Putin move as pedras primeiro

Ao anunciar que encerrou parte dos exercício militares próximos à fronteira com a Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin moveu peças no tabuleiro geopolítico do Leste Europeu e, politicamente, obriga os Estados Unidos a algum gesto de boa-vontade na crise provocada pela entrada do vizinho do coração da Rússia – são poucas centenas de quilômetros da fronteira até Moscou.

Apesar de manter uma retórica catastrofista (ainda ontem à noite a Casa Branca repetiu o mantra de uma semana de que uma invasão russa à Ucrânia poderia acontecer a qualquer momento) não será fácil para Biden não devolver o gesto de boa-vontade perante seus aliados europeus, exceto o Reino Unido, que pode continuar na escalada belicista dos “primos” norte-americanos.

O mapa aí de cima, publicado hoje pelo NYTimes (e completado pelo blog) mostra a razão pela qual a Europa continental vai pressionar por uma atitude que alivie a tensão com a Rússia: a sua dependência do gás russo – 45%, aproximadamente, de todo a importação da União Europeia. O gasoduto Nordstream, construído pelos russos sob o Mar Báltico, tira dos países do Leste Europeu – e muito especialmente da Ucrânia, o controle (e a cobrança de pesadas taxas de passagem) sobre as exportações russas.

Faz tempo que os russos tentam se livrar das pressões da Otan contra o aumento de suas exportações de gás. A primeira alternativa, o Southstream que, como o nome indica, usaria uma rota pelo Sul até a Itália foi barrado quando a Bulgária, por pressão dos EUA, não autorizou a passagem dos dutos por seu território o que, em parte, tenta-se “driblar” através da Turquia, Grécia e Macedônia.

A Europa, portanto, está espremida entre seu óbvio interesse em ter suprimento de energia (o gás, em boa parte, é usado para mover usinas elétricas) e a dependência político-militar-econômica dos Estados Unidos.

Quando você ouvir a palavra guerra, lembre logo de outra: dinheiro.

 

Fernando Brito:
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