Tem gente que acha que, ao defender a contratação de médicos estrangeiros para atuar em localidades remotas, onde não aparecem médicos brasileiros interessados, a gente está contra os médicos brasileiros.
Alguns, nos comentários, acham que há uma carga de preconceito contra eles, o que é inteiramente falso.
Tenho tentado sustentar essa discussão à base de fatos e números, mas ela foi personalizada
Por isso, quero contar a vocês que tenho dois grandes amigos médicos, a quem admiro profundamente e a quem devo os ótimos cuidados que meus filhos mais velhos tiveram.
Ambos têm mais de trinta anos de profissão. Ambos, professores universitários.
Deles, vi e ouvi coisas admiráveis.
Inclusive e sobretudo vários “não sei, vou investigar isso melhor”.
Nunca tiveram consultório, até para poderem dizer isso, o que não é “recomendável” dizer a um paciente que paga e quer levar um diagnóstico e uma receita como produto, o que nem sempre é possível, prudente e acertado ali, naqueles 20 minutos de uma consulta.
Um deles, o mais “durão”, certa vez vi chorar. Um paciente, humilde operário de uma empreiteira brasileira que fora trabalhar na África, acabara de morrer. Embora o exame feito tivesse dado negativo para malária, ele insistira com um colega que tratasse o homem para malária, o que não foi feito. Havia um hospital, havia estrutura para exames laboratoriais mas o pobre cidadão, como se diz na linguagem médica, “evoluiu para o óbito”.
Do outro, que trabalhava em um hospital para portadores de HIV/Aids, disse-me uma vez: Fernando, muitas vezes só o que temos a fazer é dar a estas pessoas o direito de morrer em uma cama limpa e recebendo atenção. Naquele hospital, precário, havia uma médica, cujo marido, professor de meus filhos, teve meningite. Embora o hospital fosse referência para esta doença, ele foi transferido para um hospital de altíssimo padrão, na Zona Sul carioca. O homem morreu.
Quando meu filho mais novo ardia em febre há uma semana, para meu desespero, um destes meus amigos, resolveu em 15 minutos o que fazia, durante uma semana, uma das melhores clínicas pediátricas do Rio, na Lagoa Rodrigo de Freitas, bater cabeça com a falta de diagnóstico, apesar dos múltiplos exames laboratoriais realizados.
Ele olhou, olhou, me disse “peraí”, subiu pachorrentamente a escada de sua casa e trouxe um livro já meio desbeiçado para me mostrar:
– Acho que seu filho está com uma doença que é meio “fora de moda”, a roséola.
– Rubéola?
– Não, roséola, que o pessoal chamava antigamente de “sexta doença” e a gente chama hoje de exantema súbito. Liga pra mim amanhã e me diz se ele não amanheceu com as costas cheias de pintas.
Batata, como os velhos feito eu dizem.
Eu próprio, por razões pessoais e também familiares, nos últimos anos, percorro dezenas de consultórios médicos, a grande maioria particulares. Entrei e saí de tubos das mais variadas espécies.
Nada, porém, me foi tão importante quanto o atendimento que tive em consultórios onde pouco havia senão um estetoscópio, um aparelho de pressão e uma balança.
Minto, havia mais: havia um médico.
Claro que é preciso que haja unidades de saúde, aparelhos, equipamentos, hospitais, laboratórios. Claro que deve haver para o povão tudo o que está à disposição de quem pode pagar um bom plano de saúde. Claro que isso não é a realidade de grande parte de nossas unidades de atendimento.
Mas nada disso adianta se não houver um médico, e é isso o que não existe em quase 800 municípios brasileiros.
Um médico, um simples e providencial médico, que possa olhar para um cidadão brasileiro, para uma criança que arde em febre, avaliar, medicar e se mais for preciso, encaminhar para onde haja mais recursos.
Que esses brasileiros, iguais a mim e a você, tenham direito a procurar um médico, nas situações mais graves ou quando passam mal, simplesmente.
Por quanto tempo o mais urgente, tranquilizador e, às vezes, salvador foi um médico, com uma “estrutura de atendimento” que cabia numa valise preta?
Não estamos todos de acordo que o mais importante para a saúde é que haja atenção primária e ninguém pode pensar que ela pode existir sem médico, embora exista sem hospitais.
Não vimos manifestações vigorosas quando um médica de um serviço público de saúde emergencial – o SAMU – “batia” o ponto por outros cinco médicos usando “dedinhos de silicone”. Claro que ela não representa a categoria valorosa dos profissionais de saúde. Mas o mesmo Conselho Regional de Medicina, três meses depois, sequer suspendeu aqueles profissionais que faltaram à ética e à população carente. Seus registros, basta consultar o site do Cremesp, estão lá, ativinhos da silva xavier.
Quem não valoriza os médicos não somos aqueles que queremos e exigimos – tanto quanto exigimos hospitais “padrão Fifa” – de que se dê um jeito, urgente, que haja médico para todos os brasileiros.
Porque achamos que médico é tão importante, é tão bom, é tão vital, que todo mundo tem direito a um, seja nos Jardins paulistanos, seja num vilarejo do Pará.
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ótimo texto, é realmente a realidade......
Texto demonstra TOTAL desconhecimento da realidade médica no Brasil. De jornalismo vc entende e é bom , leio vc todos os dias. Mas da realidade médica NÃO SABE NADA
Posso falar de cátedra, estou passando por uma fase um tanto quanto conturbada, mas tenho a alegria e felicidade de ter ao meu lado um medico que deveria escrever em maiúsculo, pois antes de mais nada - sabe meu nome, sabe de minha vida e principalmente me trata como um ser humano e não raro sua aparelhagem é um sorriso franco e aberto.
Posso falar de cátedra, estou passando por uma fase um tanto quanto conturbada, mas tenho a alegria e felicidade de ter ao meu lado um medico que deveria escrever em maiúsculo, pois antes de mais nada - sabe meu nome, sabe de minha vida e principalmente me trata como um ser humano e não raro sua aparelhagem é um sorriso franco e aberto.
Posso falar de cátedra, estou passando por uma fase um tanto quanto conturbada, mas tenho a alegria e felicidade de ter ao meu lado um medico que deveria escrever em maiúsculo, pois antes de mais nada - sabe meu nome, sabe de minha vida e principalmente me trata como um ser humano e não raro sua aparelhagem é um sorriso franco e aberto.
Caríssimo Fernando Brito, obrigada por traduzir em palavras tão claras o meu sentimento em relação a esse tema.
Posso falar de cátedra, estou passando por uma fase um tanto quanto conturbada, mas tenho a alegria e felicidade de ter ao meu lado um medico que deveria escrever em maiúsculo, pois antes de mais nada - sabe meu nome, sabe de minha vida e principalmente me trata como um ser humano e não raro sua aparelhagem é um sorriso franco e aberto.
Veja a perola que encontrei recentemente: medico prof., com doutorado em Havard diz, o que pode fazer um medico com estetoscópio, termometro no interior? Nada.
Londres centro, referência em saúde publica como muitos afirmam, Pablo 23 anos intrépido e destemido caiu de skate em alta velocidade em um skate park, numa destas manobras que deixa a gente perplexo, todos assustados foram ao seu encontro ali no chão Pablo estava com dores fortes na região da costela, um amigo o levou ao hospital mais próximo, e Pablo se retorcendo de dores, quase sem poder respirar entra no hospital e é atendito.O médico pergunta oque foi, o amigo explica e Pablo dá alguns detalhes! O médico lhe apalpa, ouve a respiração, olha, reflete, lhe apalpa novamente e faz uma ou duas manobras com os braços, lhe ouve através do estetoscópio, e lhe diz Pablo que sorte não é nada, essa dor é do impacto, tome dois ibuprufeno e descanse, não deixe de usar o capacete!!!! Nacionalidade do médico Inglês, duração da consulta 5 minutos, Pablo está bem. Minha filha na cidade de Málaga- Espanha, 4 médicos por 1000 pessoas+/-... Dá um golpe na perna e abre um corte de quase meia caneta bic, estava numa praça fazendo arte do parkour, sem lenço e sem documentos a única coisa que levava, era o corte e o sangue jorrando, foi a um centro médico onde na recepção tranquila e calma, sem movimento de pacientes lhe pediram documentos, fizeram trezentas perguntas e quase negando socorro, ela sem documentos, estrangeira, assustada e choriqueando com 19 anos, sangrando com a alma, até que um médico ouvia de sua sala o vai e vem da conversa, intercedeu, levem a menina pra minha sala, mas doutor, uma voz ressonou! O médico já de costa e a caminho da sala onde atendia respondeu! Me puedes hacer el favor de traer la niña a mi sala ya...FOI a Salvaçao... estando ali fez oque era necessário, limpou, suturou e já como um Bom amigo explicou -lhe a, Ana Carolina Pinto Cruz, todos os procedimentos a serem tomados como, cuidados, vacinas e retirada de ponto, Com um largo sorriso se despediram, já sabendo que um novo encontro ocorreria. Alem da cicatriz ficou um gosto amargo na boca por causa da buracracia humana sem fronteiras
Então penso eu, que existem sim pessoas com o compromisso de facilitar a vida, são pró ativos, insistentes e praticantes desse aspecto, tao nobre e necessário. Um viva pra todas elas... :)
Londres centro, referência em saúde publica como muitos afirmam, Pablo 23 anos intrépido e destemido caiu de skate em alta velocidade em um skate park, numa destas manobras que deixa a gente perplexo, todos assustados foram ao seu encontro ali no chão Pablo estava com dores fortes na região da costela, um amigo o levou ao hospital mais próximo, e Pablo se retorcendo de dores, quase sem poder respirar entra no hospital e é atendito.O médico pergunta oque foi, o amigo explica e Pablo dá alguns detalhes! O médico lhe apalpa, ouve a respiração, olha, reflete, lhe apalpa novamente e faz uma ou duas manobras com os braços, lhe ouve através do estetoscópio, e lhe diz Pablo que sorte não é nada, essa dor é do impacto, tome dois ibuprufeno e descanse, não deixe de usar o capacete!!!! Nacionalidade do médico Inglês, duração da consulta 5 minutos, Pablo está bem. Minha filha na cidade de Málaga- Espanha, 4 médicos por 1000 pessoas+/-... Dá um golpe na perna e abre um corte de quase meia caneta bic, estava numa praça fazendo arte do parkour, sem lenço e sem documentos a única coisa que levava, era o corte e o sangue jorrando, foi a um centro médico onde na recepção tranquila e calma, sem movimento de pacientes lhe pediram documentos, fizeram trezentas perguntas e quase negando socorro, ela sem documentos, estrangeira, assustada e choriqueando com 19 anos, sangrando com a alma, até que um médico ouvia de sua sala o vai e vem da conversa, intercedeu, levem a menina pra minha sala, mas doutor, uma voz ressonou! O médico já de costa e a caminho da sala onde atendia respondeu! Me puedes hacer el favor de traer la niña a mi sala ya...FOI a Salvaçao... estando ali fez oque era necessário, limpou, suturou e já como um Bom amigo explicou -lhe a, Ana Carolina Pinto Cruz, todos os procedimentos a serem tomados como, cuidados, vacinas e retirada de ponto, Com um largo sorriso se despediram, já sabendo que um novo encontro ocorreria. Alem da cicatriz ficou um gosto amargo na boca por causa da buracracia humana sem fronteiras
Então penso eu, que existem sim pessoas com o compromisso de facilitar a vida, são pró ativos, insistentes e praticantes desse aspecto, tao nobre e necessário. Um viva pra todas elas... :)