Há exatos 25 anos, muitos de nós caminhamos sob o sol forte que fazia, na última coluna que seguiu Luiz Carlos Prestes, a marcha que o túmulo no Rio de Janeiro.
Nunca fui “prestista”, como alguns companheiros de esquerda, então.
Mas, sim, como outras gerações, tinha-lhe uma admiração reverencial que começou criança, no bairro do Realengo (que tinha o apelido de “Moscouzinho”) na casa de meu avô, operário.
E nas histórias de minha mãe, a mais letrada da família humilde, embora nos seus 12 anos, apenas, resmungando que o pai lhe obrigava a copiar os panfletos de Yedo Fiúza- candidato de Prestes na primeira eleição após o Estado Novo – para que ele, na ruas escuras da madrugada, a caminho da estação do trem, os colasse nos postes.
Ele e Getúlio Vargas, para aquela gente simples e boa, eram indiscutíveis, porque não se discute o amor.
Nunca me explicaram, pois um guri não era grande para entender, porque estiveram juntos, sempre ou quase sempre, mas sendo esta exceção a cruel prisão e sofrimento de um deles.
Os dois acabariam mostrando que suas vidas não importavam, senão para suas causas políticas, que começaram juntas, na insurreição contra a República Velha e terminaram com a defesa do nacionalismo.
Ali, acompanhando o cortejo encabeçado por Lula e Leonel Brizola, era possível sentir a história caminhar, viva, conduzida pelo corpo morto de um seu personagem e a minha própria vida, porque era de onde eu vinha.
Com erros e acertos, como é próprio dos homens, Prestes é uma destas lembranças inevitáveis, bem a propósito do que vivemos hoje, de que este país não é feito de canalhas, embora os tenha em profusão.
O tempo que nos amolece os corpos, talvez a alguns refinem os sentimentos.
E os faça compreender que não é o brilho que nos torna grandes, mas a perseverança e a nossa utilidade coletiva.
É isso que constrói os heróis, o gestos que não pertencem apenas ao instante em que são praticados, mas que brotam sem planos, sem vaidades.
E que por isso continuaram heróis por toda a vida, e depois dela.
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Ainda ontem acabei de ler a excelente biografia de Luís Carlos Prestes, escrita por Daniel Aarão Reis, leitura que me deixou melancólico. Sistematiza o que, historicamente, se sabe do grande personagem: um idealista, crente na humanidade e no homem, e que, praticamente na extensão de sua longa trajetória política e existencial, parece ter conhecido apenas derrotas e fracassos. Como pode? A meu ver, o grande Cavaleiro da Esperança cometeu um equívoco fundamental: lidou com a realidade desconsiderando uma variável fundamental na história humana, sempre imprevisível, que é o livre exercício da liberdade. Assim, ao contrário do que sempre acreditou o admirável ser humano Luís Carlos Prestes, não há qualquer inexorabilidade histórica da marcha da humanidade para o socialismo. É o equívoco de todo tipo de positivismo, seja o do materialismo histórico do marxismo-leninismo, como o de Prestes, seja o de natureza religiosa, de que Deus tem um plano para a humanidade, como o catolicismo e cristianismos adjacentes, que teriam a missão de desdobrar e realizar esse plano divino,seja ainda o de natureza sociológica, como o do comptismo, de que as relações sociais obedecem a leis naturais, que, reveladas e conhecidas, permitem o controle da organização social.
Isso, meu caro, também o acho impregnado de positivismo, sem que nisso veja nenhum demérito, apenas uma limitação, que não o torna menor
Para melhor análise do que foi escrito por este historiador é conveniente ler este post no blog do Nassif: http://jornalggn.com.br/noticia/a-falsificacao-da-historia-por-um-historiador-por-anita-leocadia-prestes
Prestes, Vargas, Jango, Brizola, Lula e muitos outros protagonistas da real mudança de uma nação submissa, para uma nação soberana. Cada um do seu jeito. Mas todos com um norte.
Parece ser isso que segmentos conservadores da politica brasileira odeiam.
Azar deles.