Traumann vê fracasso das armas bolsonaristas

Tomas Traumann, em artigo publicado em O Globo –Bolsonaro estaciona no Datafolha e perde a expectativa de vitória – vai ao ponto que tem sido destacado aqui ao analisar os números – A essência do Datafolha: o “Auxílio” falhou – desde o primeiro momento e que tem sido negligenciado na maioria dos comentários políticos sobre as pesquisas. que parecem viver a obsessão do “recorte do recorte” dos números, o que é fundamental para o marketing mas frequentemente desastroso para a análise política.

Depois de uma semana de campanha de rádio e TV, uma entrevista no Jornal Nacional, um debate na TV e R$ 600 depositados nas contas de mais de 20 milhões de famílias cadastradas no Auxílio Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) segue estacionado no mesmo indicador da nova pesquisa Datafolha contratada pela TV Globo e “Folha de S.Paulo”. Com 32%, Bolsonaro segue perdendo para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 45%. A diferença é que já se passaram duas semanas desde a primeira pesquisa Datafolha na campanha e agora só faltam 30 dias até o primeiro turno.(…)
Os governistas supunham que a melhora gradual da avaliação do governo desde maio ajudaria Bolsonaro a crescer. A nova pesquisa, no entanto, mostra que a aprovação e a reprovação ao governo só oscilaram dentro da margem de erro nos últimos 15 dias: 42% ainda acham o governo ruim ou péssimo (eram 43%) e 31% consideram ótimo ou bom (eram 30%). A rejeição de Lula (39%) e de Bolsonaro (52%) também oscilaram na margem de erro.(…)
Sem um crescimento consistente nas pesquisas, Bolsonaro perde o engajamento de seus principais cabos eleitorais, os candidatos a governador, senador e deputados federais e estaduais. A maioria dos candidatos dos partidos da aliança PP, PL e Republicanos é bolsonarista até a página 4, o que significa que farão campanha a favor do presidente se acharem que têm chances de ganhar. Caso contrário, o abandonarão como fizeram em 2018 com Geraldo Alckmin, ironicamente naquela ocasião a favor de Bolsonaro. Sem a expectativa da vitória, Bolsonaro fica sob pressão e cada semana com menos tempo.

A carta que lhe resta para uma ofensiva é o Sete de Setembro, mas mesmo para esta o valor baixou: de “Dia D” para o golpe de Estado, reduziu-se a uma (e só mais uma) concentração de fanáticos e, infelizmente, com grandes possibilidades de que, açulado pelo clima eleitoral, o ato produza fatos e fotos agressivos e, até, violentos.

Pedir votos para Bolsonaro ficará difícil para a imensa máquina de partidos e candidatos, que pode perder o ânimo de juntar-se a quem não tem expectativas de que possa vencer a eleição.

Passada esta última salva da artilharia bolsonarista, espera-se que a campanha de Lula parta a ocupar os espaços à sua frente, com presença de rua que, menos intimidada, a sua militância sempre soube fazer.

Os “recorteiros” de pesquisa talvez desconsiderem que as partes nem sempre permitem entender o todo.

 

 

 

 

Fernando Brito:
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