As cenas de homens e mulheres mandados ajoelhar nas calçadas do centro de Campina Grande (PB) para que se suspendesse a quarentena imposta ao comércio são o retrato do imenso retrocesso que o trabalho no Brasil experimenta há vários anos e que, agora, na pandemia do Covid-19, expôs-se de forma dramática.
Por vezes, com tristeza, voltam os versos de 150 anos, escritos pelo francês Eugène Pottier e que se tornariam o hino conhecido como “A Internacional ” socialista, com seu apelo à dignidade dos trabalhadores: “de pé, ó vítimas da fome”.
Sim, o trabalho é fonte de dignidade, não de humilhação dos seres humanos, como é tratado.
Ali estão as lojas, os balcões, vitrines, as mercadorias, transformados em nada se não há o trabalho para produzi-los e vendê-los.
Mas, ao mesmo tempo, de joelhos estão os trabalhadores, como bichos que pedem que sejam levados ao matadouro horrível do sufocamento da doença.
Foram precisos o horrores da Primeira e, depois, da Segunda Guerras Mundiais para que se substituíssem as práticas desumanas e cruéis que, até ali, marcavam o trabalho em fábricas, em minas, em todos os lugares onde era possível transformar em dinheiro a carne humana.
Primeiro nos países desenvolvidos, mas não apenas neles, a segunda metade do século XX marcou a elevação do direito ao trabalho decente à condição essencial de organização das sociedades. O Welfare State, o Estado do Bem-Estar Social, marcou todo o progresso, econômico e social, do mundo moderno e foi levando o trabalho semiescravo para as periferias e, mesmo aí, ao desprezo e ao repúdio de todo o mundo.
Agora, uma nova tragédia mundial serve de combustível para que a asquerosa brasa da exploração e do desprezo pela vida humana, jamais apagada, reacendo por toda a parte, dramaticamente, aqui entre nós.
Estúpidos e gananciosos, os donos da galinha dos ovos de ouro avançaram sobre o ser humano, para dizer que era dizer que era melhor algum emprego sem direitos do que direitos sem emprego.
Aí está, nas calçadas de Campina Grande, o retrato do que é isso: direito nem mesmo a continuar vivo, para que os patrões sigam em seu direito de ganhar dinheiro.
Terrível e monstruosa comprovação de que é preciso realizar outros versos de Pottier.
“Não mais direitos sem deveres, não mais deveres sem direito”.
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"Eles só são grandes porque estamos de joelhos" (De um padre Jesuíta francês cujo nome infelizmente não recordo).
A reforma trabalhista fez-nos recuar, em alguns casos, até mais de 100 anos. Por exemplo, em O Capital, volume 1, Marx já narrava a luta contra o trabalho intermitente, forma de aumentar a mais valia
Ari, a frase é de Etienne De La Boétie (1530-1563), juiz, escritor, humanista francês. cuja obra mais conhecida é "O Discurso da Servidão Voluntária", que, embora escrita no século XVI, está mais atual do que nunca nos dias de hoje.
https://youtu.be/aF_uMKC8E94
https://www.youtube.com/watch?v=_6Xc0EG7BHA
A Globo tem de ir com todas as suas forças para cima do figurão que ameaçou o Bonner de morte três vezes ontem, em um tweet bem curtinho. Isso não pode de jeito nenhum ser deixado para lá. Se a Globo deixar passar uma ameaça fascista deste quilate, os novos ataques contra ela poderão ser cada vez maiores.
São apenas vítimas tacanhas de lavagem cerebral do empresariado fascistoide. A imagem deve ter sido desenhada antecipadamente em algum gabinete de ódio especializado, mas se tratam de apenas vinte e cinco pobres coitados.
São apenas vítimas tacanhas de lavagem cerebral do empresariado fascistoide. A imagem deve ter sido desenhada antecipadamente em algum gabinete de ódio especializado, mas se tratam de apenas vinte e cinco pobres coitados.
Foram precisos bem mais que os horrores das duas guerras mundiais para que avançassem os direitos dos trabalhadores no século vinte.
Foi necessário, principalmente, que um espectro rondasse a "Europa" e que tal espectro se concretizasse nas revoluções em direção ao socialismo dos trabalhadores russos, chineses, vietnamitas, cubanos e de outras nações, e a resistência desses e de outros povos, mesmo quando derrotados, contra a exploração capitalista, para que a burguesia, assim forçada, se desse alguns vernizes civilizatórios, abrisse mãos de anéis, e algumas mudanças ocorressem.
É bom que isto seja lembrado, pois não será apenas a pandemia atual, ou outras catástrofes que possam advir, que levará à vitória os trabalhadores ou a novos avanços dos seus direitos. Ainda mais num tempo em que as tecnologias de dominação e escravização evoluíram tanto. É preciso lutar. Muito. Sempre.
Fascismo explíicito. Lambe-botas do grando capital
desculpe... grande...
Ajoelhados assim, dá a impressão de que esperam uma cimitarra!
É o retrato do desespero... Do empresário, lógico, este sempre na busca desesperada por acúmulo. O trabalhador é quem não se dá conta de que tem como ter produção sem empresário, mas não tem como ter produção sem trabalhador.