Presidente do PSB divulga carta aberta em favor de Dilma

Roberto Amaral, presidente do PSB, partido do falecido Eduardo Campos, soltou o verbo que mantinha preso há muito em sua garganta.

A sua carta aberta ao povo brasileiro, publicada em seu site, constitui um documento histórico, de um líder tentando salvar a honra de seu próprio partido.

Para além das denúncias midiáticas de corrupção, existem as grandes ideias, os grandes projetos, e Amaral acredita que Dilma simboliza o que Brasil precisa neste momento.

Agora está explicado o ódio da mídia, em especial das Organizações Globo, núcleo duro da direita golpista, à Roberto Amaral.

Ele não desistiu do Brasil.

A frase com que conclui sua carta resume seu pensamento:

“sinto-me livre para lutar pelo Brasil com o qual os brasileiros sonhamos, convencido de que o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda socialista e democrática.”

*

Abaixo, a carta.

Mensagem aos militantes do PSB e ao povo brasileiro

A luta interna no PSB, latente há algum tempo e agora aberta, tem como cerne a definição do país que queremos e, por consequência, do Partido que queremos. A querela em torno da nova Executiva e o método patriarcal de escolha de seu próximo presidente são pretextos para sombrear as questões essenciais. Tampouco estão em jogo nossas críticas, seja ao governo Dilma, seja ao PT, seja à atrasada dicotomia PT-PSDB – denunciada, na campanha, por Eduardo e Marina como do puro e exclusivo interesse das forças que de fato dominam o país e decidem o poder.

Ao aliar-se acriticamente à candidatura Aécio Neves, o bloco que hoje controla o partido, porém, renega compromissos programáticos e estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no lixo o legado de seus fundadores – entre os quais me incluo – e menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda, socialista e democrática.

Esse caminhar tortuoso contradiz a oposição que o Partido sustentou ao longo do período de políticas neoliberais e desconhece sua própria contribuição nos últimos anos, quando, sob os governos Lula dirigiu de forma renovadora a política de ciência e tecnologia do Brasil e, na administração Dilma Rousseff, ocupou o Ministério da Integração Nacional.

Ao aliar-se à candidatura Aécio Neves, o PSB traiu a luta de Eduardo Campos, encampada após sua morte por Marina Silva, no sentido de enriquecer o debate programático pondo em xeque a nociva e artificial polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira, ampla e multifacetada, não cabe nestas duas agremiações. Por isso mesmo e, coerentemente, votei, na companhia honrosa de Luiza Erundina, Lídice da Mata, Antonio Carlos Valadares, Glauber Braga, Joilson Cardoso, Kátia Born e Bruno da Mata, a favor da liberação dos militantes. O Senador Capiberibe votou em Dilma Rousseff.

Como honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado? Em momento crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB restringiu-se à disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e recompensas nos desvãos do Estado. Nas ante-salas de nossa sede em Brasília já se escolhem os ministros que o PSB ocuparia num eventual governo tucano. A tragédia do PT e de outros partidos a caminho da descaracterização ideológica não serviu de lição: nenhuma agremiação política pode prescindir da primazia do debate programático sério e aprofundado. Quem não aprende com a História condena-se a errar seguidamente.

Estamos em face de uma das fontes da crise brasileira: a visão pobre, míope, curta, dos processos históricos, visão na qual o acessório toma a vez do principal, o episódico substitui o estrutural, as miragens tomam o lugar da realidade. Diante da floresta, o medíocre contempla uma ou outra árvore. Perde a noção do rumo histórico.

Ao menosprezar seu próprio trajeto, ao ignorar as lições de seus fundadores – entre eles João Mangabeira, Antônio Houaiss, Jamil Haddad e Miguel Arraes –, o PSB renunciou à posição que lhe cabia na construção do socialismo do século XXI, o socialismo democrático, optando pela covarde rendição ao statu quo. Renunciou à luta pelas reformas que podem conduzir a sociedade a um patamar condizente com suas legítimas aspirações.

Qual o papel de um partido socialista no Brasil de hoje? Não será o de promover a conciliação com o capital em detrimento do trabalho; não será o de aceitar a pobreza e a exploração do homem pelo homem como fenômeno natural e irrecorrível; não será o de desaparelhar o Estado em favor do grande capital, nem renunciar à soberania e subordinar-se ao capital financeiro que construiu a crise de 2008 e construirá tantas outras quantas sejam necessárias à expansão do seu domínio, movendo mesmo guerras odientas para atender aos insaciáveis interesses monopolísticos.

O papel de um partido socialista no Brasil de hoje é o de impulsionar a redistribuição da riqueza, alargando as políticas sociais e promovendo a reforma agrária em larga escala; é o de proteger o patrimônio natural e cultural; é o de combater todas as formas de atentado à dignidade humana; é o de extinguir as desigualdades espaciais do desenvolvimento; é o de alargar as chances para uma juventude prenhe de aspirações; é o de garantir a segurança do cidadão, em particular aquele em situação de risco; é o de assegurar, através de tecnologias avançadas, a defesa militar contra a ganância estrangeira; é o de promover a aproximação com nossos vizinhos latino-americanos e africanos; é o de prover as possibilidades de escolher soberanamente suas parcerias internacionais. É o de aprofundar a democracia.

Como presidente do PSB, procurei manter-me equidistante das disputas, embora minha opção fosse publicamente conhecida. Assumi a Presidência do Partido no grave momento que se sucedeu à tragédia que nos levou Eduardo Campos; conduzi o Partido durante a honrada campanha de Marina Silva. Anunciados os números do primeiro turno, ouvi, como magistrado, todas as correntes e dirigi até o final a reunião da Comissão Executiva que escolheu o suicídio político-ideológico.

Recebi com bons modos a visita do candidato escolhido pela nova maioria. Cumprido o papel a que as circunstâncias me constrangeram, sinto-me livre para lutar pelo Brasil com o qual os brasileiros sonhamos, convencido de que o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda socialista e democrática. Sem declinar das nossas diferenças, que nos colocaram em campanhas distintas no primeiro turno, o apoio a Dilma representa mais avanços e menos retrocessos, ou seja, é, nas atuais circunstâncias, a que mais contribui na direção do resgate de dívidas históricas com seu próprio povo, como também de sua inserção tão autônoma quanto possível no cenário global.

Denunciamos a estreiteza do maniqueísmo PT-PSBD, oferecemos nossa alternativa e fomos derrotados: prevaleceu a dicotomia, e diante dela cumpre optar. E a opção é clara para quem se mantém fiel aos princípios e à trajetória do PSB.

O Brasil não pode retroagir.

Convido todos, dentro e fora do PSB, a atuar comigo em defesa da sociedade brasileira, para integrar esse histórico movimento em defesa de um país desenvolvido, democrático e soberano.

Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2014.

Roberto Amaral, presidente do PSB.

Fernando Brito:

View Comments (25)

  • Quando Marina entrou na disputa pelo PSB, já estava claro o que iria acontecer. Mais um partido esfacelado pela dama do apocalipse. Marina está indecisa se apóia Aécio. Ela está ainda vendo para que lado o vento sopra. Se apoiar Aécio ela definitivamente joga no lixo toda sua biografia. Se ela apoiar, e ele perder, ela estará morta politicamente. Onde Marina chega, ela destrói. Seria com o Brasil caso chegasse a presidencia. Todos sabem. Agora, ela detonou o PSB. E, estranho, é que a família Campos desistiu do Brasil. O nordeste inteiro foi de Dilma no primeiro turno e certamente irá no segundo. Apenas uma pequena ilha (Pernambuco) não foi. Agora, está ainda mais restrita esta elite. A família Campos é elite. E agora assume. Lamentável.

  • Talvez a resposta a essa questão da família Campos esteja nas entrelinhas da saída de Eduardo da base do governo e coincida com o levantamento de denuncias de uso irregular de$ da Petrobrás. O mais interessante na carta é a denúncia de que já estão negociando cargos.

    • Concordo com você, a família do Eduardo está apenas tentando manter debaixo dos panos toda sujeira que ele fez. Lamento que Povo de Pernambuco não enxergue isso.

  • PARABENS GRANDE AMARAL VC É REALMENTE O CARA QUE EU CONHEÇO

  • PARABENS GRANDE AMARAL VC É REALMENTE O CARA QUE EU CONHEÇO

  • Marina Silva e outros psbistas que estão apoiando a direita brasileira transvestidas de Aécio neves, estão colocando as suas dignidades política em jogo.

  • Pois eu continuo discordando do Sr.Amaral.Acho que pela idade,experiência,nunca deveria ter entrado nisso.Mesmo antes,quando o sr.Eduardo lhe propôs TRAIR,não deveria ter entrado nisso.Sr.Amaral,ter vergonha na cara,se deve ter sempre,não as vezes!Fosse eu o candidato,e certamente nunca o serei,lhe agradeceria o apoio,e lhe mandaria ÀS FAVAS!Vergonha na cara sr.Amaral,se traz do berço,até a morte.Equivocos todos cometemos,mas traição aos nossos ideais,jamais.Eu,um simples cidadão do sul,já curtido pelos anos,tive família tradicional e todos da UDN,esse aglomerado de canalhas que o Brasil teve que conviver por muitos anos,e hoje continua a conviver noutras roupágens,mas nunca votei ou apoiei nessa corja.O que colhi disso tudo sr.Amaral,no mínimo MORRER MENOS TRISTE!

    • Perfeito. É exatamente isso o que penso. Ele tá tentando salvar a pele dele, mas concordava com as traiçoes de Eduardo Campos e depois com o projeto pessoal de Marina. A história já o julgou.

  • Ontem, no BR 247 eu já tinha expressado minha opinião a respeito do posicionamento do Roberto Amaral. Hoje fico feliz em ler sua carta aos brasileiros, mostrando que suas ideias continuam as mesmas do Dr. Arraes, único da família que merece nossa consideração. Votei em Paulo Câmara e considero que JOGUEI MEU VOTO DIRETO NA LATA DO LIXO. Infelizmente, o PSB de Pernambuco, não só abandonou a história de luta do PSB como jogou lixo no túmulo do Arraes. É triste. Não sou do PSB, sou do PT, mas por questões locais, a gente sempre vota em quem considera que é a melhor saída para o nosso quinhão no Brasil. Dessa vez eu errei feio e já considero perdido o voto que dei. É lamentável. O que nos conforta e nos anima é que ainda existem pessoas com a integridade moral de um Roberto Amaral no meio dessa política sórdida que está sendo a eleição de 2014. A pior da história. E que, por tabela, poderá, junto com meu voto, jogar na lata do lixo tudo o que o Brasil conquistou nos últimos 12 anos. Obrigado Roberto, você fez eu me sentir mais gente hoje e não me lamentar tanto por ter perdido nessa eleição a arma que todo cidadão brasileiro tem de mais precioso: o voto. Obrigado por defender a causa do povo brasileiro. Vamos no dia 26 votar em Dilma e, juntos, reelegê-la Presidenta da República. obrigado por nos dar força com sua fala humana e sensata. Você é GRANDE!

  • Esse cara é outro zé, ou melhor, pior que isso.
    Depois de apoiar campos e, em seguida, a bláblá quer dar uma de bom moço.

    É sim, mais um traíra.

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