Quanto mais medo, mais fúria

Sim, observando o comportamento público de Jair Bolsonaro, parece que ele desistiu de reagir com um golpe à derrota cada vez mais evidente que terá no processo eleitoral, agora distante apenas seis semanas de sua primeira – e talvez única – rodada.

Mas o “parece” que se escreveu acima tem por sinônimo outra palavra, onde parecer é mesmo o truque: leia-se, então, armadilha em seu lugar.

Só o fato de já ter se exposto suas intenções golpistas – tão claramente que acabou por sacudir as instituições e fazê-las reagir – já revela a disposição de seus dentes e, ainda que pare de exibi-los, permanecem perigosos.

Há que sobrar cautela nas reações de Lula em questões delicadas.

Na disputa pelo voto dos evangélicos, o jogo não é aberto e não se dá, necessariamente, apenas no plano das ideias. Embora trabalhe furiosamente por Jair Bolsonaro (veja a reportagem de O Globo, hoje, sobre a transformação dos cultos em comícios com panfletagem) , a obscura engrenagem de suas lideranças tem agido muito mais nos púlpitos e nas redes do que na mídia.

Já no auxílio “turbinado”, assim como nos “vales”, embora o impacto inaugural não tenha sido expressivo, a torrente de dinheiro tem lá o seu potencial erosivo a correr, por todos os 42 dias que faltam para o primeiro turno e mais o quase mês do segundo, se houver, a roubar a até agora sólida barreira da preferência dos mais pobres por Lula.

Bolsonaro é uma fera acuada e, se baixou os rosnados, aumentou sua fúria.

A resposta a isso não pode ser, também, subir o tom e a ciência que, com razão, se espera da experiência de Lula é administrar o cerco.

Como no bordão da falecida Claudia Jimenes, com seu personagem Cacilda, saber a hora do “Beijinho, beijinho e do “pau,pau.”

Fernando Brito:
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