Não há nada de errado em sem-teto, metroviários e até policiais militares se manifestarem em defesa de seus direitos.
Nada de errado, mas muito de estranho nessa improvável confluência de todos em torno do Itaquerão.
Tão estranho que é obvio.
Não adianta o líder dos sem-teto, Guilherme Boulos, dizer que “o receio que nós temos é que as manifestações sejam utilizadas por esses setores mais conservadores que não nos representam e representam um projeto atrasado na nossa opinião”.
Claro que é legítimo aproveitar a visibilidade da Copa para obter concessões, em políticas públicas e em salários.
Mas não é, para sem-teto, policiais ou metroviários, impedir à força que a população e os torcedores se desloquem livremente.
É um contra-senso que o mesmo cidadão ameace que “se até sexta (amanhã) não tiver uma resposta para nossas reivindicações, não sei se a torcida vai conseguir chegar a esse jogo, não”, referindo-se ao amistoso da seleção no Morumbi e ao jogo de abertura da Copa.
Os líderes do movimento dos Sem-Teto, com todas as razões que tenham, certamente sabem que são vítimas da completa ausência de políticas habitacionais durante o longo inverno neoliberal que, antes do Minha Casa, Minha Vida, demoliu todos os – mesmo distorcidos – programas de habitação popular.
Os dos policiais e metroviários, com certeza, estão cientes que os cofres públicos paulistas e os da empresa em que trabalham foram severamente saqueados pelas forças políticas que os controlam e que, agora, esfregam as mãos esperando que seus movimentos atinjam eleitoralmente o Governo Federal.
Quanto ao pessoal da Companhia de Engenharia de Tráfego, municipal, basta que se diga que sua última greve foi há dez anos, na gestão de Martha Suplicy.
Quando um movimento social ou sindical leva a população ao paroxismo, duas coisas acontecem.
A primeira, mais imediata, é que ele perde apoio político.
Basta ver o que acontece agora e acontecerá durante o dia.
A segunda é que, por isso, aumenta o apoio político aos que sempre foram seus algozes.
O governo federal precisa ter absoluta tranquilidade diante disso.
Porque, tanto quanto os líderes destes movimentos “municipais” e “estaduais”, sabem que tudo será jogado às suas costas.
Inclusive, e sobretudo, uma reação violenta a quem, por suas reivindicações, não percebe que, nas palavras de um de seus próprios líderes que admitem que há o “risco de uso eleitoral que nós estamos vendo nesses protestos é pelos setores conservadores do País, de grandes partidos como PSDB e PSB que têm tentado surfar na onda das mobilizações”.
Seu dever é pressionar Estado e municípios para que negociem e sejam flexíveis, em lugar de repressores.
Mas também há deveres para as lideranças, a menos que desejem o mesmo que “coxinhas” e “blackblocs” e não, como cidadãos e trabalhadores, defenderem os interesses daqueles que lhes depositam confiança.
Líder que pensa e não faz, seguindo o caminho fácil que a mídia conservadora lhe abre precisa abrir o olho.
Manifestação, muito bem, ótimo. Legítima e necessária.
Tanto para pressionar a prefeitura, quanto para pressionar Alckmin e mesmo para pressionar Dilma.
Mas não perceber que a direita e a mídia estão loucas por situações que levem a conflito nas ruas é pior do que ser cego.
É isolar seus movimentos diante da população exausta e levar água ao moinho dos que sempre lhes baixaram o pau.
Tomara que entendam e reconheçam que são seus inimigos que, a esta hora, torcem para o “não vai ter copa”.
E que não levem trabalhadores e gente sofrida, explorada e injustiçada a fazerem o que os bem-nascidos coxinhas e blackblocs não conseguiram.
E a jogar contra seus próprios aliados históricos, ao lado de seus inimigos de sempre.
Coerência não é calar a boca por medo de “patrulhas” e esconder das pessoas as consequências politicas do que a gente diz e faz.
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Tudo indica que tem gente esperta levando muito dinheiro para levar a massa de manobra para a rua, para levar cacete, gás lacrimogênio, bala de borracha, enquanto eles mesmos ficam no bem bom da zona de conforto, não têm nem parentes correndo riscos nas ruas.
Está faltando estratégia nos movimentos sociais ou estão sendo feitos no improviso? Fico pensando: a Copa dá sim visibilidade, mas com quais resultados? Para a Copa, a urgência atendeu à categoria da Polícia Federal, necessária nesse momento. 15% de aumento. Greve de ônibus e de metrô tem poder de barganha nesse momento. Ano eleitoral: oportunidade estratégica de pressão. Tudo bem. Quem é que está no páreo: candidatos à presidência da república, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Então a direção seria nesse sentido. Não vejo como estratégica a pressão seletiva a algumas prefeituras. Seria, se os funcionários estaduais ganhassem alguma coisa. Agora, digam se não é muita ilusão (não desmerecendo as reivindicações) a categoria querer 40% de aumento. A PF ganhou 15%. Em junho, as escolas estarão de férias. Quando os jogo pegarem o ritmo, quem vai se lembrar do professor, se normalmente, nem a mídia lembra, a não ser para falar da má qualidade do ensino (que é o mesmo que falar da qualidade do professor)? Deveriam ligar, mas já não há mais Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e muitos desistiram no meio do caminho. Pessoalmente, deixaria a Copa passar e iria cobrar da sociedade o apoio FIFA (apoio das elites), da mídia. Por que essa porqueira de mídia não usa seu potencial de repercussão para incentivar o ensino, a pesquisa e a extensão. Por quê só cria cadernos especiais em épocas de vestibulares, ENEM? Educação é movimento contínuo e as empresas brasileiras deveriam cuidar tão bem dela como da onda que fazem sobre o meio ambiente. É mais fácil e aventureiro salvar begles (lindos, por sinal) do que salvar uma criança pobre do analfabetismo e das ruas.A sociedade, aquela parte mal humorada que só faz reclamar, deveria arregaçar as mangas e se envolver mais com a educação, a saúde. A gente precisa é de atitude e não de picuinhas.
Bom, dizer que não há nada de errado em greve da polícia, pode haver uma imprecisão.
Há sim algo errado, frente à ausência de legislação específica para greve de servidor público.
Claro, a crítica não é ao policial e à corporação, mas ao Congresso Nacional que cria: dia do verde, dia do rosa, dia do terno, homenageia uns, desagrava outros, sabatina, cria CP(izza)I´s, etc, mas não tem tempo para regulamentar um ato tão salutar na democracia.
A MÍDIA CONSERVADORA (O PIG), NO DESEJO INSANO DE QUERER DESGASTAR A PRESIDENTA DILMA E LULA, ACABOU DEPRIMINDO, SEM QUALQUER OUTRO MOTIVO, O BRASIL. POR ISSO ABAIXO A GLOBO, ANTES QUE ELA ACABE COM O BRASIL.
"O PESSIMISMO E O MEA CULPA DE ZUENIR VENTURA
qui, 05/06/2014 - 11:06
A ONDA DE MAU HUMOR
Zuenir Ventura
Reclamam sem saber bem de quê, em geral, de ‘tudo isso que está aí’, com prazer masoquista. Hoje o pretexto é a Copa, seria outro se não houvesse esse.
Algumas pessoas já perceberam que uma onda de mau humor nos atingiu. O sociólogo italiano Domenico De Masi, admirador e estudioso do Brasil, aonde vem com frequência, declarou em entrevista que o país está “deprimido”, e sem motivo para isso, pois acha que poucas nações avançaram tanto nesses últimos 30 anos. Ele acredita que podemos contribuir para a construção de um modelo de vida universal, “baseado na miscigenação, na sabedoria, na beleza e na harmonia”. E, eu acrescentaria, na vocação para a alegria. O humorista Tutty Vasques, que faz crítica com graça, a exemplo do Chico Caruso, também acha que o clima está pesado, tanto que tem medo de rir em público e ser advertido por alguém: “Está rindo de quê?” A campeã olímpica de judô, a francesa Lucie Décosse, passando por aqui, observou: “As pessoas estão muito irritadas; todo dia tem uma greve!” Uma amiga chegou a classificar de “núcleos de entusiasmo” os grupos que ainda teimam em contrariar a moda da cara emburrada. Até Alice anda irascível porque continua sem resposta para a pergunta “quem manda no mundo?” Ela deve estar querendo fazer também alguma reclamação. Outro dia contei aqui histórias de um motorista de táxi bem-humorado e otimista. Pois bem, um leitor achou que se tratava de um “personagem inventado” e um repórter da TV Bandeirantes entrevistou-o por ser uma raridade."
Quando a greve é dos Rodoviários, a imprensa culpa o Prefeito. Quando é dos Metroviários, a culpa é dos grevistas.
Não sei não. Mas como os coxinhas e blackblocs não conseguiram agora entra em campo uma "nova força". Eu começo a suspeitar que a força que os mobiliza é a mesma. Ponto para os legalistas que querem repressão policial e derrota para os esquerdistas que acreditam na luta sindical como força transformadora do capitalismo. Pode ser que a longo prazo, a luta sindical saia enfraquecida.
Fico pensando , e depois que a copa acabar? como fica os coxinhas e sua revolução? o PIG vira as costas e lhes da uma banana?
Hoje em dia o ponto de encontro dos "manifestantes" é em frente a Arena Corinthians, (sem teto, policiais, metroviários, black block(?), etc.,etc.etc.
Acabei de saber que esse Guilherme Boulos é um psicanalista de 30 anos. A formação de um psicanalista é cara. Daí, a pergunta: O que é que um psicanalista está fazendo à frente de um movimento de sem teto? Será que Freud explica? Ou Lacan? Ou é o Foucault? 'Do divã ao asfalto' deve ser a próxima atração da TV paga. Ou da TV Globo. E eu que achava que o filme revolucionário era "A classe operária vai ao paraíso". Pelos líderes que andam surgindo deve ser uma trama de ação: A elite ociosa vai ao inferno por gosto... de poder" Será que ele vai ao Roda Morta? Ainda por cima recheado de ameaças violentas. Já vi de tudo, mas essa...francamente!
Se esses da foto...pelos tênis que usam, pelas calças e camisetas que usam, pelos rostinhos corados de maçã e yogurte, são "sem tetos" minha querida maezinha é a maior latifundiária do Brasil.