Acaba de sair o boletim de hoje do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, acusando 1.841 mortes nas últimas 24 horas, acrescidos do “atrasos” da contagem de anteontem no Rio e no Amazonas. Na contagem do Ministério da Saúde, foram 1.524, o segundo mais alto desde o início da pandemia.
No número de casos, tivemos quase 88 mil nas contas oficiais do Ministério, o maior desde que começou a crise da Covid-19.
Ao mesmo tempo em que, com isso, superamos a marca das 200 mil mortes (200.498), assistia-se pela televisão o espetáculo dantesco da “entrevista” do ministro da Saúde: grosseiro, despreparado, autoritário, chegou a dizer que a imprensa “não tem delegação” para interpretar as notícias, apenas para reproduzi-las.
O general vá plantar suas batatas em ditaduras, onde ser jornalista é apenas reproduzir as declarações das autoridades.
Não somos seus subordinados para dizer-lhe “sim, senhor” e deixar de indagar, apontar contradições e apurar a verdade com perguntas – como as que não se fez a ele, que saiu antes de responder qualquer indagação, deixando os auxiliares de dentes à mostra para responderem duas ou três formuladas sem nenhum vigor – e interpretar o que se diz e o que se sabe.
O ministro seguiu sem anunciar objetivamente o que será a vacinação, ficando nas já famosas “três hipóteses”: 20 de janeiro, 10 de fevereiro e início de março. E tudo o que pode ser feito será não por obrado ministério, mas porque São Paulo está aceitando – será que isso tem a ver com a aprovação da Coronavac pela Anvisa? – ser garfado nas doses que acumulou, importadas da China.
Os dois milhões de doses indianas são uma mera cortina de fumaça, um subterfúgio para tentar dissimular que a única chance de Bolsonaro vacinar é com “as vacinas do Dória”. Sejamos justos: Doria ofereceu o Butantan para apoiar o plano nacional de imunização e o governo federal recusou-o a patadas. Agora, talvez esteja diante do dilema de entregá-las e minguar o seu plano de vacinação ou não poder fazê-lo por falta de registro da vacina.
As vacinas a serem produzidas pela Fiocruz dependem de dois fatores. O primeiro, a chegada do componente ativo da vacina, até agora não entregue no Brasil. O segundo, da incerta capacidade de processar este insumo em grandes quantidades, o que não está, ao menos publicamente, bem esclarecido.
As negociações com os laboratórios farmacêuticos, que Pazuello pintou como os chantagistas que de fato são, são as mesmas que tiveram outros países. Esqueceu-se Pazuello, porém, que as dificuldades ficaram maiores e as quantidades das vacinas oferecidas minguaram porque só muito tarde – e sem muita garra – o Brasil foi ao mercado mundial para pretender comprá-las.
Estamos com gente morrendo como moscas e com gente completamente incapaz no comando do país e de seu sistema sanitário.
Aliás, não é gente incapaz: é gente má, que está se lixando para vacinar o povo brasileiro. Quem duvidar disso, tampe o nariz e assista à live de Jair Bolsonaro, daqui a pouco, fazendo pouco da vacina e tirando a credibilidade da vacina.
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Apesar do "comportamento deplorável" do general durante a coletiva de ontem, onde ele mesmo fez as perguntas e ele mesmo respondeu (uma auto coletiva) tudo me parece mesmo dirigido à disputa de quem aparecerá no filmagem da primeira agulhada, se o Doria (quem tem a vacina) ou o Boçal (quem deseja ter, mas não se mexeu efetivamente para isto). Ao segundo cabe apenas o recurso do confisco, sob o disfarce de um contrato de coincidentes 46 milhões de doses que o Butantan anunciou ter capacidade inicial de produzir. De permeio nesta disputa sórdida e amoral os já mais de 200 mil mortos e a população cada vez mais desassistida.