Saudades do "Dr. Roberto"

No meu tempo de “foca” em O Globo, o Doutor Roberto Marinho “só” queria controlar o que a gente escrevia, não o que a gente pensava.

Ficou famosa a frase ” nos meus comunistas, ninguém mexe” com que ele teria reagido à sugestão da repressão política de que alguns de seus empregados deviam ser afastados por serem de esquerda.

E os jornalistas também não mexiam, a não ser no que a gente chamava de “contrabando” – as entrelinhas – com a linha política do patrão.

Agora, nestes tempos de “pensamento único neoliberal”, a coisa ficou pior.

A notória organização direitista Instituto Millenium anuncia, orgulhosamente, em seu site, que na 10ª edição do projeto Millenium nas redações, “o diretor do BRIC-Lab da Universidade Columbia e especialista do Instituto Millenium, Marcos Troyjo, vai falar sobre o processo de “reglobalização” aos repórteres da versão digital do jornal “O Globo”, no Rio de Janeiro”.

O senhor Troyo, militante conhecido do pensamento de direita, certamente vai falar aos jornalistas de O Globo, na terça-feira, pérolas como essa:

“É errado supor que o conjunto de políticas colocadas em prática pelo Brasil nos últimos anos para impulsionar sua economia e atualizar os seus dados sociais sejam os pilares de um novo modelo de desenvolvimento. O que existe no Brasil, e que remonta ao governo de Lula, é uma tentativa de promover o crescimento cíclico e constituir um “padrão”. Essa política baseia-se no apetite do mercado interno do Brasil para adotar elevados níveis de consumo. O padrão, de fato, foi acompanhado nos últimos dez anos por mecanismos de distribuição de renda que ergueram os padrões de vida de milhões de pessoas. No entanto, essas políticas estão orientadas para a redução da pobreza e, por consequência, não aumentam a produtividade. Portanto, tais políticas não podem ser consideradas como motores para o desenvolvimento sustentado ao longo do tempo. As autoridades brasileiras não podem enganar a si mesmas. “

Não, não podem. E, com a ajuda do Professor Troyo, a mídia iluminada vai descortinar a verdade ao povão: só a produtividade salva, reduzir a pobreza não é “desenvolvimento sustentável”.

Nunca pensei que ia ter saudades do Dr. Roberto.

Fernando Brito:

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