Minha avó dizia que pobre, quando vê muita esmola, desconfia.
Senti-me assim, ao ler a notícia, que saiu há pouco, de que o promotor Marcelo Milani, do MP de São Paulo está cobrando “das empresas que reformam trens do Metrô de São Paulo a devolução de cerca de R$ 800 milhões, valor que ele considera ser o prejuízo em razão de superfaturamento nos contratos” e que “se não houver essa devolução em 90 dias, Milani diz que vai entrar com uma ação judicial pedindo a dissolução das companhias”.
Não que faltem motivos ao promotor, porque os indícios de superfaturamento são flagrantes e o valor, por diversas vezes, foi calculado nesta faixa, até um pouco mais.
E que empresas que se aquadrilharam com agentes públicos – e alguém acha que foram contínuos de luxo que negociaram um sobrepreço deste tamanho? – merecem e podem ser dissolvidas.
Mas eu tenho a impressão de que estes rompantes grandiosos, muitas vezes, ajudam a que as coisas não dêem em nada, com todo o respeito à iniciativa do promotor.
Se houve um superfaturamento de R$ 800 milhões houve um crime contra o Erário?
Quem foram os criminosos, do lado corrupto e do lado corruptor?
Como aconteceu e quem se locupletou?
A denúncia não surgiu agora, mas há quase dois anos, como você pode assistir aqui.
Em que pé está a investigação de mais de um ano e meio?
Na Alemanha e dos Estados Unidos, a Siemens teve de pagar uma fortuna, mas os dirigentes responsáveis também foram responsabilizados.
Não é questão de um simples acordo: devolve-se um “X” e não tem ação judicial.
Paramos nos bagrinhos?
Está claro que o esquema de propinas, se ocorria concretamente em cada contrato, era uma prática corrente e duradoura. Uma associação continuada de interesses escusos, que atravessa uma década.
Seria muito bom que acontecesse tudo o que o Sr. Promotor ameaça fazer, mas isso não vai ocorrer sem que o crime – continuado – de assalto aos cofres públicos esteja descrito, materializado e comprovado, com seus agentes ativos e passivos.
Afinal, de pantomimas já vimos o governador Alckmin nos dar a sua cota, ao ponto de um juiz mandá-lo refazer a ação, por inepta.
Afinal, R$ 800 milhões de dinheiro público não é coisa para se tratar assim, em cima da perna.
Porque, senão, é espetáculo para a galera.
O MP paulista dormiu neste ponto por anos. Pode ser que tenha mesmo acordado.
Mas não custa ficarmos de olhos bem abertos.
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Não cai nessa. Eles são os donos do circo e estão apenas jogando para alegrar os palhaços.
Assim tenha dito.
Duvido muito que a juventude tucana, ou melhor, quero dizer, Ministério Público paulista tenha avançado alguma coisa nas investigações de um ano e meio atrás. O risco é a empresa aceitar e tudo ficar circunscrito aos bagrinhos. Mas, como dizem na minha cidade, cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça ...
O Alckmin nem sequer mandou embora até agora os envolvidos (já citados nas investigaçoes). Ele só age contra quem está delatando a corrupção.
É impressionante a cara de pau dos tucanos, desde 2008 há reportagens sobre denúncias dessa bandalheira no metrô e eles agem como se não nada tivesse acontecido. Pior ainda o fato de que o MP os acoberta e a "imprensa" paulista e nacional faz de tudo para esconder dos leitores e da população a gravidade dos desvios ocorridos. O PSDB, pelo visto, tem todos no bolso.
É assim o MPF-SP: como tem tucano envolvido na corrupção, eles agora vão atrás dos corruptores e esquecem os corruptos (pelo menos os de alta plumagem).
O que adianta devolver esse dinheiro prum cofre arrombado, que nao serve nem pra guardar sabonete e papel higienico? So bobo nao.
As penas da legislação nova anti-corrupção poderia ensejar nessas penas, mas é claro que o "bode expiatório" deverá ser empresas "vermelhas".
P.s.: num hipotético mundo em que tucanos são condenados, os mesmos poderiam abrir site na net pedindo doação para as multas. Claro que não para a população, mas para a Siemens e para a Alstom. Essas ai doam milhões a eles, sem problemas, ahahah.
Alô Fernando...atenção guerreiro ao apelo mais do que justo do blogueiro
René Amaral, feito neste post, para que sejam colocados os devidos créditos à sua ilustração -é claro se forem reais-, é o mínimo né parceiro, abraço.
É a maneira encontrada pelo MP para livrar a cara e o bico dos tucanos. No fim, essas empresas devolvem um pouquinho ( mais propina??)e não são dissolvidas, tucanos de alta plumagem não são sequer indiciados, contratos e licitações fraudulentas continuam, o PIG faz que nada disso existe e a justiça (inclusive STF) finge ter feito sua parte. E os tolos manipulados pagando a conta, com péssimo transporte público e ainda reelegendo os mesmos, tanto no legislativo como no executivo estadual.
Fernando !
Parabéns, gostei do designe do metro de SP.............
Sobre a queixa do René Amaral, ela é super justa. Engraçado que quando vi a foto, maravilhosa, procurei ver a anotação de sua autoria, pensei até que fosse coisa do Bessinha, e extranhei não encontrá-la. A solidariedade entre os blogs sujos passa por aí, gente!