Nenhum dos 81 senadores seria pior para Jair Bolsonaro sentado na cadeira de relator da CPI da Covid que Renan Calheiros.
Mesmo antes de começar a funcionar a Comissão, a escolha de Renan – ainda não formalizada – já é um sinal de que o Senado pretende encurralar o atual presidente: parte porque é mesmo oposição a ele, parte porque quer “amolecer” as resistências do governo em atendê-los em obras, cargos e otras cositas más e, finalmente, alguns que já temem colher resultados eleitorais negativos de acumpliciarem-se às omissões do Ministério da Saúde e às incitações à morte proferidas pelo chefe de Eduardo Pazuello.
Ainda há resistências do governismo, por enquanto aparentemente fracas, tentando colocar na relatoria o senador Marcos Rogério, do Democratas de Rondônia, na relatoria. Há muita hesitação diante da possibilidade de, com uma relator que já começasse os trabalhos com uma “operação-abafa, bloqueando pedido de oitivas, como a dos ex-ministros Luiz Mandetta, Nelson Teich e o próprio Eduardo Pazuello.
Mas acho que Renan não usará uma tática inversa, a de ajudar a incendiar a Comissão e deixará os fatos surgirem das próprias audiências, inclusive ouvindo o outro lado de escassez de vacinas: as próprias farmacêuticas que as produzem, para que revelem quando e quanto de vacinas o Brasil procurou (ou não) comprar, para fazer contraponto às versões oficiais do Ministério da Saúde.
Vai dar corda para que o próprio governo se enforque, sobretudo ao tratar das orientações insistentes de Jair Bolsonaro para o uso de hidroxicloroquina, Ivermectina e outras drogas do seu chamado “kit covid” e colocar, na hora exata, o ponto mais dramático desta sucessão de omissões: a falta de oxigênio e as mortes por sufocamento em Manaus.
Enfim, um trajeto bem planejado, salpicado aqui e ali por vinganças pela interferência de Jair (e Flávio) Bolsonaro na humilhação que sofreu na eleição da presidência do Senado.
Calheiros teve dois anos para afiar a peixeira e ele sabe usá-la com discrição e eficiência. Não há quem, em seu juízo perfeito, possa subestimá-lo: a capacidade que demonstrou de se desvencilhar de todas as encrencas em que se meteu ou foi metido mostra que sabe comer frio o prato da vingança.
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Renan não presta e isso não é novidade mesmo antes do golpe contra a Dilma... Mas ele tem uma qualidade importantíssima: Odeia o Bozo e tem vários motivos para enterrá-lo.