Seis meses da tragicomédia Bolsonaro

Completam-se hoje seis meses do novo governo, se é que se pode chamar a administração Jair Bolsonaro de nova, de governo e até de administração.

É, mais precisamente, um retrocesso civilizatório, mais ainda porque sucede ao trevoso período Michel Temer.

Aliás, retomou-o do ponto exato onde este fora abatido pelas gravações de Joesley Batista: reforma previdenciária e privatização desenfreada.

Não é o caso de repassar os acontecimentos grotescos deste semestre, ainda vivos na memória do leitor, de tão insólitos e chocantes que foram e ainda são.

Nem de repertir que a vida real, na economia e nos serviços à população, estejam afundando sem sinal de estímulos a que se recuperem.

Se o pão escasseia, porém, o circo abunda.

Temos a perigosa brincadeira das arminhas, o sumiço de Queiroz, a safra contínua de laranjas, o palerma da Educação, a ira de Carluxo, o apoplético general Heleno, a mala do pó, a Terra Plana, o Olavo de Carvalho e a obsessão sexual de uma turma que já nem tem espinhas que a justifique.

Na camada dirigente brasileira (ou na parte dela que ainda não desceu para o clima tosco de churrascão no playground), há um certo espanto com o clima que se instalou no país, mas não o suficiente para entender – ou aceitar – que é preciso dissolver o quadro de anomalias em que mergulhamos e que nos levou ao mais desqualificado quadro que tivemos em todos os poderes da República.

É refém de sua incapacidade de aceitar um país plural e de compreender que não há, como na década de 60 havia, espaço para que haja crescimento econômico sem que ocorra, ao mesmo tempo, inclusão social e aumento da renda da população e, por isso, como com Vargas, vê Lula como um perigo e não como uma solução, porque até como simples “perigo”, é um antidoto contra políticas recessivas e de desmonte da economia.

Por isso, não percebe ou não valoriza o fato novo que surgiu na vida brasileira, o mais importante destes seis meses.

As revelações sobre as ilegalidades que moveram a máquina da Lava Jato são a grande oportunidade de sanear, dentro da lei e da atribuição das instituições da Justiça, o pântano de onde emanou o que temos hoje. Sublata causa, tollitur effectus, dizem os juristas e os médicos: retire-se a causa e o efeito cessa.

Não é que não restarão sequelas, estas serão de décadas. Mas estas vão se curando, cicatrizando, como os exantemas em geral desparecem tempos após vencida a infecção que os fez surgir.

O que se está oferecendo aos brasileiros, ao contrário do que pensam os grupos que foram à rua ontem, não é um “confronto final”, é uma oportunidade de normalização do país.

Porque deste governo, ou lá o nome que se lhe queira dar,  isso não virá.  Jair Bolsonaro se alimenta do ódio e nada diferente disso semeará.

E, portanto, é  só que se colherá.

 

Fernando Brito:

View Comments (20)

  • Temer estava no Governo da mesma maneira que Bolsonaro está, o problema é o projeto de poder e de pais que encarnam. Nosso problema são seus fautores, seus promotores, os que permitiram seus "governos". E maior que tudo isso nosso maior problema tem sido nossa incapacidade prática de nos organizar para impedir e para avaçar contra esse projeto de poder e de país. Essa são as causas o resto tudo efeitos.

    • Massa pra ser organizada e ir as ruas é que não falta, o problema é que as lideranças optam por outras estratégias. Repare que a reforma trabalhista passou fácil, por que será?

      • Desculpa, mas lideranças mesmo não existem, ou melhor, existe mas está presa. Porém, antes de presa a principal estratégia (2002) dessa liderança era o diálogo e a composição (de que a princípio concordo e incentivo), bem definida quase como um aposto que acompanhava o nome: Lulinha "paz e amor". Mas depois de 10 anos a estratégias parecia não mais se adaptar as novas circunstâncias e condições políticas. O problema é que a mudança das circunstâncias ou não foi vista ou se foi vista por alguma razão a estratégia não foi revista e menos ainda modificada. Nós continuávamos a querer paz e amor, mas como diria o "Dalagnil" faltou combinar com os russos (Mercado e seus sócios na Grande Imprensa e no Cardinalato e no Obispado demotucanoemebebista). Todos eles já estavam em movimento de guerra total e permanente e em movimento de cerco a cidadela petista desde de pelo menos 2010/11. Se era possível de fato fomos TODOS incapazes de "mudar o chip". É isso que explica nosso movimento de batida em retirada e de forma desorganizada. Imagino que enquanto não definirmos a questão da liderança e da mudança de estratégia, fica muito difícil mobilizar os militantes, simpatizantes e eleitores do velho projeto de país para o qual acreditávamos e trabalhávamos.

        • E com a ajuda de Dilma e Lula dando musculatura aos órgãos de repressão, que sabemos não ser nada republicanos, a 'vaca sagrada foi para o brejo'.

  • Essa covardia do STF não teve nada a ver com clamor popular.

    Mais provável que seja a tutela militar e a bunda suja de vários de seus integrantes - todos com um relatório do GSI nas costas para chantageá-los.

  • Massas burras como a brasileira ,teimam em tropeçar na mesma pedra .O governo de delinquentes instalado no poder hoje é uma repetição de 64.O tio sam por trás de tudo,os imbecis berrando a sua insanía nas ruas,as ffaa serventes a um projeto de dominação vindo do norte (dirão que havia militares nacionalistas ,sim,os mesmos que cimentaram a cultura entreguista das ffaa atuais,)em fim , o mesmo filme.
    Talvez por a época ser mais pacata em termos de costumes e formas,não se assistía a este desfile de ratos alçados a posições de mando.
    Mas ,é só o envelope ,o conteúdo é o mesmo.
    Será que teremos uma outra chance de ter um presidente de CENTRO com 83% de popularidade que se anime a mudar o Brasil de verdade?????

  • O que resta ao Moro? Só lhe resta tentar quebrar a ordem institucional. Vem daí o ressurgimento da fúria fascista. Como um rato, está preso na ratoeira sem possibilidades de fugir. O que resta a um rato em tal situação? Tentar quebrar a armadilha. Vamos ver se as grades da ratoeira são sólidas o suficiente para conter o desespero de um rato.

  • Hoje o Café com Jornal da Bandeirantes distorceu com extrema habilidade toda a notícia da Folha sobre a delação do Leo Pinheiro, tornando o Lula definitivamente criminoso e transformando os procuradores em heróis impolutos.

    Depois de falarem que a Folha havia abordado a questão da delação, passaram a lima grosa na notícia até torná-la curta, grossa e definitiva. A notícia ficou assim: "Segundo a Folha de São Paulo, inicialmente Léo Pinheiro dizia que o apartamento havia sido um presente para o presidente Lula. (A Folha não disse isso). Depois, com a insistência dos procuradores, finalmente confessou que o imóvel era parte do acerto de propinas para o PT em troca de contratos com a Petrobrás".

    Simples assim. Trocaram o sinal da notícia. O imóvel inteiro, e não a reforma, ficou sendo já na primeira delação proposta por Léo, e não na segunda de uma série de três, um presente para Lula, o que já seria fatalmente suspeito. Depois, graças à habilidade profissional dos heroicos procuradores, Léo confessou finalmente a "verdade".

    E ainda por cima, o jornal quis encerrar com chave de ouro seu engodo: Terminou com uma nota dos procuradores, onde eles refutam o Intercept de forma oblíqua e diversionista, dizendo que "toda a confissão do réu Léo Pinheiro foi feita voluntariamente, em troca de nada, e fora de qualquer acordo de delação premiada".

    Um primor de patifaria, esta brincadeira de mau gosto que consiste em trocar palavras e tirar letras para mudar o sentido dos textos. Será que toda a mídia está agindo assim? Transformando o limão em limonada à força bruta, na base da porrada? É preciso reagir com vigor a esta esculhambação, antes que ela consiga chutar a verdade para as calendas, pelo menos para os ajudantes de fascistas que estão a falar que preferem Moro à Verdade, à Democracia e até mesmo ao Brasil. Preferem Moro ao Brasil.

    • É a desfaçatez pura, como não Leo Pinheiro se beneficiou de uma redução de pena de mais de 20 anos para 3 anos em semi-aberto??? Eles mentem gravemente e parece uma alucinação conectada com esses manifestantes de ontem, eles são manifestantes travestidos de juízes e procuradores. É o fim, talvez "caindo atirando", do MP e da magistratura. Um novo governo de esquerda tem que oxigenar esses quadros com gente vindo das periferias e classes trabalhadoras ocupando-os através de cotas em concursos, até agora restritos a classe média com sobrenomes estrangeiros.

    • Na CBN, pela manhã, começou falando em manifestações em 70 cidades e depois subiu para 86. E sempre com "milhares" de pessoas.

    • Que motivos teriam para defender a farsa? Será que seus nomes estão na fila para serem vazados nos diálogos?

  • Está circulando no WA, um áudio de um general Paulo Assis onde ele fala de uma intervenção cívico militar. Já ouviram ?

  • A Folha de hoje traz uma matéria na qual o Marcelo Odebrecht denuncia as mentiras feitas no a ordo de delação e leniência. Especialmente desmente doação caixa 2 para o PT. Diz que as doações foram todas oficias

  • ai, Brito
    que delicia ler isso

    estava precisando de algo alentador

    o que eu percebo é que assim como Marcelo Odebracht, mandado e-mail publicado pela Folha, outros tantos acabarão tbm se manifestando e denunciando as tramóias e as chantagens sofridas nas delações - como foi Leo Pinheiro - aos poucos essa gente toda, a gora e só agora, terão condições de contar o que se passou, e se muitos fizerem ficará impóssivel o sTF não dar ouvidos

  • Eu avisei, se confiar na f
    Folha e na Veja, Glenn jogou seu trabalho no lixo.

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