Presidenta, a comunicação mudou. Mesmo que a grande imprensa seja a mesma…

Hoje, em seu discurso aos ministros, a Presidenta Dilma Roussef pediu a seus ministros que “travem a batalha da comunicação” e que  “levem a posição do Governo à opinião pública”.

Com toda a sinceridade, o pedido da Presidenta lembra uma cena de um dos melhores filmes de guerra produzidos nos últimos anos – na verdade, já há 14 anos – e bem pouco conhecido aqui.

Chama-se “Inimigo às Portas” – título aqui no Brasil acho que foi “Círculo de Fogo”, o mesmo de uma porcaria de ficção –  e se passa na Stalingrado sitiada pelas tropas hitleristas, há longos 73 anos.

Os soviéticos, cercados, acossados e bombardeados tinham homens, mas não tinham armas.

Na primeira sequência do filme, eles fazem um contra-ataque aos alemães.

Mas são poucos os fuzis.

Formam-se então, duas linhas. A frontal está armada. Atrás deles, os soldados têm as mãos nuas.

Devem pegar o fuzil do companheiro à sua frente, quando forem abatidos e continuarem a ofensiva.

Uma batalha monstruosa e, ao mesmo tempo, de tanta tenacidade humana que levou Carlos Drummond de Andrade a escrever, em seu poema “Carta a Stalingrado”:

Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.

Como Stalingrado, o Governo Dilma está cercado por poderosos engenhos bélicos, prontos a destruí-lo na – a expressão é da própria Dilma – ” batalha da comunicação”.

E, francamente, tem contra seus inimigos –  bem à porta, quando não porta adentro –  menos e piores fuzis: os tais famosos “controles remotos”.

O personagem central do filme, Vassili Zaitzev  – personagem real, ou tão real quanto o cinema é capaz de fazer ser,  que escreveu memórias e morreu em 1991 – é apenas um “franco-atirador”, mas tem uma terrível precisão e, como é um só e a munição é escassa, não desperdiça balas: alveja os oficiais do nazismo e os torna medrosos, inseguros.

As armas da “batalha da comunicação” que o governo quer travar são, no mínimo, ingênuas.

Almoços com jornalistas, entrevistas e mesmo comerciais institucionais caprichados não fazem mais efeito sobre os tais “formadores de opinião” como fariam há sete ou dez anos atrás.

A comunicação mudou e a formação da opinião pública, hoje, acontece principalmente nas redes sociais.

Neste campo de luta, o Governo não tem nada.

Nem o rifle  Moisin Nagant de Zaitsev.

Muito menos aqueles soldados da segunda linha, dispostos a tomar da arma possível e seguir na carga.

Todos os processos de transformação e  muito mais as revoluções cuidaram de ter a sua imprensa, desde a Revolução Francesa e seus Marat, Robespierre, Desmoulins e Prudhomme.

Mas os governos do PT, mesmo depois de atingidos pela mais pesada e torpe artilharia, parece que continuam a crer no pacto de “não-agressão” que firmou com o empresariado midiático, a começar pela Globo, e espera que tudo possa ser resolvido na “boa conversa”.

Mesmo que, para isso, tenha de neutralizar e expor às balas seus poucos – e  certamente menos precisos – Zaitzevs.

O pedido da Presidente é uma impossibilidade.

Seus homens e mulheres de modos finos e que querem passar, na mídia, como “os bons” dentro de um mau governo produzirão miados, não rugidos.

E não é “culpa” deles, afinal.

Como pode haver uma batalha se não se declara guerra?

Fernando Brito:

View Comments (48)

  • Perfeitamente. Como pode haver uma batalha se não se declara guerra? E digo mais: com raras e honrosas exceções, temo a participação dos ministros nessas incursões bélicas junto à mídia. Dá para imaginar Katia Abreu, Aldo Rebelo e aquele bispo, por exemplo, falando sobre suas respectivas pastas? para ouvir coisas como "não há mais latifúndio no Brasil" e o negacionismo das mudanças climáticas pregado pelo nosso -deusmeperdoe- ministro da Ciência e Tecnologia, francamente, é melhor assinar um armistício logo.

  • Parece até a letra da música de João Bosco: "vencer satã só com orações.

  • Sempre votei no Lula desde a primeira vez que ele se candidatou. E é sempre assim, depois da eleicao eles saem pra comemorar com o inimigo. Voltam a lembrar do que tem o que fazer 4 anos depois. To ficando cansado deste papo furado.

  • gostei muito desse filme, principalmente pq o personagem principal existiu de verdade é um Herói do Exercito vermelho!!..o sbt anunciou o filme nestas chamadas de cinema que fazem todo o inicio de ano...depois quase 10 anos daquela chamada eles exibiram o filme!!!

    Segue pequena sinopse/técnica do filme:

    Circulo de Fogo – Rússia/França – de Jean-Jacques Annaud. Com: Jude Law, Ed Harris, Rachel Weizs, Joseph Fiennes, Bob Hoskins, Ron Perlman, Eva Mattes, Gabriel Marshall-Thomson, Matthias Habich, Sophie Rois, Ivan Shvedoff, Mario Bandi, Hans Martin Stier, Clemans Schick, Mikhail Matveev. Gênero: Guerra. Roteiro: Jean-Jacques Annaud, Alain Godard. Duração: 131 min. Ano: 2001. Sinopse: Outono de 1942 - A Europa está esmagada sob o domínio dos nazistas, que estão no auge do poder. Um último obstáculo resiste, uma cidade russa: Stalingrado. Enquanto os exércitos nazistas e russos arremessam fileiras de soldados uns contra os outros e o mundo aguarda temeroso o resultado da batalha de Stalingrado, o tímido e modesto atirador Vassili Zaitsev (Jude Law) é apenas um homem comum que realiza sua tarefa com uma habilidade extraordinária. Ao perceber seu potencial para a propaganda, Danilov (Joseph Fiennes), um oficial político soviético, transforma esse simples soldado em um herói nacional, um símbolo da resistência russa. O sucesso de Vassilli obriga uma reação alemã, que envia seu melhor atirador, major König (Ed Harris), para perseguir e matar Vassili, que já não tem mais onde se esconder. A guerra entre dois países será decidida na batalha entre dois homens.

    • Esses homens(e mulheres)que veceram essa batalha e derrotaram o nazismo são os maiores herois da hitória da humanidade, deveriam ser homenageados sempre todo ano.O Exército Vermelho e a URSS derrotaram o nazismo enquato os EUA apenas assistiam e lucravam(embora tivessesm um grande estadista e verdadeiro democrata na presidencia nessa época:Franklin Delano Roosevelt).E para desespero do nazistas e reacionários de hoje e de sempre a cidade se chamava STALINGRADO.

  • A Argentina não tem este tipo de problema, pois a destemida presidente Cristina Kirchner convoca a rede de concessionárias de rádio e tv e fala diretamente aos argentinos sobre as tentativas de golpe contra seu governo e contra o bravíssimo povo argentino.

    Se o governo Dilma pelo menos convocasse Franklin Martins para ser seu porta-voz...

    • Pois é, com Ley de Medios e tudo, a Sra. Kirchner está sendo acusada de assassinato. E é provável a derrota do governo nas próximas eleições.

      Acho que estão valorizando muito o efeito sobre a opinião pública, dos jornalões de São Paulo e do Rio.

      Como o próprio texto diz, a comunicação mudou e nada mais arcaico de que jornal de papel.

      Agora, as "redes sociais" ainda não atingem o Povão Brasileiro. Além disso, é preciso descobrir como um governo pode se intrometer institucionalmente nas tais redes.

      Parece que a esperança era comunicar através dos blogs, mas eles estão praticando intensamente um "fogo amigo", característico da esquerda, mais pesado que o da oposição.

    • Luis CPPrudente,
      Dilma não pode fazer isso, quem pode é o Congresso. Vamos pressionar nossos Dep./Sen. a fazê-lo na LOA, agora em fevereiro. Há 20 dias a Assembléia Legislativa da PB fêz isso aqui no Estado, remanejou toda a verba de publicidade (do Estado e Estatais) para outros setores (deixou-a a zero.Que tal uma campanha nacional na web nesse sentido?

  • A Dilma sempre foi mais tecnocrata e gerente que política. Neste segundo mandato, mais distante dos dois governos Lula, Dilma parece (até ela mesma provar em contrário com ATOS) está cada vez mais mostrando ser uma personalidade dupla. Uma política de esquerda (de origem trabalhista e posteriormente petista) que aprisionava dentro de si e oculta, uma ferrenha economista conservadora.
    Parece que neste segundo mandato a até então desconhecida "economista monetarista interior" dela parece estar querendo sair do armário e atropelar inapelavelmente a política presidenta petista e tomar controle do corpo da mandatária. Para o absoluto espanto dos eleitores que lhe re-elegeram. Recomendamos ao Partido dos Trabalhadores uma urgente seção de exorcismo deste Exu da Escola de Chicago que aparece agora depois da campanha como um espírito obsessor prestes a tomar conta da entidade eleita...

  • A Dilma sempre foi mais tecnocrata e gerente que política. Neste segundo mandato, mais distante dos dois governos Lula, Dilma parece (até ela mesma provar em contrário com ATOS) está cada vez mais mostrando ser uma personalidade dupla. Uma política de esquerda (de origem trabalhista e posteriormente petista) que aprisionava dentro de si e oculta, uma ferrenha economista conservadora.
    Parece que neste segundo mandato a até então desconhecida "economista monetarista interior" dela parece estar querendo sair do armário e atropelar inapelavelmente a política presidenta petista e tomar controle do corpo da mandatária. Para o absoluto espanto dos eleitores que lhe re-elegeram. Recomendamos ao Partido dos Trabalhadores uma urgente sessão de exorcismo deste Exu da Escola de Chicago que aparece agora depois da campanha como um espírito obsessor prestes a tomar conta da entidade eleita...

  • Só Getúlio, Jango e Lula não nunca trairam os trabalhadores . Presidente Lula recebeu o pais com apagao, inflação em 13%, reservas negativas , taxa de juros 26%, desemprego em 13%. Não tirou direitos dos trabalhadores e ainda criou o fome zero e bolsa família

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