Presidenta, os bois precisam de nomes e o país, de ações concretas

Finalmente, o Governo começa a sair de seu imobilismo e inicia alguma reação contra a onda golpista que se levanta, ameaçadoramente, contra ele.

A decisão de chamar os partidos da base de apoio para encararem a conversa fiada das chamadas “pedaladas fiscais”, a adoção de medidas protetivas ao emprego – embora isso seja muito restrito aos metalúrgicos de montadoras, que tem esta bandeira há muitos anos, mesmo quando o emprego “bombava”  – e a entrevista na edição da Folha de hoje (leia abaixo), são esperadas e demoradas atitudes que apontam na direção correta.

Debelar o pico da crise exige mais, porém.

Primeiro, compreender que sua superação exige, obvio, macropolíticas econômicas mas não dispensa as ações pontuais para limitar os danos de elevações brutais de preço, que potencializam uma escalada irracional e, muitas vezes, imotivadas de aumentos pelo “efeito arrastão” que provocam na percepção da economia. Transformado em “assunto menor”, o governo abriu mão de todos os seus mecanismos de interferência nos preços de gêneros que estão criando, um após outro, uma percepção de descontrole geral, como vêm fazendo, sucessivamente tomate, batata e, mais recentemente, cebolas.

Não, é especialmente cruel porque atingem em cheio o consumo mais popular. O preço da cesta básica nas capitais, essencialmente por conta deles, teve variações acumuladas de até 30% em cinco meses (janeiro a maio deste ano). Exceto Manaus, com 8% de aumento, todas as outras 17 capitais pesquisadas tiveram aumentos superiores a 10%, o dobro da inflação do período.

Não há leitura da população sobre ações contra isso, que a atinge todos os dias, com muito mais impacto com a conversa de superavit para cá, gasto público para cá.

A segunda questão é que, e a cada dia se torna mais difícil, por um freio na cumplicidade entre os órgãos de investigação do caso Lava Jato (que, ao que parece, tem jurisdição sobre tudo e qualquer coisa, em todo o território nacional), métodos escandalosamente arbitrários (prisão até a confissão “desejada”) e vazamentos que tornam ridículas as decisões de não dar aos acusados acesso a “delações” que são fornecidas apenas à Veja, ao Estadão, à Folha…

Como não é papel do Ministro da Justiça cobrar da Polícia Federal o respeito ao sigilo da investigação, que garante não apenas sua eficiência como a indispensável isonomia entre todos os que são envolvidos por ela? E não é dever dele exigir que se esclareça, de imediato, situações gravíssimas como escutas ilegais, clandestinamente instaladas dentro da própria Polícia Federal, que um agente e um delegado apontam como ordenadas por delegados de confiança do chefe local?

Mas o que acontece é que o próprio diretor geral da PF vai aos jornais dizer que Cardozo, com ele, só trata de assuntos administrativos. Sei lá, compra de clipes de papel ou grampos? Grampos não-telefônicos, bem entendido.

Por último, o nome aos bois do golpismo.

É preciso nominá-los e deixar a população esclarecida sobre quem são, a começar por Aécio Neves, FHC e a tropa de choque tucana e peritucana, os derrotados na eleição.

Nem mesmo é indelicado, a esta altura, batizar os integrantes da boiada, pois eles próprios mugiram seu golpismo em alto e bom som, no domingo, em sua convenção, quando incitaram seus partidários na base do “preparem-se, vamos chegar ao poder antes do que imaginam”…

E, a esta altura, com o desgaste do governo e o clima de derrocada espalhado pela mídia sem tréguas, todos os dias, dá aos adeptos do golpe um poder corrosivo sobre as instituições, cujos integrantes se preocupam em escolher entre ser parceiros da desgraça ou se deixarem cooptar pelos novos possíveis donos do poder.

Na economia, na administração e na polêmica, tudo é política. E política, quando nos empurram para o impasse, tem de ser enfrentada com decisão e clareza, para que a população possa ter referências.

Não se está sugerindo arranjos, irregularidades, composições espúrias, mas ações reais e comunicação política incisiva. Isso é algo que, até em grego, a população entende e, majoritariamente, espera de quem recebeu seu voto.

Leia, abaixo, a entrevista de Dilma à Folha:

Folha – O ex-presidente Lula disse que ele e a sra. estavam no volume morto. Estão?

Dilma Rousseff – Respeito muito o presidente Lula. Ele tem todo o direito de dizer onde ele está e onde acha que eu estou. Mas não me sinto no volume morto não. Estou lutando incansavelmente para superar um momento bastante difícil na vida do país.

Lula disse que ajuste fiscal é coisa de tucano, mas a sra. fez.

Querido, podem querer, mas não faço crítica ao Lula. Não preciso. Deixa ele falar. O presidente Lula tem direito de falar o que quiser.

A sra. passa uma imagem forte, mas enfrenta uma fase difícil.

Outro dia postaram que eu tinha tentado suicídio, que estava traumatizadíssima. Não aposta nisso, gente. Foi cem mil vezes pior ser presa e torturada. Vivemos numa democracia. Não dá para achar que isso aqui seja uma tortura. Não é. É uma luta para construir um país. Eu não quis me suicidar na hora em que eles estavam querendo me matar! A troco de quê vou querer me suicidar agora? É absolutamente desproporcional. Não é da minha vida.

Renúncia também?

Também. Eu não sou culpada. Se tivesse culpa no cartório, me sentiria muito mal. Eu não tenho nenhuma. Nem do ponto de vista moral, nem do ponto de vista político.

A sra. fala que não tem relação com o petrolão, mas está pagando a conta?

Falam coisas do arco da velha de mim. Óbvio que não [tenho nada a ver com o petrolão]. Mas não estou falando que paguei conta nenhuma também. O Brasil merece que a gente apure coisas irregulares. Não vejo isso como pagar conta. É outro approach. Muda o país para melhor. Ponto.

Agora excesso, não [aceito]. Comprometer o Estado democrático de direito, não. Foi muito difícil conquistar. Garantir direito de defesa para as pessoas, sim. Impedir que as pessoas sejam de alguma forma ou de outra julgadas sem nenhum processo, também não [é possível].

O que acha da prisão dos presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez?

Olha, não costumo analisar ação do Judiciário. Agora, acho estranho. Eu gostaria de maior fundamento para a prisão preventiva de pessoas conhecidas. Acho estranho só.

Não gostei daquela parte [da decisão do juiz Sergio Moro] que dizia que eles deveriam ser presos porque iriam participar no futuro do programa de investimento e logística e, portanto, iriam praticar crime continuado. Ora, o programa não tinha licitação. Não tinha nada.

A oposição prevê que a sra. não termina seu mandato.

Isso do ponto de vista de uma certa oposição um tanto quanto golpista. Eu não vou terminar por quê? Para tirar um presidente da República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a realidade, ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma base real.

Não acho que toda a oposição que seja assim. Assim como tem diferenças na base do governo, tem dentro da oposição. Alguns podem até tentar, não tenho controle disso. Não é necessário apenas querer, é necessário provar.

Delatores dizem que doações eleitorais tiveram como origem propina na Petrobras.

Meu querido, é uma coisa estranha. Porque, para mim, no mesmo dia em que eu recebo doação, em quase igual valor o candidato adversário recebe também. O meu é propina e o dele não? Não sei o que perguntam. Eu conheço interrogatórios. Sei do que se trata. Eu acreditava no que estava fazendo e vi muita gente falar coisa que não queria nem devia. Não gosto de delatores.

Mesmo que seja para elucidar um caso de corrupção?

Não gosto desse tipo de prática. Não gosto. Acho que a pessoa, quando faz, faz fragilizadíssima. Eu vi gente muito fragilizada [falar]. Eu não sei qual é a reação de uma pessoa que fica presa, longe dos seus, e o que ela fala. E como ela fala. Todos nós temos limites. Nenhum de nós é super-homem ou supermulher. Mas acho ruim a instituição, entendeu? Transformar alguém em delator é fogo.

Tem gente no PMDB querendo tirar a sra. do cargo.

Quem quer me tirar não é o PMDB. Nã-nã-nã-não! De jeito nenhum. Eu acho que o PMDB é ótimo. As derrotas que tivemos podem ser revertidas. Aqui tudo vira crise.

Parece que está todo mundo querendo derrubar a sra.

O que você quer que eu faça? Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam.

E se mexerem na sua biografia.

Ô, querida, e vão mexer como? Vão reescrever? Vão provar que algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido.

Fernando Brito:

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  • Os derrotados nas urnas vão ganhar o "doce" deles se tentarem o golpe.

  • Olhem o nível da entrevista da repórter da 'Felha'. Fazer o q, né? O sobrenome da moça é Frias... Tem golpe correndo nas veias.

    Mas, nossa valente Dilma não piscou! Hahahaha!

  • Pelo menos a presidente mostrou que vai reagir e não vai entregar a rapadura de mão beijada.

    Isso deixa a penca de covardes da oposição ressabiados. Qual seria a reação do governo? Prender os golpistas? Tentar tirá-la da presidência sem base legal, obviamente, é crime.

    Durante o dia vão ser muitas as bravatas da direita em relação à entrevista, mas no momento só podem ladrar.

    Se o governo, como disse o Brito, mostrar que está trabalhando, que tem uma agenda voltada para os trabalhadores, pode reverter o atual quadro.

    Os golpistas sabem há limites. Apesar da literatura jurídica do Moro abrir mão das provas para condenar, se o governo mostrar que está vivo, que vai reagir e está em sintonia com sindicatos, movimentos sociais, vai assustar a direita.

  • Enquanto Dilma não afastar o inoperante e traidor do Ministro da Justiça, nada poderá ser feito. Afogue-se sozinha, ......

  • Pelo visto colocaram uma colegial para entrevistar, nivel baixissimo, bem ao estilo atual da nossa midia, dai não sai nada que preste.

  • Finalmente Dilma e o governo começaram a sair das cordas.

    Finalmente. Antes tarde do que nunca.

    Vamos ver. Gostei que a Dilma finalmente caiu na real e saiu da "mudice". Só achei fora de tom o "Eu não vou cair, não vou, não vou". De resto, acho que a presidente sentiu o baque.

  • Dentre os bois a serem nominados, não devem ser deixados de fora os nomes dos que comandam o sitema GAFE - Globo-Abril-Falha-Estragão.

  • Parece que ela sabe de tudo o que dizemos todos os dias nos blogs. Ta faltando ação mesmo?

  • (Esboço de Carta aberta à Presidenta Dilma)

    FRENTE à austeridade, sem hesitação, o oprimido e humilhado povo grego acaba de dar um exemplo ao mundo, com o pungente OXI dado aos seus algozes.

    Que sirva de inspiração à nossa governante maior, cuja história admirável de heroísmo individual
    tem que dar lugar ao heroísmo épico de defesa da nossa gente.

    Diga OXI à austeridade e diga, de viva voz, OXI ao golpe, presidenta!

    Não delegue mais este dever para com a História!
    Não haverá outra chance de fazê-lo!

    A AL, Galeano nos mostra, é repleta de exemplos históricos de restaurações reacionárias, sanguinárias, que triunfaram sobre os povos.

    Não pense que entre opositores da sua presidência falta ânimo de matar (animus necandi) a presidenta, seus aliados e até seus eleitores. Diga, tantas vezes quanto necessário, OXI aos ultraneoliberais radicalizados, neonazis carecas ou cabeludos e neofundamentalistas que mercadejam a religião!

    Agora é seguir a canção de um conterrâneo seu: nada a temer, senão o correr da luta/nada a fazer, senão esquecer o medo!

  • Fernando,
    historicamente a justiça brasileira foi lerda, e continua lerda. Na palhaçada do mensalão, entretanto, ela foi super-hiper rápida. Sem provas apelou para a estranhíssima doutrina do domínio do fato. Alguém continuou aplicando a teoria? Já MORO “aprimorou” o esquema: prende antes de julgar e condenar. E delator (=traidor) virou herói para muitos. Quem vai derrubar a “Bastilha” dessa justiça tupiniquim? Mexam-se senhores juristas...

    • Penso nesta imagem da Bastilha, também. Afinal, a Revolução Francesa não tratou apenas de derrubar o rei, mas também de desalojar a nobreza do controle do estado. Por aqui a nobreza sem título e seus servos controlam importantes setores do estado, mas não tem um dos seus na chefia do executivo. Esta é a guerra que se dá no Brasil atualmente: nobreza que vê vantagens particulares em continuar colônia X novos inconfidentes mineiros, que querem independência. Mas, para mim, nossa Bastilha simbólica mesmo está situada lá para os lados do Jardim Botânico... Sem a máquina de publicidade que a nobreza sem título tem sob seu comando, seu poder se reduzirá em todas as outras esferas. Basta recordar do midiático julgamento do mensalão (do PT, claro, não dos aliados dos nobres, os tucanos) e também da midiática lava jato. É a cobertura tendenciosa e ostensiva da mídia que manipula a população e também acaba servindo de instrumento de pressão sobre membros dos judiciário. A solução seria que as forças produtivas da nação (trabalhadores + grandes empresas nacionais) se unissem na luta, afinal a situação atual está ferrando a ambos os grupos.

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