Procurador pede que justiça seja terceirizada à mídia

Só faltava essa!

Um dos procuradores da Lava Jato deu entrevista pedindo à mídia que “pressione” o Judiciário para julgar a toque de caixa.

Agora os próprios membros do MPF, o próprio juiz de primeira instância, querem entregar, voluntariamente, a responsabilidade de julgar à mídia?

O projeto de lei em prol da terceirização, aprovado por Eduardo Cunha, já começou a fazer efeito?

Vão terceirizar a justiça brasileira à mídia?

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Lava Jato: Quem faz tudo dentro da lei não precisa de apoio da mídia

Por Cíntia Alves, no Jornal GGN.

Apelo de procurador da Lava Jato para que a imprensa pressione o Judiciário a julgar o caso rapidamente é temido por Celso Antônio Bandeira de Mello pelo caráter de linchamento midiático semelhante ao que foi assistido no Mensalão. Para Luiz Flávio Gomes, o pedido sugere que, nas investigações na Petrobras, “fizeram coisas erradas”, “fora do Estado de Direito”

Jornal GGN – A fala do procurador Carlos Fernando Lima, da cota do Ministério Público Federal na Força-Tarefa da Lava Jato, despertou preocupação em dois juristas consultados pelo GGN nesta sexta-feira (10). Lima, durante uma coletiva de imprensa que tratava da mais nova fase da operação que investiga esquemas de corrupção na Petrobras, “fez um apelo à mídia para dar apoio à divulgação do trabalho da Polícia Federal e do MPF” na tentativa de “evitar que ele se perca nas etapas do Judiciário”. “Essa investigação não pode morrer em processos intermináveis na Justiça. Precisamos de apoio’, disse Lima, de acordo com o Estadão.

Para Luiz Flávio Gomes, “é estranho que autoridades da Lava Jato fiquem induzindo ou buscando apoio externo” ao invés de “cumprirem suas tarefas internas como o Direito manda”. Na visão do jurista, essa busca pelo suporte da mídia, por parte do MPF e também pelo juiz federal Sergio Moro, é de um “populismo primitivo” suspeito. “Quem faz tudo dentro da lei não precisa de apoio da mídia. O juiz não tem necessidade de apoio popular ou midiático. O juiz existe para cumprir os preceitos da lei e acabou. O que pode, faz, e o que não pode, não faz, independente de a mídia concordar ou discordar”, disparou.

Para Gomes, as últimas aparições dos principais agentes da Lava Jato na mídia não cheiram muito bem. Recentemente, o jurista escreveu uma crítica contundente a um artigo assinado por Moro e pelo juiz federal Antônio Cesar Bochenek. Ambos defenderam que “a melhor solução [para findar a sensação de impunidade em escândalos de corrupção no Brasil] é atribuir à sentença condenatória uma eficácia imediata, independente do cabimento de recursos.”

“O que Moro e os procuradores pedem são coisas completamente fora do Estado de Direito. Prender imediatamente só com sentença em primeiro grau viola direitos. Ora, esse menosprezo que revelam ao postular essas coisas é um sinal de alto risco de que já fizeram isso completamente ao longo da Lava Jato. Dá a sensação de que estão fazendo coisas erradas e precisam de apoio da mídia para sustentar essas coisas erradas”, avaliou o jurista.

Linchamento midiático

Ao GGN, Celso Antônio Bandeira de Mello também criticou a convocação à imprensa feita pelo procurador da Lava Jato. “Não faz sentido chamar a mídia a preencher um espaço próprio da atividade jurídica. Isso é um absurdo. Descabido. O julgamento popular é sempre uma espécie de linchamento, péssimo. Não ajuda a Justiça em nada. É quase uma intimidação para que se condene quem ainda está sendo investigado. O que se quer com isso é que a mídia conduza as investigações da Lava Jato como fizeram no passado com o Mensalão. Quem julgou o Mensalão foi a imprensa, não a Justiça. Querem repetir isso”, concluiu.

Bandeira de Mello integra o grupo de críticos que apontam as fragilidades da Operação Lava Jato destacando, inclusive, que elas que podem dar ao caso um desfecho semelhante ao que aconteceu com as operações Castelo de Areia e Satiagraha, por deslizes na condução do processo.

“Está evidente que este processo [Lava Jato] está coberto de erros e imprudências jurídicas. Eu apontaria desde logo o erro de querer transformar prisões preventivas em instrumentos de coação para que indivíduos submetidos a condições desumanas tentem se livrar disso por meio da delação premiada. O instituto da delação premiada não é isso! Esse juiz Moro me parece um homem muito pouco equilibrado. Não está se comportando como um juiz. Está se comportando como um acusador”, pontuou Bandeira.

Na visão dele, o Judiciário deve ignorar a campanha dos procuradores e dizer à imprensa que sua função é atuar com “imparcialidade absoluta”, e não sob “coação” de qualquer ordem. Apesar do palpite, Bandeira de Mello tem baixas expectativas em torno do que se sucederá quando a Lava Jato entrar em fase de julgamento.

Reeditando o Mensalão

“Eu não sei o que vai acontecer, mas no Mensalão já tivemos situações lamentáveis. O ministro Luís Roberto Barroso, antes mesmo de estar no Supremo [Tribunal Federal], havia dito que o julgamento era um ponto fora da curva. E foi mesmo. Contrário à posição de que a pessoa é inocente até que se prove o contrário. Ignoraram isso. Condenaram pessoas sem provas porque quiseram. E foi assim porque a imprensa os apavorou”, disse.

E acrescentou: “Não tem nada na Terra que juizes temam mais do que a imprensa. Se a imprensa inteira vai para um lado, eles têm medo de irem para outro. Espero que não aconteça a mesma coisa na Lava Jato. Que quem tenha feito coisa errada seja preso. É uma limpeza. É a primeira vez que pessoas influentes vão para a cadeia. Mas que sejam punidas na forma da lei, e não por pressão da imprensa.”

Fernando Brito:

View Comments (24)

  • Os agentes do judiciário têm que se apoiar é na lei e não pedir água para a mídia. Juiz e promotor que tem que se agachar para mídia deve deixar o judiciário, pois demonstram incapacidade para o exercício da função. Ao invés de fazer justiça, agem da mesma forma que a mídia, fazem política.

  • Se isso acontecer, ai sim, teremos o caos social.

    Serão milhões de empregos perdidos, com pais de famílias sendo despedidos, sem ter onde buscar novo emprego.

    Sem emprego na base primária da pirâmide social, cairá a venda nos mercantis, supermercados e grandes magazines; sem a venda de seus produtos, as empresas tendem a se desfazer de sua mão-de-obra, de seus funcionários. Perderão empregos vendedores e representantes comerciais; a indústria de transformação, se não há pedidos do comércio, desemprega sua mão-de-obra especializada: técnicos, TI’s, engenheiros serão dispensados.

    O caos se instalará no Brasil, como nós já assistimos em meados de 2000, 2001…

    Parece que é isso que a oposição ao governo, e seus seguidores querem..

    Sem ser viral petista, e não receber nenhum centavo de políticos e partidos, este artigo é para gerar discussão sobre o futuro de nosso país.

  • ... E qual procurador irá pedir à mídia que “pressione” o Judiciário para julgar a toque de caixa o Aécio 'Never' na Lista de Furnas que já está nas mãos do procurador geral 'Rodrigo Moro Gurgel'?

    E o MENSALÃO do PSDB do réu confesso MENSALEIRO/QUADRILHEIRO DEMoTucano Eduardo AZARedo?

    E o TRENSALÃO?

    (...)

    "'Vamo' procurar esse procurador!"

    • Novamente, na mosca, Messias. E o mais grave, a gravidade aguda, é que o aecista Eduardo Azeredo renunciou ao mandato legislativo para escapar do julgamento, isto é, renunciou para fraudar o julgamento no STF, e o legalismo exacerbado da Excelsa Corte acatou sua renúncia, para tudo começar e jamais acabar na primeira instância de BH. Estou achando que a renúncia de Joaquim Barbosa esteve em perfeita sintonia com a renúncia de Azeredo. Sei não...

  • O GOLPE ESTÁ SENDO JUDICIALIZADO, TELEVISIONADO – E ‘RADIONIZADO’! I ENTENDA

    Na manhã de 09/04/2015, um médico "conceituado" na cidade utilizou uma concessão do Estado brasileiro para promover a apologia ao golpe de Estado e incitamento do ódio ao PT na população, ocupando espaço em duas emissoras de rádio que funcionam numa mesma estrutura – Rádio Sociedade 970 AM e Rádio Princesa FM.
    Emissoras da Rede Capuchinhos de Rádio Católicas [do lucro!], Feira de Santana, Bahia.
    O mote: convocar a população a participar do ato do próximo domingo promovido pelo movimento ‘#vemprarua’.
    Indagado sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, afirmou:
    “A presidente Dilma Rousseff foi ministra das Minas e Energia e da Casa Civil, integrante do Conselho de Administração da Petrobras, presidente do Brasil... Portanto, a presidente está envolvida no escândalo de corrupção da Petrobras!”
    A calúnia não leva em consideração que inexiste o mais tênue indício de envolvimento da atual presidente da República.
    Acrescentou outros motivos:
    Comentou sobre uma chacina que ocorrera – há poucos dias - na cidade como sendo um exemplo cabal de que o caos está institucionalizado no país, o que reforça a tese do impedimento.
    Em seguida, requentou um factoide criminoso divulgado na última Sexta-Feira Santa através de um *jornaleco pertencente a grupos de extrema direita da região. A denúncia de que teria havido corrupção na gestão de um hospital da cidade sob administração do governo estadual (PT). Calúnia já desmentida em razão da total inconsistência das acusações – e mediante apresentação de documentos por parte dos acusados.
    Disse o médico: “Se não houve corrupção em decorrência de superfaturamento na compra dos materiais, então houve porque as técnicas cirúrgicas aplicadas estão ultrapassadas!”
    *’Folha do Estado’
    O médico afirma que defende a saúde pública, no entanto, assevera textualmente que “atua exclusivamente no setor privado”! (sic)
    Aproveitou para anunciar a venda de camisas para o evento, em tom de deboche: “Promoção: compre uma camisa por R$ 15,00 e, pagando mais R$ 15,00, leve outra! As camisas estão à venda em minha clínica [de nome tal, endereço tal...]...”

    RESCALDO: “Soltos, todos soltos!”

    Ah se 'nois tivéssemos um Ministério Público confiável!

    E Ministério das Comunicações e Justiça idem!

  • E por que A CANALHA do MP faz tais sugestões?Por que não tem OUTORGA.O que tem,são CONCURSOS VICIADOS onde são aprovados por cúmplices,e ficam ditando leis,impudentemente,por saberem-se INIMPUTÁVEIS,sabendo que a única maneira de sair-se disso,para o povo,é SUBMETE-LOS,às OUTORGAS POPULARES.Eles e o JUDICIÁRIO,que padece dos mesmos " DEFEITOS ",do ponto de vista de IGUALDADE DE DIREITOS.Votos neles,é o que cabe propor-se.Se sairem da linha,com eleições e tempos de mandatos,ficam menos ruins que os PARLAMENTOS DO BRASIL,que dependendo de fatores sociais,mesmo que o atual deixe a desejar,ENTRAM NO RÊGO!Todos eles,juízes,procuradores e parlamentares,são como BOIS MANSOS,entram no REGO,dependendo de quem porta A GUIADA!

  • Primeiro pediram alterações nas leis para que suas ações pudessem ser legais, como a repercussão foi negativa, pedem agora apoio da mídia e dos especialistas pigais para o linchamento público dos acusados que melhor lhes convier.
    Pois é, "quem vigia os vigias?"

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