Eu fico impressionado, algumas vezes, com a generosidade de quem acha que uma campanha eleitoral para a presidência, no Brasil, pode ser tratada com completa serenidade, com a discussão de propostas e projetos e com a apresentação honesta de rumos para a administração do país.
Não pode, infelizmente, embora a gente deva tentar todo o tempo.
Porque existe um processo perverso no Brasil que transforma discordância em ódio, oposição em golpismo e comunicação em propaganda.
E um fator que explica e torna isso inevitável: a nossa mídia, onde mais que não haver pluralismo existe uma espécie de ditadura de um partido único, cada vez menos ético e mais agressivo.
Fossem apenas figuras como Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Diego Mainardi e quejandos, nada de mais. Em todos os países existe uma direita hidrófoba, vide a Fox nos Estados Unidos.
Mas não é isso: os jornais e as televisões se tornaram de uma pobreza tamanha que repetem, como uma só voz, as mesmas baboseiras, promovem as mesmas figuras esdrúxulas, repetem as mesmas “verdades” enunciadas por imbecis.
Basta uma rápida olhada no noticiário.
Não há absolutamente nada de positivo ou meramente razoável se passando no país.
Achamos um mar de petróleo, e nossa petroleira vai falir.
Contornamos o pior momento da seca no sistema hidrelétrico do Sudeste (que hoje acumula 35,9% de sua capacidade, 1,3%% a mais que no início do mês, e tivemos uma queda superior a 10% na demanda de energia) e os jornais estão lotados de análises sobre um agravamento da crise no setor energético.
Em tudo é assim.
O desemprego nunca foi tão baixo, mas vai subir.
A inadimplência caiu, mas vai subir.
A inflação vai estourar, o governo não vai poupar.
Os automóveis vendem, os aviões enchem, os imóveis não baixam de preço.
Mas o país vive um crise profunda e uma estagnação total.
Não há mais jornalismo, mas uma “torcida” despudorada por um desastre econômico.
E por um desastre civilizatório.
Um presidente do STF transborda-se em autoritarismo e é saudado como o “salvador da ética”.
Um apresentadora de televisão defende linchamentos e é acolhida como símbolo da liberdade de expressão.
Um deputado de conhecidos interesses por negócios à sombra é usado como exemplo de que o Governo “desvaloriza” o parlamento, apenas porque não lhe cede á chantagem.
A mediocridade da mídia espalhou-se por uma parcela da classe média e ela própria trata de amplificar os rosnados caninos de grupelhos fascistoides – de direita assumida ou de pretensa esquerda – que advogam os meios mais violentos e autoritários de intervenção política: desde os quebra-quebras até o golpe militar.
Sob o beneplácito de uma elite que despreza seu país, uma sub-elite transforma-se numa feroz matilha a rasgar o tecido social ligeiramente mais justo que se vem tecendo.
Volta a imperar, pelo foco seletivo da mídia, a ideia de que “O Brasil é mesmo uma m…” e que, aqui, nada tem futuro.
Se baixarmos a guarda para isso, em nome de uma cândida tolerância, aí mesmo não o teremos: teremos passado.
Não baixar a guarda não se confunde com agressividade, mas muito menos ainda com a covardia.
Porque ser covarde é transigir com o direito do povo brasileiro a uma Nação e um futuro.
Tudo o mais é aceitável, menos isso.
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É exatamente por isso que devemos enfrentar a vanguarda e a aspirante média infantaria do atraso, com a espinha ereta, a mente aberta e o coração tranquilo, mas com coragem, muita coragem e raça, pois "A Vida Quer é Coragem" e não controle remoto, não é mesmo, presidenta Dilma?
Hoje ouvi agora a tarde a seguinte pérola de um tal de Pedro Augusto " disse ele queperguntando aos ouvintes dele Quem tem vergonha de ser brasileiro . " Nao sei a penetração deste comunicador mais achei- o o totalmente. ... como formador de "opinião".
Parabéns, excelente texto!!!
Caro Fernando...
então, façamos nossa parte! Não de "Veja" (no meu amado Piauí, chamaríamos de "Espia", no máximo, e olhe lá): este lixo tem parâmetros éticos medidos pela régua da dupla "Dedé" e "Cacá" - cujos registros oficiais são Demostenes Torres e Carlinhos Cacheira - tenha dó! Pensemos no tal "supremissimo" "presidentissimo" de tal "stf" (com minúscula mesmo - e ainda são letras grandes para esse troço - cujo o tal presidente confessa ao vivo e a cores que cometeu um crime e todos os demais fazem de conta que não ouviram), "grandissimo" "hespoente" da "Hescola Juridika de Miami" e o seu "Ap. de U$ 1 milhão", o "tal" "joaquim rede globo huck"... o resto é resto! Sabe por que nenhum de seus pares não lhe fazem nenhum questionamento? Porque são pares!
Leonidas Mendes Filho
(Parauapebas/PA)
Sensacional essa charge do Angelin. Demonstra muito bem a realidade das motivações dos manifestantes coxinhas: "contra tudo que está aí".
"(...) Madame diz que o samba tem cachaça/ Mistura se raça, mistura de cor/ Madame diz que o samba democrata/ É música barata sem nenhum valor/ Vamos acabar com o samba/ Madame não gosta que ninguém sambe/ Vive dizendo que samba é vexame/ Pra que discutir com madame? (...)Madame tem um parafuso a menos/ Só fala veneno meu Deus que horror/ O samba brasileiro democrata/ Brasileiro na batata é que tem valor." Esse samba de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida diz tudo sobre nossas 'zelites' Ze de Zé ninguém, não da marca de privada, essa já é manjada demais. Ou lembremos Billy Blanco:"Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho. Pra quê tanta pose, doutor, pra quê tanto orgulho?"
Caro Fernando,
No caso da Venezuela, chega a ser alucinante o esforço dos governos bolivarianos em dialogar com todos, em conciliar ao extremo. E ainda assim, são acusados de intolorantes, de ditadores ou coisa que o valha. Quando lá estive como jornalista em 2002, em pleno golpe petroleiro, Chávez havia instalado uma mesa de negociação, com participação internacional e até estadounidense, para dialogar com uns monstros que meses antes haviam tentado assassiná-lo. Agora eu pergunto: em que país do mundo se viu um chefe de Estado dar a mão a quem tentou assassiná-lo meses antes? E o pior é que aqueles mesmos assassinos fingiram estar dialogando para, pelas costas, tentar apunhalar outra vez a democracia e os democratas.
Ótimo artigo.
O Povo sabe muito bem que a cachorrada, so quer meter a mao na maquina publica. Nao tem propostas ou descaradamente defendem os interesses inteernacionais.
Me desculpem os gregos e troianos, mas o cidadão brasileiro comum É um ser vira-lata.
Uma vez eu disse para um amigo meu que eu deveria achar um meio para eliminar (sim, eliminar) todos os políticos corruptos, não é uma tarefa impossível determinar quem são eles. Mas aí este meu amigo me fez uma pergunta:
"Supondo que você tivesse êxito... Quem você iria colocar no lugar deles?"
E eu percebi que não teria daonde tirar políticos honestos para assumir o governo, se o POVO também é corrupto. O Brasil é formado por uma maioria (existem honrosas exceções é claro) que não pensa duas vezes em prejudicar os outros para "levar vantagem"... Levar vantagem, o verdadeiro esporte nacional.
Querer fazer as coisas direito? Querer fazer bem feito? Querer ser justo sem precisar ser obrigado? isso é EXCEÇÃO neste país. Tudo funciona "nas coxas" porquê todo mundo quer passar a perna em todo mundo, a nossa incrível burocracia é um sintoma disso, ninguém acredita que alguém vai fazer uma declaração de renda honestamente, que vai respeitar as leis de trânsito ou que vai, PRINCIPALMENTE, respeitar os direitos dos outros. Brasileiro é um bicho que acha que só ele é quem têm direitos, se duvidam prestem atenção no trânsito.
E o que fazer? Eu não sei. Educação forçada para mais de 150 milhões de pessoas não é algo que eu consiga fazer sozinho e usualmente a solução mais acessível é abandonar o país e ir atrás de um país mais civilizado para viver. Que considerem que quando chegaram aqui em 1500, os locais estavam literalmente na Idade da Pedra, e os colonizadores eram o que Portugal tinha de PIOR para oferecer. Ainda precisamos de mais alguns séculos para se tornarmos uma sociedade civilizada... Isso se não nos matarmos uns aos outros antes.
Daniel, ouso respeitosamente discordar de você. Seu exemplo para ilustrar que no Brasil ninguém é honesto é o trânsito. Todos quereriam levar vantagem, valendo seu raciocínio para todas os espectros sociais. Bem, se olharmos para o trânsito, realmente encontraremos muitas pessoas cometendo arbitrariedades (que diariamente me doem na alma, confesso); mas, se prestarmos bem atenção, os 'animais' do trânsito não constituiem a maioria dos(as) motoristas(as). Diria que são 10 ou 15% deles, donde conclui, cá com os meus botões, que os demais 90 ou 85% já aprenderam a não passar o semáforo no vermelho, ou não parar sobre a faixa de pedestres. Há, sim, no Brasil, uma sensação de que 'todos são corruptos', embora ninguém pense que 'todos SOMOS corruptos'. Realmente, há uma criminização, se assim posso dizer em neologismo, da sociedade inteira. Como menciona o Fernando no texto acima, uma idéia de que este país nunca vai dar certo. É mentira. O Brasil, na era Lula-Dilma mostrou o quanto pode dar certo, o quanto é possível fazer as coisas diferentes, e não porque eles, e somente eles, são heróis da pátria, mas como há homens e mulheres, aqui, que levam a coisa a sério. Será que a Petrobrás seria o que é hoje se todos os comandantes e funcionários, todos, fossem corruptos? Creio que não! Este é só um dentre tantos exemplos que podemos dar de um povo que, malgrado sua má fama, tem dado duro para provar o contrário. Mas essa elite (corrupta e bandida) quer que o Povo pense que nada vai dar certo mesmo, para que abandonemos o barco das lutas sociais, e para que eles, espertos que são, retornem ao poder para continuar conduzindo uma política entreguista e subserviente aos EUA. Pense nisso!
Exatamente, 80% das pessoas que eu conheço falam ‘todos são corruptos’. Ou seja, os ouiros 20% acreditam no Brasil. Como os 80% normalmente não se incluem entre os corruptos, então a corrupção fica a cargo dos 20% que acreditam no Brasil? Acho que não, provavelmente os corruptos são os moralistas de sempre, que usam a sua régua para medir o todo.