Reforma administrativa toma o lugar da tributária para não se ver o óbvio

Jair Bolsonaro disse hoje que foi um “presidente ímpar” no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

Um de seus argumentos, claro, foi a hidroxicloriquina, charlatanismo presidencial que virou chacota e que não deve mais merecer que com ele se gastem o latim.

A outra questão é a econômica, e nela estamos amarrados pelo day after do auxílio emergencial que chegará, inexoravelmente.

Até o final do ano, sem contar as demais despesas feitas pelo governo com a pandemia, a injeção de recursos na economia com ele terá somado perto de 400 bilhões de reais, algo como 5% de aumento do Produto Interno Bruto e que, pela capacidade de multiplicação que provoca, significa um incremento entre 7 e 8% nas contas econômicas nacionais.

De fato, é ímpar.

Mas, infelizmente, não é sustentável, pois, ao lado de outros gastos, representou um salto na dívida do país em volume e velocidade nunca vistos em nossa história.

No início do ano, as previsões do Tesouro Nacional era de que a dívida em títulos públicos ficasse, ao final de 2020, entre R$ 4,5 bilhões e R$ 4,75 bilhões.

A mais recente revisão oficial é de R$ 4,9 trilhões, mas a maioria dos analistas acredita que isso chegue a R$ 5 trilhões, quase 20% acima do montante com que encerrou 2019.

Estamos nos sustentando no “cheque especial”, sem cuidar um minuto sequer em como vamos aumentar nossos rendimentos (o PIB) para fazer frente ao endividamento.

O Orçamento Público para 2021 é uma peça de ficção para existir uma contabilidade formal que pareça organizada e ainda assim prevê um déficit público de R$ 223 bilhões, estimativa para lá de otimista, porque o deste ano, segundo os cálculos do Governo, será de R$ 812,2 bilhões, o equivalente a 11,3% do Produto Interno Bruto.

O nó, entretanto, está além da questão contábil, mas na ausência de qualquer projeto de estímulos a investimentos que não seja os que, eventualmente, viessem pela via de inversões externas, que nunca vieram como a enxurrada de que se falou quando da derrubada de Dilma Rousseff e, já faz algum tempo, viraram uma maré vazante.

Econômica e politicamente não temos projetos de desenvolvimento, nem para os capitais daqui, nem para os de fora.

Os gastos de 2020, embora necessários, têm a natureza de um porre fiscal, do qual a ressaca será sentida em 2021.

A reforma tributária, que até um mês atrás era “a salvação da lavoura” e o combustível do Big Bang de Paulo Guedes saiu de cena para a entrada da reforma administrativa.

Truques, em geral, dependem que a plateia preste atenção em outra coisa.

 

 

 

 

 

Fernando Brito:
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