A Universidade de Washington refez suas projeções para o número de vítimas da Covid 19 e diz que teremos entre 280 mil e 306 mil pessoas mortas pela Covid 19 no Brasil até primeiro de junho.
Hoje, atingimos a marca de 230 mil e, na toada em que estamos, serão mais de 250 mil ao final do mês.
E como em fevereiro, independente da revogação oficial, tem carnaval, não devemos esperar um março menos mórbido.
Sinal, portanto, que as previsões norte-americanas são otimistas.
Estamos fazendo, sem sinal de alívio, mil mortes ou pouco mais por dia e não temos esperanças de uma vacinação expressiva até fins de março.
A vacinação de pessoas de 85 ou 90 anos ou mais, embora justíssima num quadro de escassez de imunizantes como a que nos encontramos, é um expediente para evitar a morte dos mais frágeis, mas não tem função de bloquear a transmissão da doença.
Além disso, é muitas vezes menor do que já fizemos em campanhas de vacinação em massa.
Não há um plano nacional de imunização: o governo federal apenas opera o envio aos estados o envio das vacinas, as poucas disponíveis.
E nem assim a vacinação deslancha:
Cada estado e ate cada município aplica-as (ou não) de acordo com seus próprios critérios, definindo idades e se há prioridade para pessoal, em tese, ligado à saúde.
Vacinamos, até agora, 1,5% da população e, portanto, a este ritmo, levaríamos 5 anos para aplicar as duas doses em cada um dos 213 milhões de brasileiros.
É impensável.
O governo está perdido e atira para todos os lados na tentativa de conseguir vacinas a granel, sem fazer a pressão necessária para que tenhamos mais doses de onde já a temos tratadas, e acenando com um “liberou geral” para quem tiver vacinas para “pronta-entrega”.
A Astrazêneca, com quem firmamos um contrato milionário, quando sua vacina ainda era apenas um projeto, é chamada a dar explicações por que nos manda apenas 90 litros (sim, 90 litros!) de insumo ativo, algo que dá, segundo a Fiocruz, para meros 2,8 milhões de doses, e isso a partir da segunda quinzena de março?
Sim, sim, eu sei que o inimigo do bom sempre é o ótimo, mas não podemos esquecer que atraso na vacinação é morte, é gente que se vai para nunca mais. E que a cena do velhinho de mais de 100 anos que se vacina, se nos aperta o coração não nos pode fechar a mente e fazer com que deixemos de perceber que há uma multilidão de 30, 40, 50, 60 anos, virtualmente privada, agora e por muitas semanas, da vacina que pode lhes salvar a vida.
Se a sociedade se conformar, com uma dúzia de imagens comoventes ( e de fato são) de gente muito idosa sendo vacinada, em números modestíssimos, estaremos deixando de fazer a pressão que acabou nos levando, malgrado o desinteresse do Governo, a termos algumas vacinas, felizmente.
É preciso que não esmoreçamos em reivindicar vacinas já, e não em doses homeopáticas. Os 60 mil brasileiros – quase certamente mais, talvez 100 mil – que ainda vão morrer nos exigem isso.