A melhor maneira de perder uma luta é aceitar a lógica do adversário.
Há um mês, o Banco Central deu às “feras do mercado” um aumento de 0,5% nos juros, quando a ração que pediam era de 0,25%.
Atender ao “mercado”, aliás, é a regra dos Banco Centrais “independentes”, dirigidos por quem veio de lá e para lá vai voltar.
Mas o nosso BC quis ir além do “eu dou o que vocês querem” e acrescentou um “e nem precisa pedir, para que vocês vejam como eu sou legal”.
O resultado é que passaram a querer mais e mais. Já sabem que o poder público (alô, BC, você é parte do Governo brasileiro!) tremeu nos joelhos e avançam.
Veja o que diz hoje o Estadão:
“A disparada da cotação do dólar provocou uma mudança nas apostas para o resultado da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 9 e 10 de julho. Com a alta do dólar e a maior pressão sobre a inflação, a maioria dos investidores agora aposta que o Copom elevará a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto porcentual, ritmo superior ao 0,5 ponto porcentual que era projetado na semana passada.”
E, em outra matéria:
“(…) O mais racional neste momento seria que o governo reduzisse os gastos e isenções fiscais – ou seja, que adotasse a política fiscal contracionista.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, passou a semana conjecturando alternativas de austeridade fiscal, mas veio de cima o sinal de que a prática vai na direção contrária. Na quarta-feira, enquanto o dólar seguia em alta para fechar em R$ 2,154 (o maior valor desde abril de 2009), a presidente Dilma Rousseff lançava uma linha de financiamento para os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida comprarem eletrodomésticos. O pacote, de R$ 18 bilhões, será abastecido com recursos do Tesouro Nacional.
“Na primeira semana em que o mercado testa o Brasil, o governo vai na contramão e lança esse programa”, diz o especialista em finanças públicas Raul Velloso.
Raul Velloso, para quem não sabe, é ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso. Natural que pense assim.
O que não é natural é que se faça desmoronar toda a tímida recuperação da indústria brasileira – e, de cambulhada, as combalidas capacidade de consumo das famílias e a demanda por crédito – com um aumento cavalar nos juros.
A disparada do dólar é um fenômeno mundial e, por isso, afeta menos – embora, de fato,afete – a nossa capacidade de atrair capitais. Mas ela será menos grave se, ao não destruir o consumo interno, que tornou o Brasil um mercado do qual empresa mundial alguma quer ficar fora.
Já “a maior pressão sobre a inflação” existe. Mas, sobretudo, nos “itens” mídia e política.
Veja o resumo do Valor sobre os Índice de Preços ao Consumidor semana, divulgado agora de manhã pela Fundação Getúlio Vargas:
Inflação diminui ritmo em seis capitais
” O Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) registrou taxas mais baixas em seis das sete capitais pesquisadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) na segunda semana de junho, em comparação com a primeira.
A única capital em que o indicador acelerou foi Salvador, onde a taxa passou de -0,11% para 0,06%.
O IPC-S cedeu em São Paulo (de 0,51% para 0,46%), Porto Alegre (de 0,52% para 0,49%), Rio de Janeiro (de 0,62% para 0,49%), Recife (de 0,54% para 0,49%), Belo Horizonte (de 0,48% para 0,41%) e Brasília (de 0,72% para 0,45%).
Na média das sete capitais, o IPC-S cedeu de 0,48% na primeira quadrissemana deste mês para 0,43% na segunda leitura.
Alto? Sim. Em alta? Não. Em disparada? Absolutamente, não.
O que mais espanta, porém, é a absoluta inapetência de todos, exceto – e timidamente – a Presidenta Dilma Rousseff e Lula – em confrontar a enxurrada de “verdades” que vem sendo proclamadas diante dos problemas do país.
A dominação das mentes pelo “pensamento único”, pela aceitação das “verdades” do rentismo, é absurda.
Lembra a Síndrome de Estocolmo, a que faz ver como nossos heróis aqueles que são nossos algozes.