O lugar,o velho hotel Serrador, no Centro do Rio.
Ali, nas palavras de Brizola, “consumou-se o esbulho”.
A sigla PTB, bandeira de quase 30 anos de lutas do povo brasileiro, por artes de Golbery do Couto e Silva, foi entregue a Ivete Vargas e à direita.
35 anos depois, a farsa vira tragédia e a sigla, agora, é entregue ao DEM.
Impossível não ver de novo aquela cena, nem deixar de lembrar o que, sobre ela, escreveu três dias depois, no JB, Carlos Drummond de Andrade,
O gesto de quem prefere rasgar seu grande amor na batalha, que fazer dele a mortalha de tudo o que significou.
Eu vi…
Carlos Drummond de Andrade
Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins políticos. Vi uma mulher beber champanha(*) porque lhe deram esse direito negado ao outro.
Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras, que ele tanto amava. Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilidade de rasgarem as próprias amadas.
Vi homicídios que não se praticaram mas que foram autênticos homicídios: o gesto no ar, sem conseqüência, testemunhava a intenção. Vi o poder dos dedos. Mesmo sem puxar o gatilho, mesmo sem gatilho a puxar, eles consumaram a morte em pensamento.
Vi a paixão em todas as suas cores. Envolta em diferentes vestes, adornada de complementos distintos, era o mesmo núcleo desesperado, a carne viva;
E vi danças festejando a derrota do adversário, e cantos e fogos. Vi o sentido ambíguo de toda festa. Há sempre uma antifesta ao lado, que não se faz sentir, e dói para dentro.
A política, vi as impurezas da política recobrindo sua pureza teórica. Ou o contrário… Se ela é jogo, como pode ser pura… Se ela visa o bem geral, por que se nutre de combinações e até de fraudes.
Vi os discursos…
Para quem não viu a cena, ela está aos 3:45 de um pequeno vídeo que fiz, no aniversário da morte de Leonel Brizola.
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O que está por trás das letras e palavras são as idéias . O que virou o PDT de hoje ?
Da mesma forma que eles temem o que está por trás da Blobosfera " sujíssima " : O projeto de uma Nação.
Por isso o velho Briza sobrevive.
É caro Leleco. Bem lembrado. Parece que o tio Briza, mesmo ausente em corpo, foi novamente surrupiado! Eis que o Viera...aquele que se aposentará como Promotor, mesmo sem nunca ter exercido, entrega agora o PDT à RBS e seu pau mandado Lazier para ser o Senador do "grupo" junto com a Aninha Farsul. Desta "dupla" não sai nem um palmo de terra pro povo...ah...sai sim pra enterrar, como na música do Chico..."é a parte que te cabe deste latifúndio"...
E daí, o que não faltam são partidos de esquerda para os militantes abraçarem na luta por mais igualdade e esperança para o povo.
Tens razão, Walfredo. O custoso é estes partidos se juntarem numa causa comum. O usual é o "canibalismo."
Belíssima homenagem a este grande guerreiro do povo brasileiro. Parabéns, Fernando, por não deixar morrer no esquecimento episódios importantes da luta desse grande brasileiro.
O PSD, parido que mais cresce no Brasil, é um antro de udenisas do DEM e PSDB.
A direita reacionária também criou um partido chamado de Solidariedade (SD), mas que de solidariedade não tem nada. É um partido de pilantras, de vendidos, de pessoas sem ética como o Paulinho da Farsa Sindical.
A Globo custou para desconrir que a Dilma era brizolista, aí ela mudou o país, tentamn agora derrubá-la, conseguirão?
Dilma brizolista? Ora, não ofenda Brizola. Dilma não tem a característica básica de qualquer brizolista dos mais simples tem que ter: CORAGEM!
Parabéns Brito, você é 10!
Mas não se aporrinhe não, uma troca de letras não muda a palavra, nem muito menos a ideia....
Vídeo emocionante! Me levou às lágrimas...que falta ele faz!
Texto comovente e video mais ainda. Como tem quer ser aos que possuem referências e delas constroem utopias e as alimentam.
Respeito isto, sr. Brito. respeito muito. Mas, que eu me lembre, Brizola não tinha papas na língua, algo que eu, mesmo não sendo brizolista, admiro. Sei que a ruptura com o PTB deve ter sido algo dolorido, porém inevitável. Coragem de poucos, sinceridade de muito poucos. Por isto mesmo, não acho que um legado ético e moral desta natureza impediria a ninguém de avaliar criticamente a História e as decisões políticas de homens como o Brizola. Talvez seja uma forma de honrar seu passado e sua relevância.
Dito isto, queria saber dos próprios brizolistas, como avaliam as decisões políticas do Brizola no tocante a questão do tráfico de drogas nos morros cariocas e se ele teria conseguido lidar de forma correta, do ponto de vista do administrador, com este problema. Falo isto sem ranço algum nem veneno. Sou de São Paulo e, do que me lembro que falavam sobre o assunto em minha juventude e adolescência, as críticas ao Brizola eram sérias no tocante ao abandono das comunidades carentes ao tráfico, o não enfrentamento de seu governo com a questão. Queria saber, pra um brizolista, isto é verdade? Sei que num governo às vezes se faz o que é possível. Erros são cometidos e precisam ser revistos pra que não se repitam. Enfim, onde teria errado o Brizola nesta questão, se é que errou, de fato?
Para comentar, não é necessário ser brizolista. Basta conhecer um pouco da história do Brasil. "Amigo do tráfico", na verdade, foi o rótulo que a extrema direita deu a atitude de Brizola, enquanto governador, de a polícia não entrar "bagunçando" os moradores da favela. No Rio, e em SP não é diferente, a polícia entra atirando na favela. Nas incursões polícias, crianças e jovens, dormindo em suas casas, ou, até mesmo durante o horário de aula, são atingidas por balas disparadas por políciais ou pelo tráfico. Muitas vezes, a polícia, ao fazer uma incursão numa área carente, ela se posiciona na frente de uma escola. Não precisa ser muito inteligente para raciocinar que uma bala disparada por uma arma de um bandido irá, faltamente, atingir a escola. Tal procedimento não é feito nas áreas nobres do Rio (Brasil). Na época do Brizola, a polícia tinha que ser mais polida com o cidadão. Edgar, veja os filmes, Cidade de Deus e tropa de elite 2. Vc poderá ver que, a polícia na época tratada pelo filme, pode até não ser amiga do tráfico, mas amiga do cidadão ela não era mesmo. Em suma, a pecha de deixar os moradores das áreas carentes refém do tráfico é uma GRANDE MENTIRA. Agora, abandonada às milícias foi na época do Garotinho.
Octavio, muito obrigado. Sou morador de Itaquera, moro próximo (bem próximo) a duas favelas que cercam meu bairro, que é do tipo proletário, ou seja, não é bem uma favela porque é regularizado, mas foi loteado nos padrões paulo-maluf-nos-tempos-da-ditadura, então é uma favela, do ponto de vista estrutural e organizacional. Quando eu era criança, de fato, via reportagens sobre o tráfico no Rio e sempre a culpa era atribuída à inoperância governamental (da era Brizola). Hoje, com 42 anos, sei que as coisas não são o que a mídia diz, nunca. Confio no espírito crítico de quem escreve nos blogs sujos. Sei que a maioria acha que não vale à pena poupar o passado em nome de uma ideologia. Há falhas e é conhecendo-as que podemos corrigi-las. Minha percepção já era hoje, de que havia algo de errado no discurso da imprensa àquela época. Sua afirmação me traz esta certeza. A de que a imprensa sempre confundiu propositalmente, o respeito aos direitos dos cidadãos, aos direitos humanos em geral, sobretudo aos mais pobres, com o direito à ilegalidade e o afrouxamento da lei. Coisa que sabemos, inexiste nas relações da polícia com a população mais humilde. A imprensa sempre quis ver a favela em chamas, o povo no tronco, e nada mais. Quanto ao convívio com o tráfico, foi prudente o Brizola. Ele sabia do aparato de segurança e da mentalidade herdada da ditadura. Evitar a incursão nos morros era a única forma de garantir uma postura humana em relação ao favelado.
Abraços.
Já que o post fala sobre o finado trabalhismo que, ainda assim, tem uma justiça que prima por algum cuidado com direitos trabalhistas, vamos ao que incomoda nessa semana. Ontem, tinha até um representante da justiça do trabalho defendendo a atual legislação. A famigerada terceirização que completaria o serviço iniciado nos anos de 1980 dentro dos parâmetros do neoliberalismo. O irônico disso tudo é ver parlamentares que defenderam tanto os direitos dos médicos cubanos, 'preocupados' com a perda de direitos trabalhistas (Caiado, do DEM era o que mais aparecia) e hoje estão se lixando para os direitos dos trabalhadores brasileiros. E, por favor, não pensem que diminuo com isso o valor do trabalho dos médicos cubanos, mas para quem conhece a história de Cuba sabe que lá tem complicações que nós não chegamos a ter.
Tive a honra de, quando presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa, apertar a mão de Brizola e, junto com mais um diretor desta associação e de militantes brizolistas, reivindicar para ele - caso fosse eleito prefeito - integração dos bondes com metrô, na Carioca, e com trens. Ele firmou acordo comigo, apertamos as mãos e lá estava eu frente a frente com um estadista e apaixonado pelo seu povo.
Brito, o vídeo foi emocionante, aquele momento, marcante e para mim, uma grande honra em reivindicar algo tão importante para o meu bairro tão querido, para alguém tão especial para mim, principalmente nos dias de hoje, pois àquele época, embora de esquerda, minha visão equivocada pequeno-burguesa me impedia de ver o significado e o simbolismo de termos um Brizola.