecido ao BRASIL se 'cerra' fosse presidente, sinto arrepios pela espinhela...