Não se sabe o que é pior, o “e daí?” para 300 mil mortos ou o “dane-se” para 212 milhões de brasileiros, a duras penas, vivos.
O fato concreto é que o Brasil é hoje um país que apenas formalmente tem um governo central.
O tempo presidencial, que deveria ser precioso quando o País está a um mês de atingir 400 mil óbitos, é gasto entre “camas de gato” político-militares, e reuniões com “apóstolos” pregando um jejum – única coisa em que milhões de brasileiros pobres seguem em Bolsonaro – milagroso para salvar o país.
Não há nenhum segmento social que aposte que este governo possa fazer o país se levantar, mesmo quando – e se – este pesadelo da pandemia houver passado.
Está errado o Estado de S. Paulo, em seu duro editorial de hoje, em dizer que “parte de Brasília está entregue a golpistas delirantes e a velhacos”.
Golpista delirante só há um: Jair Bolsonaro, pois o séquito de alucinados que se agrupa em torno de sua família não existe sem ele. Todos os demais, que negociam e devoram cargos em meio à confusão, portam-se como velhacos.
Escusam-se de falar, decerto por que os bons modos mandam que não se fale de boca cheia.
O país vai seguindo sem rumo, como um navio que naufraga, no qual os amedrontados governantes que ainda tentam fazer algo são obrigados a usar apenas baldes para tentar conter a inundação. Ou será que a gente pode dizer que funciona uma metrópole como São Paulo se contrata vens de transporte escolar para carregar corpos às centenas e, no mesmo dia, anuncia que vai reabrir as aulas presenciais nas escolas?
Está se construindo um cenário tão desastroso que a direita alijada do projeto (projeto?) bolsonarista – inclua-se a mídia na ribalta – volta a falar em impeachment, para amainar o escândalo e evitar que a brutal rejeição ao presidente que fizeram eleger torne inevitável o retorno de Lula ao governo.
Não têm, entretanto, força para isso e, sobretudo, sabem que vão enfrentar as falanges do bolsonarismo se o ousarem. É melhor – e mais lucrativo – ir comendo seu governo pelas beiradas e esperar para ver se surgirá algum pote salva-vidas no qual possam lançar-se.