Não há um só da minha geração – gente que anda chegando ou se despedindo dos 60 – que não tenha sentido uma profunda emoção, ontem, ao ver o dueto Chico Buarque/Gilberto Gil cantar “Cálice” (ou Cale-se) no Festival Lula Livre.
Súbita consciência do tempo, da fugacidade da vida, mas também da perenidade dos sentimentos e de amores feito o do Jacó de Camões, que outros sete anos serviria, se a vida não fora tão curta para tanto amor. Sei lá…
Tristeza de ver a música fazer sentido como da última vez que os dois a cantaram juntos, em 1973, mas força ao sentir o olhar disciplinado de Gilberto Gil ao bater os dedos nas cordas do violão, um imaginário fuzil de balas floridas e as mãos de Chico crispadas como a carregar o cadáver miúdo, um “anjinho”, da nossa liberdade moribunda.
Claro. Desanima ter de voltar, como Sísifo, a empurrar morro acima a pedra que trabalhosamente rolamos morro acima quando jovens. Há músculos piores, stents, diabetes, filhos criados mas ainda “batendo cabeça” e netos, quem sabe, a olharem perplexos para os “vôs” e a nos disputarem com as causas que nos tinham por inteiro…
Mas, que diabo! Os dois ali estavam e nos mostravam que a voz não cala enquanto não se morre e que, portanto, a gente vive enquanto se afastam o cálice e o cale-se.
Então a gente se lembra que, em 1974, um ano depois, apenas, daquele “Cálice”, alguém falou e falou nas urnas.
Inesperado, imprevisível.
Para os que acham que nada muda, conto que a ditadura parecia se legitimar com as eleições capengas, sem liberdade.
Gente jovem, muito jovem, perdeu a esperança e jogou, literalmente, a própria vida na causa improvável. Alguns só estão vivos por terem nascido quatro ou cinco anos após os da idade fatal da juventude sacrificada.
Em 70, o partido da ditadura, a Arena, elegeu 41 de 46 senadores e, na Câmara, 223 das 310 cadeiras, deixando apenas 87 para a “geléia geral” do MDB, metade deles pró-regime.
Do nada, porém (e do tudo, para alguns), o mundo vira de ponta cabeça. Das 22 cadeiras do Senado, a Arena faz apenas seis. Da Câmara, aumentada com cadeiras criadas para sustentar o governismo, o MDB dobra sua bancada.
Havia acabado, com a “surra” eleitoral de 74, aquela ditadura que só seria sepultada formalmente dez anos depois.
Agora, ela nos ressurge como um zumbi.
Mas um zumbi é um morto, um morto que como aquela ditadura finada em 1974, apenas se recusa a deixar-se sepultar.
A verdade, a humanidade, a fraternidade, a liberdade, os sentimentos limpos e luminosos, estes são a nossa causa e a nossa vida, a nossa vela, a nos empurrar.
Vela que as vozes, como as milhares de ontem, enfunam e empurram numa nova viagem, que não há de terminar nunca, senão quando este país for livre e seu povo, feliz.
Se perdermos a fé no povo brasileiro, perderemos o Norte e o rumo…
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foi mesmo um momento de muita emoção. e jamais poderíamos supor que 45 anos depois estaríamos no mesmo ponto, cantando as mesmas músicas, lutando pelas mesmas coisas. mas ainda com garra e fé, "que a fé não costuma faiá"
SENSACIONAL!!!
DEMOCRACIA JÁ.
Eleição sem vontade popular não tem legitimidade.
LULA LIVRE...
A mesma emoção, a mesma tristeza e a mesma esperança, Mas talvez possamos mudar o final.
Depois que virarmos a barca tem que lutar por punição dos traidores e ditadores de hoje.
Nosso erro do passado foi anistiar os criminosos fazer um pacto de paz.
É isso. Os torturadores e assassinos de então estão aí, livres, leves e soltos. Não há anistia ou perdão para crimes de tortura e morte.
"Se perdermos a fé no povo brasileiro, perderemos o Norte e o rumo". Verdade verdadeira, Brito. E que chega na hora certa porque andamos todos nós, da turma dos 60 e tantos, arriscando perder o rumo. O show de ontem foi uma recarga de baterias e, ao mesmo tempo, deu uma tristeza profunda. Voltei no tempo, aos meus 20 e poucos anos, estudante da USP e militante. Hoje preciso encarar meu filho, de 36, que me cobra por que a esquerda do passado não fez mais do que fez. Difícil a resposta, mas sigo em frente pensando nos netos. Meus e dos outros.
Voltou a fazer escuro, mas nós resistimos, lutamos, cantamos e conquistaremos como nos anos 70/80.
Nada detêm a chegada da Primavera, nem a morte de uma, duas, três rosas.
Não consigo aceitar que metade do Brasil tenha lutado para nos levar de volta ao passado e agora muitos continuem trabalhando para nos manter lá. Meu inconformismo vai continuar me fazendo acreditar até o último minuto desse jogo, que ele vai virar.
Lindos, tanto o seu texto quanto o momento capturado.
Brito, continua certeiro cortante e preciso. Obrigado camarada pela facilidade que tens de traduzir o nosso tempo nas linhas dos novos tempos.
E uma vez mais a ditadura quer se impor sobre a democracia mas não consegue se manter a não ser pela força e pelo arbítrio. De novo os golpistas estão sozinhos e de costas para as necessidades básicas do povo, e uma vez mais negando justiça e a oportunidade de uma vida digna para as maiorias sociais. Sabem no fundo que não há como manter esse apartheid social, mas uma vez mais tentam um último e desesperado golpe para garantir a manutenção de um mundo que a muito deveria estar sepultado.
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: * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo As Vozes do Bra??S??il e postando: Poesia contra a distopia (Distopia = Ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários (!??!!!????) em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia. “Distopia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013, [consultado em 13-10-2016].). : Poema(s) acróstico(s) para o maior e melhor brasileiro de todos os tempos : Luiz Inácio LULA da Silva :
L ouvemos quem bem merece o mais pleno louvor:
U m homem simples, como as coisas boas da vida,
Í ntimo camarada, nosso irmão e amigo de valor,
Z elando sempre pelo bem da humanidade querida.
I nimigo dos maus, amigo dos bons, trabalhador
N ascido do povo que muito o ama e admira,
Á rvore de bons frutos, os de melhor sabor,
C onsciência plena de tudo que no mundo gira,
I magem perfeita do homem de si senhor,
O humano defensor de humana lira.
L uz de nossa gente, lutador incansável,
U m verdadeiro herói do povo brasileiro,
L úcido e consciente do mais admirável
A mor pelo ser humano e verdadeiro.
D igno e sincero, fraterno e muito humano,
A migo do povo, honesto e sempre lhano.
S eja o meu/nosso canto para te louvar,
I sso que a voz do povo já disse várias vezes:
L ula, o BraSil vive mais feliz só por te amar,
V itória da melhor sorte no número treze,
A fazer do brasileiro a humanidade a se ampliar.
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Autor: Cláudio Carvalho Fernandes ( PoeTa anarcoexistencialista )
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L uz do povo brasileiro,
U m digno e fiel lutador,
L astreando com real valor
A honra do BraSil inteiro.
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L ula livrou 36 milhões da pobreza,
U m feito memorável, sem precedentes,
L utando contra a mídia venal, teve a certeza
A bsoluta de estar ao lado dos brasileiros conscientes.
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L ivrando da miséria extrema 36 milhões de brasileiros,
U m feito sem igual, que, por si só, já bastaria,
L ula segue sendo no mundo um dos primeiros
A fazer de seu povo a eterna rima rica de sua poesia.
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Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já pra antonti (anteontem. Eu muito avisei…) ! ! ! ! Lul(inh)a Paz e Amor (mas sem contemporizações indevidas, ou seja : SEM VASELINA) 2018 neles/as (que já PERDERAM, tomaram DE QUATRO nas 4 mais recentes eleições presidenciais no BraSil) ! ! ! ! !
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Haveremos de superar mais este momento triste.
Vi o show inteirinho, do começo ao fim. Foi emocionante ver o Chico e o Gilberto Gil. E, Fernando, seu texto foi preciso, destinado aos que tem juventude acumulada. Muito bom.