Ninguém aqui é moralista ou acha que temas sejam proibidos, na arte ou na vida.
Mas também ninguém é tolo de achar que o que é exibido nas novelas não estimula comportamentos sociais.
Tanto é assim que o propalado beijo “gay” numa novela foi destaque nos jornais e nas redes sociais.
Neste caso, uma influência positiva, no sentido do acolhimento natural de uma orientação sexual que envolve o direito e o consentimento de duas pessoas.
Mas, pela mesma razão, é terrível a notícia de que, numa novela com classificação indicativa de 12 anos, a Em Família, da Rede Globosem prévio aviso aos pais, tenha sido teatralizada, com grande realismo, uma cena de estupro coletiva, em que três homens violentam uma mulher negra.
A pretexto de que “a arte imita a vida”, reproduziu-se, com crueza de detalhes, um episódio acontecido tempos atrás com uma turista. De forma tão violenta que a atriz que a protagonizou saiu machucada do set de filmagem.
Não foi a primeira novela que fez isso, nem a Globo a única emissora. faz parte do vale-tudo pelos pontos do Ibope que é, no fim das contas, o “crítico especializado” deste tipo de arte.
Eu assisti a filmes violentíssimos, alguns de excelente qualidade – o último do gênero foi Django Livre, de Quentin Tarantino – mas não acho saudável que meu filho de nove anos assista um estupro realista no vídeo e a verdade é que a TV é um elemento ligado e presente, hoje, até nas beiras de calçada de rua, salvo se em horários muito tardios.
Existem lugares e condições para tudo e ninguém aqui está fazendo cruzada moral nem contra canais de pornografia em pay per view.
Estamos falando da reprodução sem cuidados ou advertências de comportamentos exibidos maciçamente pela TV e que tendem a ser reproduzidos quando já existe uma base real para que isso aconteça: sejam quebra-quebras, sejam comportamentos sexuais, sejam crimes, como a violação de um ser humano.
Eu não posso falar nem imaginar, porque sou homem, a dor e a violência que representam o estupro para uma mulher.
E menos ainda de opinar sobre o aborto de um filho gerado nestas condições, gravidez que a lei brasileira, desde o início do século passado, prevê possa ser legalmente interrompida.
Ninguém, talvez, exceto a própria vítima, pode imaginar o que isso provoca numa mulher que engravida nesta situação monstruosa.
Tivemos uma imensa polêmica, ano passado, quando um cidadão ligado a grupos integralistas quis impedir que as mulheres estupradas tivessem assistência até para evitar a concepção, que não se dá, necessariamente, de forma imediata, mas até seis dias depois do ato sexual, dependendo da ovulação feminina. Neste caso, frise-se, nem o aborto legal é, mas a contracepção.
Por isso, mais adequado que meus comentários, dou voz a Jarid Arraes, que publicou um artigo sobre o tema na revista Forum, aqui na íntegra, do qual reproduzo um trecho:
(…)”O que Neidinha sofreu na Globo foi verdadeiramente perturbador – os gritos podiam ser ouvidos de longe e suas expressões faciais causaram extremo mal estar em milhares de pessoas ao redor do país. Ainda mais triste são os diversos relatos de mulheres vítimas de estupro, que foram pegas de surpresa pelo capítulo e tiveram que lidar com uma carga pesada de estresse pós-traumático, lembranças terríveis e sofrimento emocional.
Se Manoel Carlos é contrário ao aborto em casos de estupro, deveria, no mínimo, pensar no público que assiste às suas novelas. O desserviço que ele está fazendo é gritante. A realidade em nada se parece com a fantasia romantizada que pretende exibir, pois o desfecho feliz da criança gerada por um estupro, que cresce fazendo aulas de violino em um lar equilibrado, simplesmente não é fato social com estatísticas palpáveis. Mas talvez o autor se lembre de outra personagem sua, vítima de violência doméstica, interpretada por Helena Ranaldi: Raquel, da antiga novela “Mulheres Apaixonadas”, apanhou durante meses até que tomasse coragem de fazer a denúncia. Na mesma semana, as delegacias registraram um aumento de 25% no número de mulheres que procuraram as autoridades para denunciar seus agressores. Lamentavelmente, Neidinha não servirá de exemplo para que vítimas de estupro se sintam empoderadas e tenham coragem para denunciar, pelo contrário, até mesmo o direito conquistado de interromper a gravidez é negligenciado. É uma grande irrresponsabilidade social não informar às mulheres a respeito de seus direitos de forma honesta.
O fato é que não podemos ignorar o poder que as novelas possuem sobre a audiência; o povo assiste, comenta, copia gírias e roupas e se inspira nessas tramas para enfrentar também os seus próprios desafios diários. Além de fazer com que uma quantidade enorme de mulheres assistam cenas inadequadas, extremamente violentas, ainda precisamosnos atentar para a perpetuação da misoginia, pois o caso de Neidinha gera também um teor agressivo de culpabilização da vítima. Pouquíssimas mulheres conseguem reunir a coragem para denunciar o estupro sofrido e solicitar o aborto – legal e gratuito – para não ter um filho indesejado. É inaceitável que tantas mulheres continuem a reviver seus traumas sem que sequer recebam algum auxílio. A naturalização da violência sexual é um problema severo que a novela “Em Família” continua a perpetuar.”
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Sem papas na lingua, o que vejo, e um ataque sistematico da midia a todos valores humanos. Familia, Religiao, Artes, Cultura, Leis,.. Etc... Muito estranho!
Nada a estranhar. A lavagem cerebral teleguiada da CIA ($$$)tem por fim a nossa alienação e negação de valores, principalmente culturais (novela é coisa nossa). Como dizem os franceses, cherchez l'argent (siga o dinheiro) Receita Federal, que entra nos bolsos de autores, diretores, atores e donos de tv via anúncios, inclusive do ingênuo (???) governo, merchandising de bebidas alcoólicas e demais produtos degradantes. Valores podem mudar na propaganda, mas a consciência do certo e do errado permanece na cabeça das pessoas. Com exceções, é claro, não é mesmo, Conselho Federal de Medicina?
começou com o beijo gay,não é? agora isso? esperem que vem mais por aí. tudo orquestrado. a globo corrompe corações e mentes para colocar o páis na miséria moral e depois o quê? destruição dos valores morais. o que se pode esperar? usar somente o controle remoto é muito perigoso.
Na Venezuela o governo se conscientizou da ação prejudicial desses programas e reagiu pois percebeu que violência exibida e ensinada na tv agrava a violência no país. A personagem principal de uma telenovela de lá mata várias pessoas no decorrer da história. Uma apelação por mais audiência, talvez, ou quem sabe, uma forma a mais de se destruir um país, desestruturando as famílias, como fazem as novelas daqui, incentivando traição, divórcio, brigas, e determinados comportamentos que eles defendem. Assim como os telejornais, que transmitem detalhes de crimes e outras tragédias diariamente a tarde, coisa que há alguns anos, só se via em jornais como o extinto Notícias Populares, ou programas de rádio tipo Gil Gomes. Na Ditadura militar, transformaram o cinema em pornochanchada e criaram a Globo, que junto com as outras tv's, rádios e gravadoras, acabaram com a música.
Acho que antes das novelas deveria haver um comunicado expresso sobre os riscos de se consumir aquele produto, tal qual existe em maços de cigarro!!!!!!!
Ótima ideia. E com gravuras bem chocantes sobre os danos mentais que provocam.
Concordo plenamente, Fernando. Sou a favor da expressão do pensamento humano em sua plenitude, seja na forma de uma escultura de Michelangelo ou uma canção do Naldo. Tudo tem valor: artístico, sociológico, antropológico. Discussões sobre qualidade devem ser feitas mercadologicamente: trocando de canal. Já as discussões morais são relevantes, e deveriam ter fronteiras muito bem pré-definidas pelo Governo, DONO das concessões de rádio e TV. No mundo todo, como no Brasil, as restrições em geral são feitas através de horário, mas depois que inventaram videocassete e Youtube, a coisa ficou complicada. Era bom todo mundo sentar na mesa para conversar.
Acho que esse movimento black block, tambem faz parte desse processo de desintegracao social. Tem coisa ai!
Boa tarde,
eu que pergunto, pois os JORNALISTA junto com a CLASSE MÉDIA aplaudiram, agora aguenta o que vocês criaram. Deram apoia a pouca vergonha agora aguenta, certo nesse mundo só PUTIN.
Gente, a Globo pode tudo. Parem de sofrer! Essa empresa está acima da CF. Chego a essa conclusão ao ver a leniência de todas as instâncias públicas para com esse oligopólio midiático proibido na Constituição.
Se a Dilma, com seu tripé bundamole (SeCom, Min. das Comunicações e Min. da Justiça), nada faz, nós poderíamos fazer o quê, além de nos constiparmos?
Um canal legalzinho é o CAnal dois da parabolica.
TV Brasil, TV Senado tem otimos documentários, TV
escola...passa reto a Globo..
Mas como Brasil, este canal ninguem pode, nem o Brizola
conseguiu..
A causa disto tudo que vemos na mídia nacional é a covardia do governo em exercer sua autoridade, pois trata-se de concessão pública, onde há normas claras a serem cumpridas. Acontece que nada é cumprido e as concessionárias fazem o querem e ainda trabalham dioturnamente para derrubar o governo. Covardia dá nisso.
"...Neste caso, uma influência positiva".
Influência positiva? Crianças vendo isso na TV é uma coisa positiva? Quem quer ver esse tipo de cena, que compre filme para si e assista. Não tem que passar na TV que todos assistem.
O mal que a Rede Globo faz, mentindo e manipulando as notícias em seu jornalismo, faz pior ainda com suas novelas pois, a lavagem cerebral ali tem tido muito mais eficácia (já que confunde, hipnotiza e convence a quase todos)e está cada vez mais desestruturando as famílias, com suas pregações de violência (principalmente entre mulheres- toda novela tem cenas de agressão física), traição, desrespeito, brigas (até mesmo um filho batendo no pai) e distorções de comportamento. O resultado disso na sociedade, não é necessário muito esforço para perceber.
A Globo nos brindou com uma cena violentíssima de estupro coletivo na novela Em Família, imagina se não fosse.Estupro coletivo nunca foi crime comum no Brasil. Na verdade só houve 2 ou 3 no país inteiro. Então o que será que a Globo pretendia exibindo essa cena grotesca?A Globo que dar inspiração aos psicopatas exibindo cena de estupro coletivo?A Globo subverte os valores da sociedade. Ela quer entorpecer a sociedade para dominá-la e impor sua pauta inclusive política. É uma câncer que temos no Brasil.
Uma certa rede de TV dá maus exemplos em tudo. Em um dos seus programas já teve estupro debaixo do edredom. participante dizendo que arrancou todos os dentes de uma cachorro com um machado, e essa semana teve mais uma pérola, um participante dizendo que teve vontade de tacar uma pedra na cabeça de uma mulher. O que a Globo tem contra a mulher que vive destilando violência contra ela nas novelas...Afinal, na Globo só tem gay enrustido querendo ferrar a mulher. A Globo definitivamente não gosta da mulher.
A exibição de violências contra as mulheres em novelas não são contra os homens.A cada edição que passa esse tal de bbb mostra a mulher da forma mais degradante possivel. Colocam la prostitutas, garotas de programa e mulheres que querem fazer capa de Playboy.Dão maus exemplos as nossas adolescentes fazendo as crer que isso é normal.
A Globo incentiva nas entrelinhas a gravidez precoce no BBB já que nossas adolescentes ainda não tem maturidade suficiente para lidar com a vida sexual de forma responsavel. Dai que temos mais uma consequencia, abortos e jovens que deixam de estudar. Digam ai, é um cancer ou não é.Ate quando essa doença sonegadora de impostos vai ficar no ar..
To contigo, do comeco ao fim do texto. Parabens Elaine.