Sem política, ascensão econômica leva ao conservadorismo

 

 

Uma matéria, hoje, no Estadão, revela como é perigoso abrir mão do debate político e acreditar que a simples ascensão econômica é capaz de tornar uma sociedade solidária, sem que os valores individualistas do capitalismo acabem por desenvolver a mesquinhez.

É a opinião de alguém que não é um “anti-governista”, mas que, ao contrário, tem sempre destacado a adesão dos mais pobres ao projeto Lula-Dilma de mudança da Sociedade Brasileira.

Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do instituto de pesquisas Vox Populi, diz que detecta uma mudança de sentimentos progressiva – embora não progressista – no sentimento da “nova classe média”, que, sem o suporte do debate político, começa a partilhar os mesmos valores egoístas e conservadores de qualquer outra classe média.

Diz o texto:

Uma das grandes vitrines do PT nas campanhas eleitorais que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff para a Presidência da República, o Programa Bolsa Família, poderá deixar de ser um patrimônio político nas eleições gerais deste ano e se tornar um problema a ser administrado pelos petistas. A análise é do presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, com base em recentes pesquisas qualitativas realizadas por seu instituto.

O levantamentos detectaram um desgaste e o crescente aumento das críticas dos setores emergentes da classe média com relação a este programa do governo federal. “O Bolsa Família envelheceu, não pode mais ser usado como o grande carro-chefe das campanhas petistas. E as críticas não são apenas da classe média conservadora, mas estão vindo especialmente da chamada nova classe C, justamente aquela que ascendeu na gestão do PT”, destaca Coimbra.

Segundo ele, os cidadãos da chamada nova classe C, que congrega um contingente estimado em 40 milhões de pessoas – um número não muito distante do total de 47,6 milhões de votos que Dilma teve no primeiro turno das eleições gerais de 2010 -, têm demonstrado em suas críticas ao Bolsa Família que não estão mais identificados com este tipo de benefício, que se tornou um símbolo do que eles não são mais, pois ascenderam socialmente com seus próprios méritos e agora não querem mais compactuar com os que ainda se escoram nas benesses governamentais. “Esses cidadãos alegam que pagam seus impostos, enquanto outros recebem as benesses do governo, por isso não querem mais ser identificados com os que ainda dependem do programa para sobreviver”, explicou o presidente do Vox Populi.

Coimbra disse que mais grave do que o desgaste de um programa que já foi o grande trunfo eleitoral do PT e que, inclusive, gerou em campanhas passadas grandes disputas pela paternidade dessa ação, sobretudo por parte do PSDB, é a ausência de um posicionamento do atual governo com relação a eventuais avanços nessa ação social. Ele avalia que, sem um discurso contundente e positivo em defesa do Bolsa Família, o programa poderá ser classificado como o símbolo de uma política equivocada. “Algo que seria impensável nas campanhas passadas, mas com as mudanças econômicas e os avanços sociais para os menos favorecidos, o programa tornou-se obsoleto para a classe emergente.”

Não creio – e nem acredito que Marcos Coimbra pense assim – que isso já é uma realidade acabada. Mas é, certamente, um processo, como sociologicamente sempre se registrou nos processos de ascensão social quando ele se dá de forma descolada da educação política, da polêmica que faz compreender e assumir valores diferentes.

Um processo que o povo traduz, na sua sábia simplicidade, numa frase que você certamente já ouviu: “Ficou bacana e agora não quer mais saber da gente…”

Fernando Brito:

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  • Se o PT não sair da zona de conforto onde está há algum tempo, perderá o bonde da história.

  • / Serra ganha blindagem da mídia e denúncia contra ele pode ser engavetada

    José Serra pode ser esquecido (Foto: Reprodução/Blog da Cidadania)
    Serra ganha blindagem da mídia e denúncia contra ele pode ser engavetada
    POLÍTICA, SLIDER2 28/02/2014 , by Redação Nenhum Comentário 551
    É extremamente grave a denúncia contra o tucano, por ter sido feita por um dos delatores do esquema de corrupção, um ex-diretor da Siemens, que afirma que sofreu pressões do então governador de São Paulo para abafar o caso

    Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

    José Serra pode ser esquecido (Foto: Reprodução/Blog da Cidadania)
    José Serra pode ser esquecido (Foto: Reprodução/Blog da Cidadania)

    Ano passado, uma suposta entrevista do já “mitológico” Marcos Valério à revista Veja ganhou a capa da publicação e espalhou-se por todos os jornais, telejornais e grandes portais de internet. O personagem central dos mensalões do PT e do PSDB teria acusado o ex-presidente Lula de ter se reunido consigo e de saber de todos os fatos que geraram o escândalo petista.

    A suposta denúncia de Valério gerou abertura de inquérito contra Lula no Ministério Público Federal de Brasília e foi tratada pela mídia como grande escândalo durante semanas, até que, mais recentemente, o mesmo Valério supostamente retrocedeu das supostas acusações.

    O que pesava contra Lula – se é que pesava – não chegava aos pés da denúncia que o ex-ministro, ex-governador e candidato a presidente duas vezes José Serra sofreu na última quarta-feira do procurador de Justiça do Ministério Público Estadual de São Paulo Marcelo Milani, quem afirma ter evidências de envolvimento direto do tucano no escândalo envolvendo a multinacional Siemens e várias outras empresas fornecedoras de trens para a CPTM em 2008.

    É extremamente grave a denúncia contra Serra por ter sido feita por um dos delatores do esquema de corrupção, o ex-diretor da Siemens Nelson Branco Marchetti, quem afirma que sofreu pressões do então governador de São Paulo (2008) durante evento na Holanda para que não denunciasse que a concorrente de sua empresa, a espanhola CAF, vencera uma concorrência para fornecimento/reforma de trens da CPTM com preços 15% mais altos.

    Não é só. Segundo Milani, Marchetti afirma que, “No edital [da concorrência que a CAF venceu], havia a exigência de um capital social integralizado que a CAF não possuía. Mesmo assim, o então governador (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF”.

    Apesar da gravidade dos fatos, o único veículo da grande mídia que noticiou o caso foi o Jornal O Estado de São Paulo, em matéria dos repórteres Fausto Macedo e Bruno Ribeiro. A matéria foi parar nos pés de páginas das homes de grandes portais como o UOL, sem qualquer destaque.

    Nos telejornais, porém, à diferença do que ocorreu com a denúncia contra Lula no ano passado, não apareceu nada. Nem uma notinha rápida, absolutamente nada. E a denúncia estourou na quarta-feira.

    A blindagem da mídia em relação ao escândalo, porém, é só um dos fatores que sugerem que esse caso pode se tornar apenas mais um dos incontáveis escândalos envolvendo o PSDB paulista que acabaram esquecidos por falta de interesse do Ministério Público Estadual e dos grandes meios de comunicação, com a providencial mãozinha da Assembleia Legislativa paulista, que abafou mais de uma centena de CPIs contra o governo do Estado.

    O que ocorre é que a Lei Orgânica do MP paulista prevê que cabe exclusivamente ao procurador-geral do órgão investigar um ex-governador. Diante disso, o procurador Milani oficiou ao procurador-geral do MP paulista, Márcio Elias Rosa, para que investigue Serra.

    O grande problema é que Rosa tem um histórico que sugere que não deverá se empenhar muito – para não dizer nada – nessa investigação que lhe está sendo delegada pela Lei Orgânica do MP paulista.

    À diferença do que fizeram o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, que sempre nomearam para o cargo de procurador-geral da República o primeiro colocado da lista tríplice que os membros do Ministério Público Federal encaminham ao presidente da República em exercício com os três nomes mais votados para esse cargo, o governador Geraldo Alckmin, em 2012, nomeou o segundo colocado da lista que recebeu do MP, ou seja, Marcio Elias Rosa.

    Alckmin apenas seguiu a tradição tucana de nunca nomear um procurador-geral que não fosse da mais estrita “confiança” de quem nomeou. Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, que durante seus oito anos de governo teve um único procurador-geral da República enquanto que Lula teve quatro em oito anos e Dilma, dois em três anos e tanto de seu governo.

    Obviamente que Alckmin teve boas razões (para si e os seus) para nomear Rosa, o segundo colocado da lista tríplice que recebeu dos membros do Ministério Público Estadual. Alguém suspeita de qual seja essa razão? Obviamente que não foi por achar que seria mais rigoroso com o seu governo. Tudo isso, pois, sugere que Rosa irá engavetar a investigação contra Serra.

  • Continuo acreditando que é a alienação a responsável por este sentimento e momento. As pessoas estão dioturnamente impregnadas por uma imprensa que fala o que quer, mesmo não tendo este papel. Só quando a lei de medios vingar é que estas mesmas pessoas poderão ouvir o contraditório e reverem seus atuais conceitos. E tem de ser logo...abraço

  • Não vai haver nenhum texto a respeito da plataforma da Petrobrás que inclinou? Reportagem ruim pro governo não deve ser escrita, né?

    • O Luiz Felipe, vá procurar no G1, UOL etc... vê se enche o saco de outro... Não tem o que falar e fica fazendo fofoquinha...

    • Fica calmo, Luiz. To esperando a americana Nobles, que é dona e operadora da plataforma - a plataforma não é da Petrobras - dar mais informações. Até agora houve um problema, sem dano material, humano ou ambiental. Fica relax.

    • Luis, cadê os 250km de metrô? os 5 bi que a Dilma liberou para São Paulo tem que fiscalizar.

  • AO BUNDAO QUE TEM NOME DE BANDIDO, IDEIAS DE BANDIDO, CHEIRO DE BANDIDO, MAS NAO PASSA DO ESTRUME DO CAVALO DE BANDIDO, A SABER: A PLATAFORMA A QUAL SE REFERE O INSIDIOSO ESTRUME DE BANDIDO, NAO PERTENCE A PETROBRAS, MAS A UMA EMPRESA NORTE AMERICANA DENOMINADA "NOBLE", PRESTANDO SERVICOS A PETROBRAS. A PROPOSITO, TAL PLATAFORMA FOI CONSTRUIDA NOS IDOS DOS ANOS 90, POR SEUS QUERIDINHOS MAFIO-PRIVATISTAS. HOUVE UM PROBLEMA ESTRUTURAL NESTA REFERIDA PLATAFORMA E A PETROBRAS COMO CONTRTANTE DOS SEUS SERVICOS E CONTRATUALMENTE SOLIDARIA POR RESPONSABILIDADE OBJETIVA, ESTA ENVIDANDO ESFORCOS, POIS POSSUI UM CORPO TECNICO ALTAMENTE COMPETENTE, PARA SANAR ESTA SITUACAO.
    NO MAIS, TRATA-SE NO SEU CASO, DE ERRO DA FONTE, POIS UM AMENTAL QUE SE GUIA PELA MIDIA COMERCIAL DO BRASIL, POR CERTO EH INIMPUTAVEL. VAI ESTUDAR VAGABUNDO!

  • E alguns desses inseridos na nova classe média vão no G1, Estadão e outros portais da oposição e xingam: Petralhas!!!!

  • Ou seja, em sua ignorância política estão comprando o mito moderno do self made man, de que a ascensão social se deve exclusivamente à meritocracia, como se não houvesse, por exemplo, circunstâncias, os limitantes ou empurrões da contingência. A velha "fortuna" em Maquiavel, capaz de ofuscar ou potencializar a "virtú".

    Esse discurso, martelado permanentemente pela mídia conservadora, massageia o ego de quem ascendeu, exacerbando seu orgulho, sua vaidade, ao mesmo tempo em que se faz crer que todos podem chegar a Jorge Paulo Lemann só pelo "esforço". A psicologia demonstra como a percepção de si próprio (e do entorno) é falha, o que é explorado com grande habilidade pelo marketing comercial e político.

    (A contingência é só uma das coirmãs da meritocracia, forças que definem o lugar de cada um na sociedade. Mas há outras. Não se pode esquecer dos frequentes casos de "sucesso" que resultam da burla impune das regras legais, como no tráfico de influência, no achaque, na concorrência desleal, nas chicanas... Mentes obtusas travestem marotamente a esperteza em modalidade de mérito, a justificá-la)

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