R$ 35 bi de déficit. E R$ 452 bilhões de juros. Como fechar as contas com um “ajuste” assim?

O Governo anuncia sua proposta orçamentária para 2016, prevendo um déficit de R$ 35 bilhões, ou 0,5% do PIB.

 

Ruim, mas não mortal. A maioria dos países europeus, hoje – e já há tempos – têm déficits orçamentários imensamente maiores. Os EUA, nem se fala: estão comemorando a queda de seu déficit para “apenas” US$ 431 bilhões – R$ 1,55 trilhão, ou 2,4% do PIB americano.

 

Mas como fazer superávit – em tese para pagar encargos da dívida pública e reduzir seu montante – se o Banco Central, com apoio do Governo, eleva sistematicamente a taxa que incide sobre esta dívida e obriga o país a, hoje, despender com juros  R$ 452 bilhões, ou  7,92% do PIB?

Não é possível fazer superávit sem atividade econômica que gere arrecadação e é impossível sustentar a atividade econômica se, além da paralisia provocada pela Lava Jato (e que se estende muito além das obras com suspeitas) e da crise internacional, a própria área econômica do Governo diz  -por palavras e atos – que quer fazê-la cair em nome de um combate a inflação que, francamente, só um louco pode dizer que, no Brasil, tem na demanda um fator de elevação?

 

É hora de o Governo brasileiro ver que, ao lado do arrocho necessário nos gastos públicos, é preciso que se restaure a confiança na economia, o que não se dá com uma simples conta de superávit ou déficit público, mas com a retomada de um mínimo de dinamismo nos investimentos e no consumo das famílias.

 

Os comentaristas econômicos, que gostam tanto de comparar esta questão do superávit a “uma família que gasta mais do que ganha”, nunca dizem que, mesmo que a família gaste menos, jamais haverá equilíbrio se seus ganhos (neste caso, a arrecadação) minguarem à penúria.

 

O Brasil não quer se negar aos capitais, nem pretende que eles invistam em títulos públicos e financiem o governo a juros irrisórios.

 

Mas tem de ter coragem de se negar a ser um playground do capital.

 

Que não vai fugir do Brasil, não aquele que mais importa, o que traz empresas, produção, emprego e desenvolvimento.

 

O outro, corre para os bonds do Tesouro Americano por qualquer tremor na China ou 0,5% de juros do Federal Reserve.

 

E olhe lá, porque o Brasil é bom negócio.

 

Mas, para isso, o Governo deve abandonar a “síndrome do molambo”, esta sua compulsão irresistível de remendar situações e assumir claramente suas metas.

 

Assumir e fazê-las factíveis, porque prometer, como se fez, superávit de 1,2% do PIB e, ao mesmo tempo, eliminar qualquer possibilidade de obtê-lo por forçar durante seis meses uma “aceleração da recessão”, com sucessivos aumentos da taxa de juros,  é algo incompreensível.

 

O Brasil vei se reequilibrar andando, e este deve ser o esforço. Não irá, porém, fazê-lo parando.

 

 

Fernando Brito:

View Comments (27)

  • Fernando: a solução é simples. Basta o Dr. Levy intensificar e apertar a fiscalização sobre a sonegação, que neste ano já vai, até agosto, a 530 bilhões de reais, correspondente a 7,57% do PIB. E só tem graudo neste métier. Até dezembro, neste toada, chegará a 11,25% do PIB. Isto aquele pessoal da ABL não comenta. Nem os do STF e do TCU. Na grande mídia, silêncio sepulcral. E em Curitiba, nem vem ao caso...

    • J. Cordeiro.
      Realmente hoje a sonegação de impostos é um fator preocupante.
      Existe em todos os segmentos.
      O Governo devia realmente voltar a atenção e os trabalhos a esta situação, ao invés de ficar se desgastando com a criação de novos impostos.

    • Resolver o problema da sonegação é atiçar ainda mais a cobiça da banca do "sistema da dívida". Mesmo que se consiga zerar a sonegação a dívida com a banca continua e continua e continua. Os estados e os mais de 5 mil municípios só recebem menos de 10% do governo federal, que seria um retorno de tudo que ele arrecada desses entes. Para a banca, que é mais parecido com uma máfia, o governo dá em torno de 45%, dinheiro que se esvai e não dá nenhum retorno para o País. E só 1 dúzia de bancos, 2 ou 3 brasileiros, tem direito a comprar títulos do governo com ágio de 19 a 20%, não os 14 e tantos por centos que se fala. Quem denuncia isso, e o Brito também já está se antenado, é Maria Lúcia Fattorelli. Está no Youtube com vários vídeos e gráficos esclarecedores.

  • Levy é uma das principais peças que o governo federal deveria descartar, tem mostrado que está a serviço do grande Capital. É um peessidebista de carteirinha.

  • Dilma precisa conversar mais com as ruas, e menos com os burocratas ortodoxos do neoliberalismo, que apresentam contas no papel que nunca saem como prometem. Se houvesse juros baixos eu (e muitos outros) teria condições de fazer um empréstimo e construir uma casa. Isso gera emprego, consumo, dinamiza a indústria, o comércio, força uma queda na inflação pela disputa de mercado. Sobretudo se o governo usar os instrumentos de poder, via CEF, BB e BNDES, como já se fez no governo Lula, que forçou a queda de juros nos outros bancos.

    Mas, o atual governo faz o contrário: aumenta a taxa de juros, favorecendo aos credores da dívida pública e os banqueiros; com isso, estanca o consumo, os empréstimos, gera queda na produção industrial, nas vendas do comércio, e com isso gera desemprego. Soma-se a isso o fator "Lava Jato", criado para desestabilizar a economia do país até derrubar o governo e destruir o PT (vamos combinar, né pessoal: o combate à corrupção é um dos menores problemas do Brasil, em vista da sonegação de impostos e da desestruturação da nossa economia. Quantitativamente falando, a corrupção deve estar entre os menores males do país, e assim mesmo a Lava jato não ataca nem um por cento dessa corrupção existente nas três esferas de poder e nas instituições privadas).

    Portanto, falta ao governo melhores orientações, assessorias mais qualificadas, e um contato mais próximo com a vida real, com os de baixo, principalmente. O Brasil só melhorou depois que acertadamente o presidente Lula resolveu investir no mercado interno, fortalecê-lo, e com isso criando um círculo virtuoso, que retirou milhões de pessoas da miséria.

    Esta fórmula neoliberal de ajuste fiscal que só atinge os de baixo e não consegue sequer recriar a CPMF - um dos impostos mais justos que o Brasil já teve - não vai dar em nada. Ou pior: vai dar em recessão, desemprego, baixo investimento, etc. Tomara que nessas viagens que a presidenta Dilma finalmente resolveu fazer pelo Brasil ela acabe por perceber que precisa mudar os rumos do seu novo governo.

  • Se baixar os juros, a Globo manda seus "analistas financeiros" dizer que o governo é irresponsável e que será culpado pela explosão da inflação. Se continuar a subir os juros, os mesmos "analistas financeiros" acusarão o governo de elevar o déficit.
    Não tem jeito. Tem que defecar e caminhar para a Globo.
    Tem que fazer o que é melhor para o país, ou seja, reduzir os juros, independente dos efeito a curto prazo. Vamos ganhar lá na frente.

    • Provavelmente os pilantras que comandam o governo de São Paulo fazem de tudo para impedir que sites progressistas e blogs progressistas sejam acessados em outros órgãos públicos de São Paulo.
      Isto é censura.

  • Renan e Cunha e parlamentares oposicionistas, falam que a saída é o Governo Federal cortar gastos, mas será que esqueceram que no final do ano passado o Legislativo Federal praticamente dobrou o salário deles, o Judiciário também ganhou aumento substancial. É uma Justiça injusta que custa 87 bilhões aos cofres público brasileiro por ano. É um Legislativo federal que não funciona, mas que custará quase 10 bilhões aos cofres público brasileiro esse ano. E a culpa é só do número de Ministérios!

  • ... Ainda sobre ocultação de provas!...

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    https://www.youtube.com/watch?v=Pta4OFxYKNA

    Vídeo: PSDB rouba projeto sobre dinheiro em campanha?

    Requião denuncia manobra para permitir que a Odebrecht irrigue o Aecím

    Publicado em 31/08/2015

    (...)

  • Pais algum no mundo quebrou por ter dívida pública interna alta.

    Então para que os juros tão altos?

    Combater inflação?

    Me engana que eu gosto.

    Ora, bolas a inflação só se combate com a melhoria da produção, que nos legará maior oferta de produtos. O tomate, hoje, está a R$3,50 e já chegou a R$7,50. Aumenta a produção, cai o preço. E a inflação vai para o espaço.

    É simples assim?

    Bem, pode ser até difícil.

    Mas pagar juros extorsivos é coisa de masoquista.

    Dilma, pelo amor de Deus, manda o Levy lá para o Tio Sam.

    Votei em você para não subir os juros.

    Lula lá, imediatamente.

  • É incompreensível essa visão burra do Governo Dilma de continuar apostando no aumento da selic, pois cada vez que a selic aumenta, mais o Governo Federal perde, mais o comércio perde, mais a indústria perde, mais os consumidores perdem, mais o povo perde. Se todos nós perdemos, por que continuar a fazer essa cagada? Os banqueiros pressionam o Governo Dilma a aumentar os juros? A presidenta Dilma, sendo uma gerente não percebe que o Brasil perde e só os banqueiros e agiotas ganham?

    Dilma, ouça a voz rouca dos que defendem o seu governo e corte drasticamente os juros, gaste dinheiro na infra-estrutura do Brasil e não no bolso dos banqueiros.

  • FÁCIL, FÁCIL.

    Baixar 1% nos juros imediatamente. E mais um 1% no ano que vem.

    E aí: superávit.

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