São Paulo e o cosmopolitismo provinciano

A Folha publica hoje uma pesquisa meio na base “não sei bem o que quero dizer com isso”, sobre a percepção dos brasileiros sobre São Paulo e os paulistanos.

Este é um mito que só sobrevive, mesmo, na mente dos retrógrados, que ainda vêem o Brasil como um torneio Rio-São Paulo, aquele “Torneio Roberto Gomes Pedrosa” que, depois, começou a incluir Rio Grande do Sul, Minas, Paraná, Pernambuco e Bahia.

Todo mundo continua reconhecendo o óbvio, que São Paulo é o estado economicamente  líder do Brasil, expresso na frase infeliz “locomotiva do Brasil”.

Com todos os ônus e bônus que isso significa, é claro.

Mas, segundo a Folha, “a ideia de que os demais brasileiros invejariam os paulistanos caiu. Na primeira pesquisa, 13% concordavam totalmente que “os brasileiros têm inveja dos paulistanos”. São 10% agora.”

Que ideia era essa, senhores da Folha?

Nem mesmo quem migrou para São Paulo o fez por “inveja” dos paulistanos.

Migrou para obter trabalho, para sustentar a família ou porque, em outro lugar, não haveria como impulsiona carreira profissional, por falta de oportunidades.

O que a pesquisa mostra é, sim, que a elite paulistana está projetando para o país uma imagem de egoísmo, insensibilidade e provincianismo (com uma capa cada vez mais cosmopolita) terrível.

Quando mais da metade (55%) acham (total ou parcialmente) que os paulistanos se consideram melhores que os demais brasileiros é sinal de que, apesar de quase todo o controle da mídia e dos mecanismos de formação da opinião pública, esta elite não está conseguindo emprestar a si mesma uma imagem de admiração e desejo.

Ao contrário, está construindo para si mesma a imagem de “gente metida a besta”, o que – além de injusto para a grande maioria – é absolutamente contraproducente para a maior  metrópole do Brasil.

São Paulo, que sabe como ninguém vender carro, sabonete e uma infinidade de coisas, não sabe vender “São Paulo”.

A não ser para os que se julgam, eles próprios, mentalmente paulistanos, nessa visão  torta.

A de serem melhores que os outros, seja no Rio, em Recife ou em Picos, no Piauí.

Já não é tempo, como fez Obama em relação a Cuba, de parar com esta abordagem provinciana e começar a estabelecer “relações diplomáticas” entre São Paulo e o restante do Brasil?

Fernando Brito:

View Comments (61)

  • Eu posso resumir a cidade de São Paulo como um lugar para aonde eu não iria nem que me pagassem o triplo do que eu recebo atualmente (e que não é pouco).

    • Daniel,

      e eu sou paulistano, não saio daqui nem que me pagassem o quádruplo do que recebo atualmente (que não é grande coisa).
      Verdade que São Paulo é uma droga, acontece que é daquelas que criam dependência rapidola, e para os viciados como eu, aturar o trânsito, a poluição, e todas as outras mazelas, é mole.
      Duro é aguentar o tucanato, e a coxinhada. Esta é a carga pesada da locomotiva! Agora ainda nos brindaram com a seca, só alivia um pouco nosso "prefeito gato", de dar inveja a qualquer cidade! E assim vamos ficando por aqui. Como todos os usuários de alguma droga, achamos que a viajem compensa...

  • Na minha opinião esta pesquisa foi feita
    com o objetivo de avaliar se um golpe originado em SP
    terá apoio do resto do país.
    Pelo jeito , o povão do Brasil vai dar um pé na
    bunda deles se tentarem.
    É óbvio que nem todo paulistano é medíocre.
    Mas, a minoria que é , só podemos exportá-los
    para Miame , com passagem sem volta.
    Aproveitaremos que os cubanos estão voltando para casa,
    vai sobrar casa em Miame.

    • Seu comentário foi preciso, Eliana. Eles estão sondando, e sifu...
      Bora enviar esta malta pra maiâmi de canôa.

    • Acertou na mosca, Eliana!! É pesquisa encomendada com quartas intenções...

  • Uma coisa que impressiona, nos paulistanos que conheço, é que não gostam de ser chamados de paulistas.

    • Exatamente, Rodrigo. Se tirarem uma radiografia do saco de SP, certamente aparecerá uma mão paranaense...

    • Mas o Paraná já foi interior de SP, não vale.

      (engraçadinhos dirão que nunca deixou de ser, o que não é totalmente falso rsrsrs)

    • Sou pernambucano, moro no Recife mas adoro São Paulo, capital.Que história é essa de se jogar São Paulo contra os nordestinos e os nordestinos contra São Paulo? Uma porcentagem muito boa de paulistas em geral votaram na presidente Dilma. Quanto à presença de eleitores conservadores e de direita, eu pergunto: e o Rio de Janeiro? Não se esqueçam da votação espetacular do Jair Bolsonaro. Náo sei de prefeito petista no Rio em tempo algum, mas sei de três prefeitos petistas que passaram por São Paulo (um deles ainda está no governo). Conheço infinidades de paulistanos que adoram o Recife, com as suas belas praias e sua gente boa. E o mesmo se dá com relação a outras capitais do NE. Vamos parar com essa falsa e ridícula guerra, pois em São Paulo existem milhões de nordestinos, que lá conseguiram educar e sustentar suas famílias e de lá não querem sair, apesar das mazelas de São Paulo (aliás, quem não tem mazelas?). Os nordestinos ajudaram a construir São Paulo e a recíproca é verdadeira.

  • Bom dia,

    e não só SP, mas o Brasil foi assim e o povo esquece o trabalho prestados pelos amigos, irmão do Brasil de cima. Mas vou citar só duas fases dos nossos irmão: Brasília, ciclo da Borracha - Manaus e com eles nossos irmão negros. Abre o Olho Brasil, que o golpe tá em curso.

  • Excelente texto, como sempre!
    Mudando de assunto, naquele texto sobre a net (o grau de confiança), se alguém me perguntasse se confio nas matérias fornecidas pela net, responderia com outra pergunta: Poderia ser mais específico?? Que pesquisa fajuta foi aquela?!!

  • São Paulo ficaria muito bem em uma confederação com o Paraguay!!! Cosmopolita a perder de vista, ou seja que não se vê!!!!

  • Não precisa de tanta elucubração sociológica e antropológica para entender a alma de boa parte dos irmãos paulistanos e paulistas, afinal sei do que falo, nasci e moro no velho oeste paulista (Tanabi).
    Nosso problema é espiritual, somente uma grande e ecumênica sessão de descarrego formada por católicos romanos e ortodoxos, umbandistas, judeus, muçulmanos, xiitas, hinduístas etc., todos unidos em força, fé e oração para expulsão da: "Maldição Bandeirantes".
    Genocídio de índios, escravização, sem música, sem temperos nem cor, tudo cinza, esfumaçado e chuvoso. Acabaram com as missões no sul, escravizaram a todos, estupros coletivos. Depois fulminaram uma tribo no nordeste, mero aperitivo para destroçar Palmares e executar exemplarmente Zumbi. Durante a ditadura de 64 a tortura, sequestro e desaparecimento foram técnicas macabras ensinadas pelo estado bandeirante, tanto que a dita escolinha dura denominava-se Operação... Bandeirante! A melhor rodovia se chama... Bandeirantes e as demais levam o nome destes capetas. O palácio de governo também leva o nome da legião demoníaca, afinal, este é o apelido principal do estado. Até um membro da executiva do PIG leva o nome deste capeta. O bandeirante capeta-mor, um mameluco sanguinário que nem português falava e de nome Domingos Jorge Velho, é encarnado em tela feito um europeu barbudo dono de escravos e fazenda de café, he he he, nem Latuff faria melhor, um capeta mameluco num corpo europeu aparentado da melhor farda.
    Percebeu a uruca, seo Fernando, é muita desgraceira pra um estado só, por isso luto e grito: "Exorcismo, Já!"

    • Zé Tanabi, eu admiro a autocrítica do pessoal que critica os equívocos do próprio estado, mas é preciso ter cuidado com essas mitologias que a elite de SP se apropriou pra dar "sentido" (significado) pra mesma pela mesma nunca ter tido relevância ou importância política na formação do Brasil até a ascensão de SP na segunda metade do séc. XIX e depois da vinda da coroa portuguesa pro Brasil se alojando no Rio. Quem mandou no Brasil ou o formou até 1808 propriamente foram três centros basicamente, Recife, Salvador e interior de Minas (Ouro Preto e cia), com cidades importantes como Belém (extremo-norte).

      O eixo político e econômico do Brasil muda do que viria a ser chamado de Nordeste (criação varguista, esse nome não existia até o Estado Novo, por isso que sempre rechacei e detesto o termo "nordestino" pois considero desrespeito não citar o nome do estado de origem, é em certa forma um ato de menosprezo e prepotência e ranço bairrista, que eu sei que rola) com a vinda da coroa portuguesa pro Rio, entra em cena o ator político Rio de Janeiro e modifica a configuração do Brasil pro que é atualmente, mas até aí quem moldou e formou o povo brasileiro foram basicamente esses três centros e não havia essa ideia de bairrismo que há hoje, havia trânsito intenso entre os núcleos que pra todos os efeitos era só "colônia portuguesa".

      SP surge no boom do café e na industrialização tardia pegando a tecnologia do capitalismo da época (segunda metade do século XIX), é algo parecido ao boom da China atual (fim dos anos 70, séc. XX) só que em menor escala pois SP só passa o Rio em riqueza na segunda metade do século XX.

      O resto são mitificações que essa elite provinciana de SP dissemina pro povo e o mesmo fica repetindo como papagaio, por ser um estado relativamente novo (apesar da data antiga de surgimento) e com fluxo de gente de todos os cantos do país e de imigrantes vindos principalmente no séc. XIX e XX. O que é pouco citado é a elite de estados como Pernambuco, Bahia e cia que migraram pra SP consolidando esse poder de SP atual, Ermírio de Morais, Chateubriannd e vários outros nunca foram "descendentes de italianos" ou parte dessa mitologia bandeirante que a elite paulista adora repetir como "mito fundador" já que a mesma se ressente em não ter papel relevante no período colonial do Brasil, o ressentimento gera esse ódio que esse pessoal dissemian hoje em forma de regionalismo, como não citar os estados de uma região e só se referir a mesma por "Nordeste" e "nordestinos", como se não houvesse baianos, cearenses, pernambucanos e todo o resto.

      Por eu ser de um estado bairrista até o talo, que tem orgulho da bandeira e que cantaria o próprio hino hoje se isso não tivesse sido tão censurado, a gente costuma achar graça ou engraçado certas mitologias que em outros estados do país ou regiões cultuam como "verdades absolutas". Mas parabenizo seu espírito de autocrítica, quem faz isso é porque ama de fato seu estado e quer vê-lo como parte do resto do país como brasileiros que são.

      • Sugestão de leitura é o livro de W. Baer, chamado "Economia Brasileira". Tem todos esses dados lá. Eu me sinto humilhado (no bom sentido do termo, se há) por um gringo (o cara é norte-americano) ter escrito um livro que descreve com precisão os processos de mudança do país e não ver esse tipo de assunto sendo explorado e estudado dentro do país.

        Espero não estar errado pois nunca mais olhei isso, mas tem uma parte dele que comenta a ascensão de São Paulo e o tamanho do mesmo até a ascensão, que era pouco maior que Teresina no Piauí, daí vc entende o porquê da comparação que eu fiz com a China. O que ocorre são aqueles booms do capitalismo que um lugar começa a crescer de forma intensa e modifica todo panorama interno e às vezes externo (caso chinês).

        Ainda é cedo pra saber se algo parecido rola com Suape, mas o PIB de PE está quase pegando o da Bahia com a mudança surgida com Suape, que só foi possível graças ao Lula, apesar do canalha do Campos ter tentando se valer disso pra proveito próprio e sabotado muita coisa.

        Esses processos de crescimento só dão pra dimensionar dentro de uma década ou duas, se isto ocorrer seria a consolidação da descentralização econômica do país expandindo a economia pras demais regiões do país que era o propósito inicial do governo Vargas e outros que o sucedera me foram sabotados pela elite de SP, que não pensa no próprio povo e só no umbigo dela.

        Sobre a pesquisa acima, é mais outra idiotice dessa elite mesquinha, provinciana e tacanha, que está mostrando a todos que esta elite tacanha não têm a menor condição moral e intelectual de liderar o país pois é uma elite que se orgulha em ser capacho de potências estrangeiras (os EUA destacadamente).

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