A reportagem de Malu Gaspar em O Globo de que o presidente da Caixa ameaçou bancos privados de perder negócios com governo se assinassem manifesto da Fiesp é uma evidência de que Pedro Guimarães vai assumindo o papel político que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, já não consegue cumprir, por mais que se esforce por garantir que tudo vai bem e o governo está controlando a economia.
Guimarães, que virou arroz de festa nas lives presidenciais, espalha, como quer Bolsonaro, otimismo, “vitórias” administrativas e é apresentado como o homem que transformou em realidade do auxílio-emergencial. Grandiloquente, sem falar economês e apresentando o governo como um case de sucesso. Agrada, com elogios rasgados e sabujice total, ao chefe e fala que tudo antes era corrupção e ineficiência.
E, como mostrou neste episódio dos telefonemas aos presidentes de bancos privados, quando ameaçou com a sua exclusão das transações financeiras que envolvam o poder público, que não hesita em exibir as ferraduras e assume que podera usá-las para dar coices.
Guedes está pendurado em dois fatores: o Orçamento de 2022 e a inflação de 2020.
Um e outro vão mal. A peça enviada hoje ao Congresso é uma mera formalidade burocrática, por nem de perto parecerá com o que sairá aprovado.
Há mais, além dos precatórios – que dificilmente serão tratados com a larga “pedalada fiscal” que está sendo preparada. pela qual se pagaria menos da metade dos R$ 89 bilhões e se empurraria para o próximo governo algo acima de R$ 49 bilhões.
As receitas governamentais estão superestimadas e as despesas subestimadas. Grande parte delas, vinculadas ao salário-mínimo que indexa a maior parte dos benefícios previdenciários e assistenciais. O novo valor para 2022, estimado em R$ 1.169 a partir de janeiro, embute uma correção – que é o INPC – de 6,27%, para uma taxa que, até agosto, estará acima dos 10% e sem perspectivas de queda.
O desgaste da área econômica do Governo vai se acentuar e, se os gordos bancos e o próspero agronegócio soltam notas manifestando desconforto com os conflitos institucionais, que só vão se agravar. E Guedes vai recolher toda a carga deste stress, com suas reações folclóricas.
Não vai surpreender a muitos, porém, que depois disso seja, como sempre ocorre com Bolsonaro, dispensado e entregue ao esquecimento. Enquanto isso, Pedro Guimarães vai colocar cada vez mais suas asas de fora.