De José Roberto de Toledo, vida inteligente na imprensa brasileira, em sua coluna de hoje no Estadão, sobre a dissolução (aliás, francamente estimulada pela mídia) dos partidos políticos, de todos os matizes, ou já sem matiz algum:
” Sempre que o Planalto entra pesado para aprovar ou brecar uma proposta, as bancadas partidárias se dissolvem. A negociação é voto a voto, grupelho a grupelho, financiador a financiador. E, nisso, a Turma do Pudim não tem concorrência. O PT pagava mais caro e sofria muito mais para conseguir maioria. O PSDB idem. Não é à toa que o maior vencedor de ontem não foi nenhum partido ou indivíduo, mas uma massa amorfa de letrinhas intercambiáveis.Define-se pela posição geográfica, traduzida no apelido coletivo de “Centrão”. Reúne deputados que podem estar hoje em uma sigla e amanhã em outra, sem que isso faça diferença sobre como votarão ou sobre suas chances de reeleição. É dando que recebem. Estão sempre no centro, ou seja, apoiando o governo, mas ameaçando constantemente debandar se não forem recompensados.
Esse grupo tomou das mãos indecisas do PSDB o papel de fiador do governo, ganhou status e vai cobrar cada vez mais caro por isso. Se a espada do poder não escapou do punho de Temer foi graças ao cabo trançado entre PSD, PTB, DEM e outras legendas similares. De cara, o “Centrão” vai tentar coletar ministérios que estão com os tucanos. Nada mais natural, dada sua fidelidade e a inconstância tucana. Mas não vão se contentar com isso.
Animados pelo protagonismo repentino, já sonham com as eleições majoritárias de 2018. Falam até em uma chapa presidencial encabeçada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (depois de zanzar por PSDB, PMDB e pelo governo Lula, ele está filiado ao PSD de Kassab). Falta ainda combinar com o eleitor – afinal, a recuperação econômica é um feto numa gestação de risco.
Não foi por acaso que 9 em cada 10 discursos dos deputados que votaram a favor de Temer ontem justificaram seu voto pela necessidade de estabilidade política para a economia voltar a crescer. Apostam seu valorizado capital político na retomada do crescimento ao longo de 2018 – acreditando que o eleitor e seu bolso só se lembram do que acontece no ano da eleição. Se essa aposta não pagar o que esperam, já terão lucrado bastante.
Antes das urnas haverá mais votações no Congresso decisivas para a sobrevivência do governo. O procurador-geral Rodrigo Janot não esgotou todo seu bambuzal para mandar flechas contra Temer. Outras denúncias virão, e, a cada uma delas, o Centrão será chamado a dar seus votos decisivos para escudar Temer e mantê-lo pregado à cadeira presidencial. Cobrará por isso. De novo.
O problema dessa contabilidade é que ela não fecha. O déficit público está estourando e vai explodir para Temer honrar sua dívida com o Centrão. A conta virá na forma de mais impostos. Será um feito convencer o eleitor a votar em quem o faz pagar mais por menos, enquanto centristas, ruralistas e sonegadores prosperam.
View Comments (9)
Análise acurada do que vivenciamos ontem e do que vivenciaremos, daqui por diante.
Bom dia,
tão se achando! kkkk... Só que esquecem que quem votou e derrubou Dilma foi eles com demais e as urnas estarão ferrados todos! Aqui vai ter um país para nós brasileiros e não para essa corja apoiada pelo EXÉRCITO
So lembrando o que disse Juca': STF, Exército, tão tudo no acordão. Só o povo que não acorda, e a corda cada vez mais no pescoço...
O lado divertido, se é que ainda podemos nos divertir com alguma coisa, é que a nossa "grande imprensa" tucana patrocinou o golpe contra Dilma para derrubar Lula e o PT acreditando piamente que logo em seguida Temer seria substituído pelos "príncipes" tucanos que ela idolatra. Com a entrega do poder a gente como Aécio, Serra, Alckmin e outros que tais, tendo FHC como "presidente honorário", estaria cumprida a sua missão de colocar de volta no Planalto aqueles que não o conseguiam fazer pelo voto. Perdedores nos últimos quatro pleitos, os tucanos voltariam assim ao poder para a satisfação geral de seus padrinhos no "mercado", Itaú, Bradesco, etc, que são, por sua vez, os donos da mídia. Mas essa equação da turma foi para o brejo, como era previsível para quem conhece política, porque o Centrão de Cunha e de Temer, uma vez ali instalado, de lá não sairá facilmente. Eu diria que vamos ter uma década de governo do Centrão, até o país virar um imenso lamaçal povoado por famintos e por uma classe média esfarrapada.
Beth, sua análise do cenário político a curte e médio prazo de tão exata, chega a ser matemática. Os midiótas estão achando não vão precisar de pagar as contas do golpe,só que não.
Ótima análise. Só pecou em uma coisa: o PSDB é parte do centrão. Ele deu 26 votos para Temer (4 ausências contam pró-Temer), foi o quarto partido que deu mais votos, mais do que PSD e DEM (24 cada) e PTB (16). 55% da bancada tucana é centrão.
O PSDB está repleto de deputados que trocam da partido conforme conveniência. O próprio Imbassahy veio do PFL. Há outros que passaram por 3 ou 4 partidos.
Quanto deputados cada partido deu (entre as maiores bancadas).
Quantos votos cada partido deu a Temer: PMDB 57, PP 39, PR 31, PSDB 26, PSD 24, DEM 24, PTB 16, PRB, 16
Por isso não creio que o PSDB perca ministérios. O único que intere$$a ao centrão é o que tem verbas, das Cidade$. Mas o PR já tem o dos tran$porte$, o PP já tem da $aúde e Agricultura, o PSD do Kassab teve menos votos do que o PSDB para desbancar o das Cidade$.
Quem pode perder ministérios é o PPS (Jungmann só deu 1 voto a favor e 9 contra), e o PV (Sarney Filho só deu 3 a favor e 4 contra).
O PSB (13 votos a favor e 22 contras) pode ser remanejado. Pode perder o de Mina$ e Energia e ficar um ministério de menor orçamento.
Mas o que conta não é só o partido, é o tanto de votos que cada Ministro arregimenta em outros partidos sob sua influência também, às vezes através de alianças regionais ou fisiologismo (onde o próprio ministro barganha cargos de segundo e terceiro escalão de seu ministério com partidos menores do centão).
E o pior de tudo tem muitos vagabundos de eleitores que só lembram de políticos so na eleiçao e esses vermes não estão errados.
Cheguei a conclusão, cada povo tem o governo ou desgoverno que merece e tem mesmo.
Por que o povo não reage? Simples: a quem apelar? Não existe mais justiça no país, todos são corruptos. A única saída, seria na base da porrada, mas as forças armadas estão com eles. Agora podem escrever, diante da pouca vergonha demonstrada por este congresso corrupto, sem se preocuparem com as eleições do ano que vem, isso indica que eles darão um jeito de não haver eleições em 2018.