Cada vez mais leitura indispensável, José Roberto de Toledo, hoje, no Estadão, traça um quadro tão preciso quanto cruel do dilema vivido por Michel Temer: quer ser tudo e ainda é quase nada, uma “bucha” para a retirada de Dilma do poder, subcondição da qual pretende ascender com o que ele acha que será sua legitimação: a consumação do crime no Senado.
“Michel Temer quer ter legitimidade como presidente. Parece que só pensa nisso. Age como titular, mas sofre como interino. Pois assim é tratado pelos pares daqui e de acolá. A formalidade, que tanto preza, obriga o silêncio diplomático. Como resultado, é formalmente ignorado. Não visita nem recebe chefes de Estado no palácio. Nem sequer tem conversações formais com presidentes, pelo menos que possam ser divulgadas (e é isso que interessa).
Resta-lhe sonhar com seu début internacional, com sua primavera presidencial. Quando setembro chegar, pretende ir à China – e lá fazer negócios proverbiais: vender bifes e aviões. Quem sabe o que mais? Passear por palácios milenares? Passar tropas em revista? Jantar pato laqueado? Posar para câmeras internacionais apertando a mão do governante de uma potência mundial como se fossem iguais? Quimeras, fantasias. Até lá, a realidade é dura.
Enquanto setembro não chega, Temer tem que receber pessoalmente Eduardo Cunha e achar bacana. Tem que esperar ministro pego com a boca na botija pedir demissão porque não tem autonomia nem para demiti-lo. Tem que nomear quem lhe encomendam sem reclamar – e não nomear substitutos para os ex-ministros porque eles ainda acalentam a esperança de voltar. E dar aumentos, e liberar verbas, e bajular senadores e adular governadores. Às pencas.”
Toledo diz que Temer julga que ” condenação e o impedimento” de Dilma o ” livrará não só do epíteto de vice como poderá [fazer com que ele possa] usufruir de toda pompa e circunstância que a interinidade lhe nega”.
Pode conseguir ambos, mas também se marcará de foma mais profunda o estigma da traição e da ilegitimidade que carrega. Ambos, perdoados na bonança, costumam na crise serem trágicos ácidos a dissolver a governabilidade: Sarney, no pós Cruzado, Collor no pós confisco; FHC no pós “um dólar = um real” e, bem recente, a própria Dilma no pós Levy.
Sua ânsia para que setembro cheque é proporcional à irresponsabilidade com que a administração e as políticas vão sendo tratadas por seu governo.
O rombo foi elevado e “repetido” para, ao menos o ano que vem. No mínimo, porque parte dele são despesas permanentes, cujo o impacto se estenderá por anos e anos.
As benesses concedidas também encheram de água a boca seca de administradores públicos e já começam as ginásticas para ver como acomodar os governadores do Nordeste na mesma canoa de bilhões estendida ao Rio para que não naufragasse antes das Olimpíadas.
Que lhe serão, aliás, uma talvez derradeira saia-justa antes de abocanhar definitivamente a presidência: a abertura das Olimpíadas que, neste momento, sofram com denúncias de corrupção, tensão com a situação do Rio e quórum baixo de presença para o que se esperava fosse uma delegação de uma centena de chefes de Estado.
Nesta “prova”, Michel Temer não poderá fazer forfait e escudar-se no “pobre de mim, sou apenas um vice”, diz Toledo.
Enquanto setembro não chega, Temer terá um momento de titular, porém. Será às 20h do dia 5 de agosto, no estádio do Maracanã. Dividirá a tribuna presidencial com as autoridades do Comitê Olímpico Internacional durante a abertura dos Jogos. Ao seu lado, além de toda a entourage do Executivo, Legislativo e Judiciário, o governo espera reunir até 60 chefes de Estado. Abaixo dele, na tribuna de honra, Dilma deve marcar presença.
Será a maior exposição internacional de Temer – e seu maior teste de popularidade ao vivo. Nem sempre é bom ser titular.
Se Dilma, claro, for, porque tem todas as razões para não ir. Aliás, melhor seria assistir o evento numa fan fest, deixando todas as vaias, apupos e “fora, Temer” para quem lhe usurpou o poder.
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Temer o punhal cego.
Cujo já contém o "o". Cujo impacto.
Jornalistas já mudaram o verbo do Golpe.Agora todos escrevem cono se o golpe fosse se efetivar. Sem se, sem condicional. À direita,e à esquerda. Isso não é bom pois é mantra.
O modo de escrever de acadêmicos .....pulando UBS pedaços do pensamento, confunde o leitor médio e está sendo copiado pelos jornalistas.
" é preciso acabar com Lula". Eles nao avisam que isso é visão de alguem. Acaba sendo uma frase afirmativa comum. Como isso aparece centenas de vezes, acaba reforçando que ....é preciso.
Eu diria que, no plano do imaginário, além da veleidade tola e infantil (isso porque ele tem setenta e tantos anos...) de querer ser reconhecido como alguém importante (e não decorativo), no plano real, seu sonho (e o de seu patético chanceler) é ser apalpado e sodomizado pelo Tio Sam, tal qual Cavallo, que sonhava em ter relações carnais com o Império do IV Reich... Esse cara ainda sairá de Brasília direto para um hospício!
Sim, o Temer é, basicamente, um velho sem vergonha. E uso a palavra velho aqui não de forma pejorativa, mas no sentido de que, com setenta e poucos anos, já devia ter tomado vergonha na cara, mas não tomou. O cara agiu nas sombras a vida inteira, mas se acha merecedor de um papel nas luzes, como alguém significativo. A vida inteira foi político de barganhas obscuras do PMDB, e agora, num período da vida em que se espera que a pessoa tenha aprendido alguma coisa, é essa calamidade que se vê. Dá nojo da falta de pudor, da mediocridade e da desfaçatês desse velho pútrido.
Acho que foi Nelsom Rodrigues que disse: os canalhas também invelêcem
Este foi o vice escolhido pelos petistas!
Lembrando de Ulysses Guimarães, existem os velhos e os velhacos. Temer, bem como Serra e FHC, está na segunda categoria.
Da nojo, repulsa dupla em de pensar que um golpe foi instaurado no Brasil por PLUTOCRATAS E CORRUPTOS e que quem USURPOU o lugar foi um VICE e pior sem legitimidade moral, com uma equipe CORRUPTA , cuja bancada foi que mais "mamou" roubou na governança por 13 anos. Contar esta história sórdida para gerações futuras vai envergonhar e entristecer. Como fomos complacentes.
P o r um momento, dias atrás,cheguei a pensar que os jornalistas da Folha e do Estadao iam se acovardar e se omitir de analisar as invencionices e atitudes do Interino. Que bom que as fichas estão caindo e o golpe começa a ter cara também naqueles que apedrejavam a Presidenta. Viram como não é fácil comandar o pais com os políticos que dispomos? Precisam de agrados o tempo todo, carguinhos, verbinhas e tudo mais. Chantagens e mais chantagens. E o homem só vai cedendo, claro, foi construído por políticos da pior espécie. A mídia não aguentou. Em compensaçao a Globo e a Leitão continuam
as mesmas. Até quando só Deus sabe. Concluindo. Volta querida.
Na verdade o Toledo, no Estadão, e o Bernanrdo Melo Franco, na Folha, sempre foram respeitáveis, mesmo durante a loucura da derrubada da Dilma. Janio de Freitas também, claro. Ilimar Franco no O Globo, a própria Mônica Bergamo na Folha. Existem ilhas de bons profissionais na grande imprensa, embora sejam raros e, de maneira geral, não tenham o mesmo poder de estardalhaço que, em conjunto, têm o direcionamento dado pelos donos das empresas.
Dilma nem deveria ir na abertura das olimpiadas, mas a assessoria dele é tucana e o republicanismo maldito mais uma vez irá afundá-la
Um fato é que o "bando de corja" expressão de Mino, foi o povo que colocou na Câmara.
O baixo e enorme clero devoto de Cunha e seu deus dinheiro, ou os 150 ratos que ele mesmo acusa serem seus, foram votados. Muitos foram votados no Rio um estado crônico de problemas, em que o povo midiota, pobre, ignorante, trabalhador,ao extremo e estressado vota em QQ um. Igual no Brasil todo, incluso Tucanistao.
O crápula que tomou o poder, está longe de ser um inútil completo... além de servir de meu exemplo, ele torna atualíssimo a frase atribuída à Truffaut: "o pessimista é um otimista com experiência". Creio que a chance de seu "governo" ser bom é a mesma de um eunuco sofrer uma crise de priapismo.
Toda vez que vejo este minúsculo homem e o bando de calhordas e fanáticos que infestam seus ministérios e suad secretarias, me recordo do hino "apesar de você", do grande Chico... ainda bem que nós temos o Chico, enquanto eles têm o Lobão
Acho que tanto Lula quanto Dilma não deveriam comparecer à cerimônia da abertura das Olimpíadas de forma a salientar ainda mais a ilegitimidade desses patifes.