Supremo impõe pior derrota ao autoritarismo da Lava Jato

Não foi uma vitória circunstancial a que o direito de defesa obteve hoje no plenário do Supremo Tribunal Federal.

Foi sólida e deve se consumar, salvo surpresas, pelo placar de 7 a 4, quando se colher o voto do ministro Marco Aurélio Mello, na próxima sessão.

Grande parte das sentenças proferidas em julgamentos – e não só da Lava Jato – sem que a defesa dos condenados tivesse o direito de se manifestar depois daqueles que se beneficiaram da delação premiada será anulada.

As tentativas de Luís Roberto Barroso, Luiz Fachin e Luiz Fux de fazer com que esta agressão ao direito de defesa só valha daqui para a frente – “ex-nunc”, no vocabulário jurídico – foram patéticas e não têm nenhuma chance de prosperar, pela insólita pretensão de dizer que o respeito ao princípio da ampla defesa “só vale daqui para a frente”.

Mesmo a modulação sugerida por Alexandre de Moraes – vale apenas para os réus cuja defesa tenha arguido antes este cerceamento de defesa, que estaria precluso (vencido) no caso de não ter havido recurso tempestivo do réu que o alegasse dificilmente se sustentará senão por razões políticas, não jurídicas.

Infelizmente, é tese com possibilidade, pelos restos de covardia presentes no STF, com chances de prosperar, mas sob protestos.

Celso de Mello deu duas vezes este recado: a primeira, em seu voto, ao dizer que a violação do devido processo legal, para ser reconhecida, independe dos reclamos do réu e a segunda, ao frisar que qualquer modulação dependeria de uma maioria de oito votos favoráveis, sinalizando que o seu não seria um deles.

O julgamento teve momentos vergonhosos, como o voto de Cármen Lúcia, ao reconhecer que havia uma violação do processo legal mas que era preciso que, dela, se comprovasse o prejuízo ao réu, numa aplicação mecânica do princípio do “pas de nullité sans griffe” (não há nulidade sem prejuízo), porque o atingido, neste caso, não é o réu, mas o processo que sofreu a violação.

Luís Roberto Barroso, numa cena deprimente, tratou o julgamento como a anulação dos processos da Lava Jato, o que nunca foi.

Até porque a decisão do Supremo, ainda a ser formalizada, não anula as investigações, as delações ou os testemunhos, anula apenas as sentenças proferidas sem o exercício amplo da defesa, que deve ser permitida com o conhecimento amplo e completo das acusações.

Feito isso, todos os processos estarão aptos para julgamento.

A diferença essencial é a de que serão julgamentos de outros juízes, não de Sergio Moro.

O Deus da Lava Jato não é mais o senhor do Universo e que as decisões serão recorríveis, sem que contrariá-las seja uma heresia.

 

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • Que figuras deploráveis são Fachin, Barroso, Fux e Carmen. Esse Fachin ainda se dá ao luxo de fazer discursos bonitos nas férias e, na hora da verdade, prova que "é deles". Carmen é um espectro que fala. Fux um Zé Bonitinho sem graça e do mal. Barroso, esse dispensa elogios.

    • Todos indicados pelo PT....TODOS !!!!

      Depois o traira é o Gilmar...

      • Não foram "indicados" pelo PT. Foram indicados pela Corporação da Justiça. O PT seguia a lista tríplice - isto sim mostrou-se uma HERESIA BURRA. Se estes são o que são, imagine os outros dois nomes - de cada lista - que foram "negados"...

      • Luiz Fux foi indicado pelo FHC... Carmen, Barroso e Fachin pelo PT.

    • Lembrando para não esquecer nunca... Os piores e mais oportunistas (isso soa estranho nessa corte superior de oportunismo) fomos nós que colocamos; ponto.

  • A globo já definiu a delimitação do Toffoli: Lula não.

  • Os votos contra a anulação de setenças da Lava jato foram dos ministros Barroso, Fux e Fachin. "Surpreendente". Uma prova irrefutável da fidedignidade dos vazamentos do The Intercept.

  • Os três Luizes e uma Carmen não se equiparam ao discurso de um bêbado de botequim.

  • Aberração jurídica alguém ser condenado sem ter o direito de replicar contra a acusação.

  • Se o STF for um tribunal guardião da Constituição e do estado de direito vai anular todos os processos penais a partir da fase das alegações finais em que tenha havido cerceamento de defesa depois de delações premiadas. Não importa se é o réu é pobre ou rico, preto ou branco, político ou não, atingido pela Lavajato ou não. O direito a ampla defesa é constitucional e alcança a todos sem distinção.
    As sentenças serão anuladas, os processos voltarão à primeira instância para as alegações finais e os réus condenados serão libertados.
    A proposta dos ministros derrotados da decisão valer ex nunc é uma excrescência indigna de ministros da mais alta corte do país. É um absurdo a submissão desses ministros à Lavajato.
    Em minha opinião, depois da decisão de hoje, se para atender a uma mera formalidade, for preciso que cada prejudicado entre com um Habeas Corpus pedindo a extensão automática dessa decisão para o seu caso, que assim seja, e que todos sejam contemplados imediatamente na primeira sessão do STF. Se precisar de caso concreto, que os habeas corpus simplesmente se concretizem e a decisão seja estendida imediatamente funcionando como uma súmula.

    • "Se o STF for um tribunal guardião da Constituição e do estado de direito (...)" emitiria ordem de prisão para eles próprios. Com cumprimento imediato. A partir de hoje mesmo. São todos criminosos e nem sabem o que é "Constituição". Bandidos. Abraços.

    • Sandra!1 Você não acha meio estranho este voto demorado do Fachin e a enrolação do Cagão do tofinho. Porque o tofinho de m... não acompanhou a maioria???Será que esta "çupreminho" de m....está com medo da milicagem???

  • Relaxa, na quarta eles vão dar um jeitinho de que isso não sirva para Lula.

  • Não se sabe até onde pode ir o desespero dos derrotados, mas com certeza ele é tamanho que muito dificilmente se trata apenas de uma reação a uma causa perdida. Não é uma reação normal, dentro do andamento habitual do jogo democrático. O desespero que leva Janot, FHC e os ministros lavajatistas a falarem despautérios e a quase entrarem no reino do pavor e do pânico, indica que eles estão correndo alguma espécie de grande risco com esta derrota.

    • Não entendi o porquê desta conclusão. Por favor, explique. Não estou tentando te contradizer. Gostaria da informação, pois achei interessante o seu comentário.

  • Caro Fernando,
    Sempre leio o Tijolaço com muito interesse e tenho grande apreço por suas ponderações.
    Sugiro a correção, nesta matéria, da palavra "grief", em Francês, que saiu griffe, provavelmente por erro do corretor automático.
    Cordialmente,.

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