Sem Lula, eleição vira um corrida de micróbios

 

Na Folha da S. Paulo, André Singer faz uma análise interessante – embora dela discorde em alguns pontos – sobre o processo de eleição presidencial que, acreditem, está a apenas sete meses de se realizar, em tese.

Em tese, porque estamos diante de uma situação que absolutamente não permite chamar de paranoico aquele que achar que elas correm risco.

Reproduzo seu texto ao final, mas fixo antes algumas observações.

O que está sendo criado é um descompasso entre o sentimento do eleitor e os candidatos que lhes serão apresentados.

Os sentimentos estão polarizados, as candidaturas, não, a prevalecer o projeto de retirar Lula da disputa e se Bolsonaro não conseguir viabilizar uma presença na disputa pela falta de meios de comunicação.

O governismo, como assinala Singer, está dividido entre o próprio Temer, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e Geraldo Alckmin, pois o golpismo do PSDB tornou-o parte inseparável do regime  que do golpe resultou.

Marina Silva ocupa um nicho ecológico que não tem como se expandir  à luz do sol. É o “picolé de chuchu” de 2018, mas do chuchu mal deito, do qual não se tirou o amargo.

A oposição segue sem candidato diante da possibilidade de Lula ser impedido de disputar. Ciro, mais preocupado em marcar distância de Lula e Boulos querendo sê-lo, sem ser.

Quanto mais o tempo até a eleição se encurta, mais assombra a sensação de que elas se preparam num vácuo político.

E em política, ensina a mais antiga das lições, não há vácuo.

Eleição de 2018 será confusa e emocionante

André Singer, na Folha

A crise que se abriu em 2015, somando a recessão à Lava Jato, desembocou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas o desenlace de 2016 não resolveu o problema de como reorganizar a política. Agora, estilhaçados sob o impacto das rupturas ocorridas, nenhum dos dois blocos —pró-impedimento e anti-impedimento— consegue se unificar para 2018.

A arca que patrocinou o golpe parlamentar se encontra, até aqui, dividida. Desde as acusações de Joesley, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia, Marina Silva e Jair Bolsonaro não tocam pela mesma partitura. Embora, no fundo, o projeto seja idêntico —alinhar, via liberalismo, o Brasil à nova onda de expansão capitalista— os propósitos individuais começaram a falar mais alto.

A malinha de Rocha Loures tornou Temer tóxico para os antigos companheiros, só lhe restando lutar sozinho em defesa própria, para não ir preso em 2019. Além disso, aconselhado pelo veterano José Sarney, percebeu que terá um papel importante na eleição, pois o governo é sempre o tema principal da campanha. Resta decidir se o melhor candidato para o papel é ele próprio ou Henrique Meirelles, que não tem dúvida em defender as políticas executadas.

Nesse caso, Rodrigo Maia e Geraldo Alckmin terão dificuldade para explicar por que e a que são oposição. Marina Silva vai testar pela terceira vez a sua plataforma pós-materialista. Do ponto substantivo, porém, terá pouco de diferente a oferecer. À direita deles, Jair Bolsonaro ocupou o nicho das propostas de segurança ultraconservadoras.

Do lado derrotado em 2016, a tentativa de unidade para resistir às consequências do golpe gorou. A entrevista de Lula à Folha (1°/3), anunciando que está obrigado a ir até o fim com a sua candidatura, enterra as chances de construir uma frente ampla, como a do Uruguai, em que vários partidos decidissem em conjunto, por meio de prévias, quem será o candidato. Ciro Gomes, Guilherme Boulos e o ex-presidente (ou quem o represente na última hora) vão disputar os votos na urna.

Lula e Ciro, no fundamental, pensam parecido: querem convencer a burguesia (ou parte dela) de que o capitalismo brasileiro poderia se desenvolver de um modo a favorecer mais os setores populares. Boulos pretende recolocar em cena propostas nitidamente de esquerda, como fez o PT na origem.

Com oito candidatos relativamente emparelhados, na hipótese de Lula não poder efetivamente concorrer, a luta será para chegar ao segundo turno. Em 1989, o ex-presidente deu o passo decisivo para entrar na divisão especial da política brasileira (participar da reta final) com apenas 14% dos eleitores sufragando seu nome no primeiro turno. Será um pleito confuso e emocionante.

Fernando Brito:

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  • Pode ser surpreendente, também. Confio em Deus, e confio na imbecilidade dos imbecis. Não diz o ditado, de onde não se espera nada, não vem nada mesmo? Então. Preparemo-nos, que uma coisa é certa, o stabilishment é forte e mau (com 'u' mesmo) intencionado, mas incapaz, de intelecto fraco, e cada vez menos preparado, uma vez que herdado. E o nosso lado, por estar sempre enfrentando o sistema, enfim... 13 de cabo a rabo. E aprendendo com os erros do passado.

  • Na entrevista de LULA à Monica Bergamo, o presidente lembra uma afirmação do André Singer, que disse ao Lula: "Presidente, de Lula o senhor entende, mas de Lulismo quem entende sou eu".
    Nossos acadêmicos, ainda que se libertem um pouco da alma escravagista que está impregnada em todos nós, aquele princípio do Vira Lata, como é o caso do André Singer, sempre escorregam na soberba e se manifestam proclamando seus títulos da academia para tentar "provar" que suas opiniões são perfeitas, adequadas. Dizer ao Lula que ele não entende o povo que o apoia é de uma estupidez estratosférica. Estou cansado desses pseudos democratas, uns pseudos evoluídos. Gente que busca apenas marcar posição para sobreviver ao inferno que se tornou o país. Enquanto isso, o povo que sofre e se sente traído e humilhado pelas elites dominantes vai escutando Lula, e lhe dirigindo as intenções de voto.

    • Realmente, um zero à esquerda dizer ao Lula que entende do que descende dele, mais do que o próprio (sendo que o 'próprio' em questão não é pouca coisa), jogando no adversário e alugando a pena pra sobreviver, é de uma arrogância próxima ao infinito. É que o Lula é uma alma muito mais evoluída, por isso consegue entender e responder, eu cairia na gargalhada, principalmente porque o ridículo não percebe o quanto ridículo estaria sendo.

    • Totalmente verdade. Sem falar que ele não cita um possível indicado pelo Lula. Este virá com 35% dos votos, no mínimo.

    • Lula é o exemplo mais eloquente da inutilidade de intelectuais que pesquisam por anos para concluir o que qualquer flanelinha sabe a respeito da vida.

  • Que vença o melhor micróbio então.

    Pois o futuro do Lula já está traçado e até o petista mais fanático sabe que a foto dele não aparecerá em nenhuma urna eletrônica nas eleições deste ano.

  • Emocionante?? Isso lá é adjetivo para esta hora? Só se for para quem vê o Brasil como um "case". Para quem vive nele e se importa com ele há apenas a ameaça do vácuo político e sua ocupação por qq merda neoliberal prorrogando estes 4 últimos anos de caos e estupidez. "Para nossa alegria", dirão os do Norte.

  • André Singer... aquele outro do PSOL (*Vladimir Safatle). q tbém escreve na FSP, parecem DESEJAR Lula fora da corrida presidencial. Pela emoção? Parece ÓBVIO que na ausencia de Lula, irão dois da DIREITA para o 2º turno... a "esquerda" não aprende com seus proprios erros, não se emenda...enfim.
    :(

    • A burrice da esquerda, ôpa, das esquerdas, é monumental. Não percebem que, ou se unem ou serão atropeladas por um rolo compressor.

  • O Brasil corre o risco de se tornar um país fragmentado e destruído, como a Líbia e a Síria. Não tem intervenção militar que dê jeito.

    • Creio, José Virgilio Rosas Duarte, que os detentores do poder hoje estão fazendo o maior esforço para seu prognóstico acontecer. Vamos pagar um preço muito caro para consertar tudo isso. Nós, o povo, que buscamos uma alternativa para o caos instalado pelos golpistas, vamos todos ter um grande trabalho pela frente.

      • O povo não tem medo de luta Sérgio Vianna, uma vez que faz 5 séculos que não fazemos outra coisa senão lutar para sobreviver, aos trancos e barrancos chegamos em 2003, provamos um pouco do que é feita a democracia e portanto sabemos como é bom. O povo é sábio, sobretudo o povo da base da pirâmide social.

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